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Baixos Salários e as Características dos Trabalhadores

3.2 A Incidência e a Distribuição dos Baixos Salários

3.2.1 Baixos Salários e as Características dos Trabalhadores

Os valores incluídos na Tabela 3.1 revelam que 14.1% e 14.4% dos trabalhadores caíam na situação de baixos salários em 2002 e 2008, respectivamente. Contudo, como se pode ainda verificar, a incidência de baixos salários difere substancialmente com as características dos trabalhadores. De facto, atendendo aos modelos teóricos assim como à literatura empírica sobre a determinação salarial, parece razoável pressupor que as situações de baixos salários estejam, até certo ponto, associadas características do trabalhador. Esta ideia é, aliás confirmada, pela revisão da literatura apresentada no Capítulo 2.

De acordo com a teoria do capital humano, indivíduos com menos educação, menos experiência, ou até menos dotados em termos de características produtivas não observadas pelo investigador (habilidades), são menos produtivos e, consequentemente, recebem um salário inferior (Mincer, 1958, 1974, e Becker, 1975). Assim sendo, é de

|29 esperar uma maior incidência, ou um maior risco, de baixos salários entre os trabalhadores com menores níveis daqueles atributos individuais.

A proporção de trabalhadores de baixos salários decresce com o nível de educação, com a idade e com a antiguidade na empresa. Por outro lado, a incidência de baixos salários é superior entre as mulheres e os estrangeiros (imigrantes) provenientes de algumas zonas do globo, particularmente África, Ásia, Europa de Leste e América do Sul. Em 2002, apenas 7.6% dos trabalhadores detentores de ensino secundário e 1.7% dos detentores de um curso superior eram trabalhadores de baixos salários. Para estes dois grupos, os valores eram, em 2008, de 8.7% e 1.7%, respectivamente. Contudo, para os trabalhadores com um nível de escolaridade igual ou inferior ao primeiro ciclo do ensino básico, as percentagens de incidência de baixos salários ascendiam a 17.8% em 2002 e 22.1% em 2008. Para os detentores do segundo ciclo do ensino básico os valores eram de 18.6% e 19.6% em 2002 e 2008, respectivamente.

A proporção de trabalhadores de baixos salários decresce com a idade, a qual é, por vezes, utilizada na literatura do capital humano como uma proxy da experiência do trabalhador. Com a idade, o trabalhador pode também, através da mudança de emprego dentro ou fora da empresa, melhorar o emparelhamento entre as suas características e as características do emprego e consequentemente aumentar a produtividade e o salário. Como se pode verificar, a proporção de trabalhadores de baixos salários é superior entre os trabalhadores jovens (com menos de 25 anos).

Importa contudo realçar, mesmo assim, a existência de uma proporção significativa de trabalhadores com baixos salários nos outros grupos etários. Tal situação sugere que os baixos salários não são se resumem, muito provavelmente, a uma situação temporária e enfrentada apenas pelos jovens aquando da entrada no mundo laboral.

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Tabela 3.1 - Incidência de Baixos Salários Segundo as Características dos

Trabalhadores (%)

2002 2008

Incidência Inc. Relativa Incidência Inc. Relativa ≤ Primeiro Ciclo do Ensino Básico 17.8 1.3 22.1 1.5 Segundo Ciclo do Ensino Básico 18.6 1.3 19.6 1.4 Terceiro Ciclo do Ensino Básico 13.6 1.0 15.3 1.1

Ensino Secundário 7.6 0.5 8.7 0.6 Ensino Superior 1.7 0.1 1.7 0.1 Idade < 25 anos 24.4 1.7 22.6 1.6 Idade = 25 – 34 anos 13.4 1.0 12.6 0.9 Idade = 35 – 44 anos 12.4 0.9 13.7 1.0 Idade = 45 – 54 anos 10.6 0.8 14.0 1.0 Idade ≥ 55 anos 12.0 0.9 14.4 1.0 Antiguidade < 1 ano 20.3 1.4 19.7 1.4 Antiguidade = 1 – 4 anos 16.5 1.2 16.7 1.2 Antiguidade = 5 – 9 anos 12.3 0.9 12.8 0.9 Antiguidade = 10 – 14 anos 9.0 0.6 10.1 0.7 Antiguidade = 15 – 19 anos 6.8 0.5 8.4 0.6 Antiguidade ≥ 20 anos 5.7 0.4 5.8 0.4 Mulheres 20.8 1.5 20.8 1.4 Homens 9.0 0.6 9.3 0.6 Portugal 13.9 1.0 13.9 1.0 África 14.2 1.0 25.3 1.8 Europa de Leste 19.0 1.3 18.2 1.3

