• Nenhum resultado encontrado

Os bailarinos e bailarinas que protagonizaram os movimentos da dança A escolha do elenco é fator decisivo para um bom espetáculo, pois a

VO BALÉ CLÁSSICO À VANÇA DE HUA !Ê * f

4. Os bailarinos e bailarinas que protagonizaram os movimentos da dança A escolha do elenco é fator decisivo para um bom espetáculo, pois a

presença dos bailarinos caracteriza o fenômeno da dança. Considera-se a bailarina uma instrumentista que usa como instrumento o próprio corpo (Magaldi, 1994, p.24).

Demorei um pouco até encontrar um elenco que estivesse disposto a construir este espetáculo junto comigo. Procurei entre os bailarinos selecionar aqueles que tivessem capacidade interpretativa, muita criatividade, sensibilidade e expressividade corporal para que pudessem fazer emergir matizes ocultas e revelar toda a potencialidade dos seus personagens. Profissionais ou não, protagonistas ou figurantes, queria um elenco para ser o centro e para dar vida e graça ao espetáculo. Escolhi, entre as bailarinas, aquelas que achei que estivessem dispostas a desenvolver uma tentativa de um espetáculo criativo.

Logo após a divulgação do espetáculo, iniciei as entrevistas com as pessoas significativas. No primeiro encontro, apresentava a elas a proposta do estudo e o impresso de consentimento em participar ou não deste. Sete pessoas se propuseram a participar, sendo todas mães dos recém-nascidos. A pessoa significativa, nesta vivência, não necessariamente seria a mãe, mas todas aquelas pessoas que independente dos laços familiares sentem afeto pelo bebê ou expressam algum sentimento de amor e desenvolvem um compromisso com o seu desenvolvimento.

Fiquei muito satisfeita com a receptividade e disponibilidade destas pessoas, pensando na formação de grupo e no desenvolvimento de vivências. Tudo encaminhava-se para uma prática feliz. Eis que, surgem as contingências (inusitadas) do acaso, que pareciam não estar muito a meu favor. Estas armadilhas do acaso iniciaram-se com a desistência das pessoas significativas para o estudo e influenciaram o processo como um todo.

A primeira pessoa significativa que contatei, após 2 dias do início deste trabalho quando já havíamos realizado algumas visitas ao recém-nascido, desistiu, pois o seu filho teve alta da UTI. A segunda, após a entrevista inicial, também teve sua participação cancelada porque o seu recém-nascido foi a óbito. Outra, teve sérios problemas de acuidade visual, sua hipertensão arterial na gestação provocou edema de retina e acabou desistindo. A quarta participante, morava em outro município e em função da distância, não poderia vir todos os dias e achou melhor desistir. Mais duas abandonaram o projeto, pois um recém-nascido foi a óbito e outro recebeu alta da UTI. Assim, apenas uma pessoa significativa conseguiu seguir comigo a trajetória desta vivência.

A princípio isto me angustiou muito, pois tive que abandonar a idéia dos trabalhos em grupo e estava também muito preocupada com a quantidade de participantes desta prática. Uma pessoa significativa apenas, na minha compreensão, era pouco representativa para descrever e garantir a proposta que pretendia elaborar. Foi então que, durante um longo processo reflexivo, consegui entender que este estudo poderia ser analisado qualitativamente: não seria o número de participantes necessariamente o que daria significado a ela. O que poderia fazer a diferença era como seria desenvolvida esta vivência em seus passos, compassos e descompassos, já que a proposta era de compreender as relações de trocas no processo cuidativo entre o recém-nascido - pessoa significativa e enfermeira.

Paris com toda a sua musicalidade, possibilitou que eu conhecesse a sua família, que passou a ser a pessoa significativa desta prática. Conheci sua mãe e pai na UTI, mostravam-se muito carinhosos com a filha, pareciam muito contentes e emocionados com a visita. Fiquei emocionada com o encantamento deles ao ver o recém-nascido. Ao me aproximar deles, foram logo perguntando: quanto mediu e quanto pesou e se podiam tocar na filha... Após as apresentações, falei que gostaria de conversar um pouco mais com eles, se permitissem, em um outro local. O pai disse que precisava ir e a mãe me convidou para que eu a acompanhasse. Foi assim que iniciamos nosso trabalho. Percebi que havia uma importante conexão entre nós. Eles iriam iluminar esta vivência e proporcionaram uma sensação de energia positiva. Escolhi chamá-los pelos nomes fictícios de: María a mãe/pessoa significativa. Frederico o pai/pessoa significativa e a bebê de Paris, como já

mencionei. Estes nomes têm significados que de certa forma estão relacionados com a construção da história desta prática. O nome María tem origem hebraica, significa senhora, soberana, também é o nome da maior Mãe do Cristianismo. Frederico é um nome de origem teutónica, significa dirigente da paz (Nabi, 1994). Como pode ser percebido durante esta narrativa, a escolha destes nomes fictícios pode servir de interpretação para os diferentes significados desta trajetória.

Após ter elaborado este processo, entendi como a presença destas duas pessoas significativas, a mãe e pai de Paris, poderiam caracterizar o fenômeno da dança, e como esta arte poderia adquirir vida cênica e ser animada por este

reduzido elenco. Esta vivência embalada pela musicalidade de Paris, foi

protagonizada pela pessoa significativa, Maria, uma mulher muito especial, 23 anos, empregada doméstica, com o 2° grau completo, mãe pela primeira vez e Frederico, que esteve presente apoiando e participando de todo o processo, ainda que indiretamente. Além destas, também fizeram parte deste processo todas as pessoas que participaram do desenvolvimento desta vivência, ou seja, toda a equipe de saúde que integra o ambiente-cenário e eu. O processo foi desenvolvido durante os 43 dias de internação de Paris na UTI Neonatal.

Paris, esta encantadora criatura, que lutou com todas as suas forças para poder dançar e festejar a sua vida, representou a música da dança; sem a sua existência este espetáculo de dança não teria acontecido. Sem dúvida outro aspecto muito importante que possibilitou o desenvolvimento desta vivência foi o consentimento e interesse da pessoa significativa em participar deste processo (Anexo I). Sem o seu consentimento e receptividade teria sido impossível desenvolvê-la, além da enorme força e coragem de Maria, seu imenso amor, afeto e interesse por Paris, a sua incansável dedicação e o apoio de seu maravilhoso companheiro Frederico.