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Baixa produtividade devido ao acesso limitado a inputs

Capítulo IV Principais problemas do Pequeno Agricultor

4.3. Baixa produtividade devido ao acesso limitado a inputs

A produção agrícola em África, considerando o continente como um todo, sofreu no decurso destas décadas poucas mudanças positivas, enquanto o mesmo setor no resto do mundo assistiu a ganhos produtivos extraordinários.

34 Antes da implementação dos programas neoliberais, muitos países africanos subsidiavam o fornecimento de fertilizantes, garantindo aumentos de produtividade a milhares de pequenos agricultores (Robbins & Ferris, 2003). Estas políticas permitiam- lhes participar nos mercados, obtendo daí rendimentos suplementares para elevar as condições de vida do agregado e estimular a economia através do consumo. Esta estratégia durante anos possibilitou através da aposta na autossuficiência alimentar escapar à insegurança alimentar e pobreza extrema.

Contudo os programas neoliberais restringiram as atribuições do Estado e promoveram uma agricultura virada para exportações. O que levou a que os governos dedicassem a sua terra fértil a culturas para exportação, desviando a produção alimentar para terras marginais de menor produtividade. A breve trecho as mudanças em curso exacerbariam a insegurança alimentar ao nível local e nacional.

As explicações para a baixa produtividade centram-se no limitado uso de inputs (fertilizantes, sementes melhoradas, tecnologias e sistemas de irrigação), na falta de acesso a serviços de apoio agrícola, a empréstimos e seguros, tal como fraco acesso ao mercado e a infraestruturas de armazenamento e distribuição.

O aumento do preço dos fertilizantes constrange seriamente o seu acesso por parte dos camponeses africanos, sendo particularmente prejudicados todos aqueles que se situam nas zonas remotas. Mais ainda, os padrões de consumo deste agricultor atraiçoam-no, tipicamente precisam de poucas quantidades de várias sementes diferentes, contudo para o setor privado este negócio não é lucrativo pelo que se retira, deixando por abastecer o pequeno agricultor (Narayanan & Gulati, 2002). Os mesmos autores destacam ainda que, por alguns pequenos agricultores se encontrarem em zonas remotas, e terem níveis de produção relativamente baixos, o setor privado inibiu-se de lhes comprar a produção pois não era um negócio lucrativo. A título de exemplo, o pequeno agricultor africano continua a usar em média 10 kg de fertilizante por hectare/ano, quando o seu congénere na Ásia dispõe de um consumo médio anual de 150 kg por hectare.

Existe um consenso generalizado que o aumento do consumo de fertilizantes em África pelo pequeno agricultor é essencial para reverter o declínio da produção alimentar. Como tal têm surgido cada vez mais programas Estatais destinados a colmatar as falhas ligadas à fraca distribuição de fertilizantes pelo setor privado (Jama

et al., 2013). No entanto, estes programas têm elevados custos e por isso estão, por

35 representa o fim do programa. Enquanto duram os seus benefícios são amplamente sentidos, melhorando linhas de abastecimento de fertilizantes e aumentando significativamente a produtividade dos agricultores (Jama et al., 2013).

A irrigação continua igualmente em falta no continente. Apenas 4% das terras agrícolas africanas estão irrigadas, sendo este um factor altamente contraproducente quando este território sofre de uma queda de chuva irregular e de secas mais intensas e regulares. A irrigação poderia aumentar as colheitas de algumas culturas entre 100 a 400% (Kariuki, 2011).

O acesso à tecnologia não está igualmente disponível para todos, como se tem vindo a notar existem grandes disparidades neste segmento, em óbvio desfavor do agricultor de pequena dimensão. No entanto algumas inovações tecnologias (sementes melhoradas ou sementes modificadas) como Narayanan e Gulati (2002) fizeram notar, são adotadas com rapidez semelhante tanto pelo pequeno agricultor como pela agricultura de grande escala.

Os mesmos autores Narayanan e Gulati (2002) explicam ainda que o acesso limitado a essas inovações tecnológicas pode dever-se a três fatores: 1) se as tecnologias estão disponíveis para culturas do interesse do pequeno agricultor; 2) reduzida intervenção do governo em disseminar a tecnologia; 3) falta de capacidade financeira dos pequenos produtores para as adquirir.

A ausência de fatores produtivos e da capacidade em colocar os produtos no mercado conduz a que o pequeno agricultor reverta para uma produção de subsistência. Resultando num sucessivo abandono da agricultura comercial, o que se reflete depois em menores rendimentos. Os níveis de produtividade baixam substancialmente, impossibilitando a autossuficiência do agregado.

A falta de acesso a empréstimos e seguros muito contribuiu também para a baixa produtividade verificada no continente. Existe um crescente consenso que os constrangimentos no acesso a linhas de financiamento são a base para a fraca resposta do pequeno agricultor ao processo de liberalização (Narayanan & Gulati, 2002; Dercon 2009). A ausência de investimento limita as oportunidades de crescimento dos agricultores de pequena escala, levando-os a disporem de um

portfólio de investimentos menos lucrativos (Dercon, 2009). Por outro lado as

estratégias de gestão de risco envolvem a participação em atividades menos lucrativas onde o risco é menor (Dercon, 2009).

36 Como resultado estas estratégias implicam uma substancial perda para os mais pobres, que devido às falhas de mercado se vêm forçados a abdicarem de uma carteira de investimentos em negócios e oportunidades mais lucrativas. Desta maneira, para garantirem o retorno do seu investimento cingem-se a atividades de menor risco e rendimento. Esta situação configura algumas das razões que conduzem os pequenos agricultores a serem mais avessos ao risco e a comprometerem-se fortemente com a atividade agrícola de subsistência (Dercon, 2009).

Paralelamente a epidemia do Vírus da Sida, as catástrofes naturais e as frequentes guerras civis também contribuíram para debilitar a capacidade de produção e produtividade. Pesa ainda negativamente, os fracos investimentos no setor agrícola por parte dos governos africanos, e ainda as suas práticas corruptas as quais funcionam como um travão ao investimento (Jayne et al., 2005). Os fatores acima comentados geradores da estagnação agrícola, culminaram no êxodo rural do camponês africano para as cidades contribuindo para um excesso de população nestas, o qual insuflou os problemas sociais existentes.