Outros Países da Europa 13.1 0.9 13.1 0.9

Ásia 43.8 3.1 46.3 3.2

América do Sul 17.4 1.2 25.8 1.8

Outros Países 8.7 0.6 11.2 0.8

Total 14.1 1.0 14.4 1.0

Obs. Cálculos efectuados com base nos Quadros de Pessoal 2002 e 2008. A incidência corresponde à

percentagem de trabalhadores de baixos salários dentro cada uma das categorias. A incidência relativa, indica a incidência de baixos salários dentro de cada categoria relativamente à incidência total.

A incidência de baixos salários é mais elevada nos grupos de trabalhadores com menos anos de antiguidade na empresa. O baixo nível de capital humano específico da empresa pode, numa fase inicial, contribuir para a situação de baixos salários (Becker, 1975). Outra explicação alternativa é a implementação de sistemas de incentivos ao nível da

|31 empresa baseados em pagamentos diferidos (veja-se Lazear, 1979 e 1981, Hutchens, 1986 e 1987, e Sessions e Theodoropoulos, 2008).

Os dados indicam ainda, tal como acontece noutros países, que a proporção de trabalhadores de baixos salários é maior entre as mulheres do que entre os homens (veja-se, para uma comparação com outros países, Richardson e Miller-Lewis, 2002). Para este facto pode contribuir a existência de práticas de discriminação no mercado de trabalho largamente apontadas na literatura (Oaxaca, 1973, Blinder, 1973, Becker, 1975, Kidd e Shannon, 1996, Vieira et al., 2005).

A incidência de baixos salários tende a ser mais elevada entre os nativos de outros países (imigrantes) do que entre os portugueses, particularmente entre os africanos, sul- americanos, asiáticos e os provenientes da Europa de Leste. A existência de fenómenos de discriminação ou, nalguns casos, a falta, numa fase inicial, de capital humano associados aos baixos conhecimentos linguísticos, assim como a incipiente informação sobre o mercado de trabalho do país de destino, pode contribuir para esta situação (veja- se Richardon e Miller-Lewis, 2002).

A Tabela 3.2 mostra a distribuição dos trabalhadores de baixos salários segundo as características dos mesmos. Embora a participação das mulheres no mercado de trabalho seja inferior à dos homens, aquelas representam 63.3% dos trabalhadores de baixos salários em 2002 e 64.7% em 2008. Apesar de os estrangeiros terem maior probabilidade de se encontrar numa situação de baixo salário, quando comparados com os portugueses, os mesmos representam, devido à sua baixa expressão no mercado de trabalho, apenas 4.6% e 9% dos trabalhadores de baixos salários em 2002 e 2008, respectivamente.

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Tabela 3.2 - Distribuição dos Trabalhadores de Baixos Salários Segundo as

Características dos Trabalhadores (%)

2002 2008

≤ Primeiro Ciclo do Ensino Básico 41.3 33.6

Segundo Ciclo do Ensino Básico 29.9 26.8

Terceiro Ciclo do Ensino Básico 18.1 24.9

Ensino Secundário 9.6 13.1 Ensino Superior 1.1 1.7 Idade < 25 anos 24.3 16.8 Idade = 25 – 34 anos 32.1 28.0 Idade = 35 – 44 anos 23.2 27.0 Idade = 45 – 54 anos 13.6 19.2 Idade ≥ 55 anos 6.6 9.1 Antiguidade < 1 ano 26.6 31.2 Antiguidade = 1 – 4 anos 45.4 36.7 Antiguidade = 5 – 9 anos 13.8 17.8 Antiguidade = 10 – 14 anos 7.5 6.8 Antiguidade = 15 – 19 anos 2.3 4.1 Antiguidade ≥ 20 anos 4.4 3.4 Mulheres 63.3 64.7 Homens 36.7 35.3 Portugueses 95.4 91.0 Estrangeiros 4.6 9.0

Obs. Cálculos efectuados com base nos Quadros de Pessoal 2002 e 2008.

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