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5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.6 Balanço de sedimentos no Holoceno

A quantificação do aporte de sedimentos fluviais para todas as BHs que deságuam na linha de costa do Estado da Bahia foi de 62 x109 t estimadas para os últimos 8 mil anos. Os depósitos arenosos holocênicos (admitindo que tenham sido depositados a partir de 8 mil anos até o presente), convertidos em massa resultou num total de 68 x109 t estimados para a zona costeira da Bahia. A tabela 28 apresenta os valores totais e individualizados de acordo com a compartimentação da zona costeira sugerida por Dominguez & Bittencourt (2012). A figura 27 apresenta um gráfico comparativo desses valores. Apesar da equivalência em ordem de grandeza para as duas estimativas, sugerindo uma importante contribuição dos sedimentos fluviais no desenvolvimento das planícies e depósitos holocênicos, observa-se que 85% do total de sedimentos fluviais aportados seriam provenientes dos rios que deságuam na costa deltaica, com o rio Jequitinhonha contribuindo em 80%. A figura 28 apresenta um mapa síntese para toda a área de estudo.

Partindo do pressuposto que existem duas fontes de sedimentos, uma oriunda do aporte fluvial das BHs em análise, e outra, proveniente dos sedimentos transportados da deriva litorânea de outros estados, e eventualmente, sedimentos erodidos da linha de costa (também levando em conta a deriva litorânea como agente efetivo de distribuição desse sedimento na linha de costa), pode-se fazer algumas considerações:

Costa do Litoral Norte: Este segmento se estende desde a cidade de Salvador até a divisa com o Estado de Sergipe (Mangue Seco). Foi estimada para esta área uma contribuição de sedimentos fluviais de ~2 x109 t e ~8 x109 t de sedimentos holocênicos depositados, para os últimos 8 mil anos (Figura 29). Este resultado demonstra uma coerência com a fisiografia desta região. Apresenta pequenas bacias hidrográficas, sendo a bacia do Rio Itapicuru a mais expressiva em

área, porém com grande parte de sua bacia dentro da região semi-árida. A orientação da linha de costa é de NE-SW. A deriva litorânea efetiva entre Sergipe e Mangue Seco é de NE-SW, entre Mangue Seco e Barra do rio Itariri é de SW-NE e entre a Barra do Itariri e Salvador é de NE-SW (Bittencourt et al.2000). Areias de tamanho médio predominam ao longo da face da praia. Areias grossas estão presente próximo às desembocaduras fluviais e areia fina no extremo norte deste trecho da costa (Dominguez et al. 2016). O sentido da deriva litorânea sugere que sedimentos oriundos de Sergipe podem alimentar a porção norte da Costa do Litoral Norte, na região de Mangue Seco. Nem todo o sedimento aportado pelo rio Itapicuru é transportado para norte, pois, devido à sazonalidade nas frentes de ondas, pelo menos no verão, quando predominam ondas de E e NE, a deriva entre Mangue Seco e Barra do Itariri se inverte adquirindo sentindo NE-SW.

Apesar da existência de depósitos praiais holocênicos (Dominguez & Bittencourt 2012), não houve uma progradação significativa da linha de costa, o que é corroborada pela presença de arenitos, recifes e afloramentos do embasamento cristalino (Dominguez et al. 2009, Dominguez et al. 2016). Os sedimentos da Costa do Litoral Norte não alcançam a Costa dos Riftes Mesozoicos, e terminam capturados no banco Santo Antônio, na saída da BTS, pelo efeito das correntes de maré.

Costa dos Riftes Mesozoicos: Este segmento se estende desde a cidade de Salvador até a cidade de Ilhéus e é caracterizado pela presença das bacias sedimentares do Recôncavo, Camamu e Almada. Foi estimada para esta área uma contribuição de sedimentos fluviais de ~2 x109 t e ~24 x109 t de sedimentos holocênicos depositados, para os últimos 8 mil anos (Figura 30). Este resultado demonstra a inexpressiva contribuição fluvial em relação à oferta de espaço de acomodação desses ambientes, observado pela ocorrência das baías e estuários. Além da proveniência dos rios locais eventualmente algum sedimento que alcançaria a Costa dos Riftes poderiam ser provenientes da Costa Deltaica do Jequitinhonha, tendo em vista a deriva efetiva de sentido SE-NE, em todo o trecho desde a foz do rio Jequitinhonha até Barra Grande.

Admite-se que a estimativa de sedimentos holocênicos depositados pode estar significativamente superestimada. Isso se deve por dois motivos. Em primeiro lugar, porque possíveis áreas de substratos rochosos e áreas de fundo lamoso e biogênico podem ter sido incluídas no cálculo desse trabalho. Em segundo lugar,

porque se inferiu que o pacote arenoso depositado nesta região tem a mesma espessura que nos outros trechos costeiros, o que pode estar errado, tendo em vista que, pelo fato da costa ser mais protegida, o nível de base das ondas é menor para este trecho, o que resultaria em um pacote sedimentar arenoso menos espesso.

Costa Deltaica do Jequitinhonha: Este segmento se estende desde a cidade de Ilhéus até a localidade de Santo André. Foi estimada para esta área uma contribuição de sedimentos fluviais de ~53 x109 t e ~11 x109 t de sedimentos holocênicos depositados, para os últimos 8 mil anos (Figura 31). Este resultado sugere a expressiva contribuição fluvial do rio Jequitinhonha. Esse compartimento constitui um delta dominado por ondas, formando dois arcos de praia de areia fina a média, interrompidos por pequenas desembocaduras fluviais e canais de maré (Dominguez 1983, 1987). É possível que o aporte sedimentar do rio Jequitinhonha alimente outros segmentos da costa baiana em especial a Costa dos Riftes Mesozoicos.

Importante ressaltar que o aporte de sedimentos fluviais foi calculado utilizando o uso do solo atual e, portanto, pode estar superestimado, uma vez que este dado foi extrapolado para os últimos 8 mil anos. Bernal (2009) estimou a produção de sedimentos dessa bacia para um cenário de vegetação original e constatou que neste caso a produção de sedimento foi menor do que sob um cenário de uso do solo atual (16,5 x 106 t/ano de perda de solos), aproximadamente 13 vezes menor do que a perda de solos estimada neste estudo. Embora este aspecto constitua uma limitação para a realização do balanço de sedimento, caso tivéssemos optado pela realização de uma modelagem para o cenário de vegetação original, outras limitações teriam sido introduzidas, como por exemplo, mudanças climáticas e medições hidrológicas que continuariam restritas às últimas dezenas de anos.

Se de fato o aporte de sedimentos fluviais para este trecho for menor que o estimado, a diferença entre o aporte fluvial e o pacote de sedimentos depositado é bem menor do que o apresentado, como menor também o excedente disponibilizado para outros segmentos da linha de costa baiana.

Costa Faminta do Sul da Bahia: Este segmento se estende desde a localidade de Santo André até a divisa com o Estado do Espírito Santo. Foi estimada para esta área uma contribuição de sedimentos fluviais de ~4,5 x109 t e de sedimentos holocênicos depositados de ~23 x109 t para os últimos 8 mil anos

(Figura 32). Tal como ocorre na Costa dos Riftes Mesozoicos, a altura das ondas que chegam à linha de costa neste segmento é mais baixa; em função da proteção exercida pelas formações recifais. Desta forma, o volume do depósito calculado para a planície pode estar superestimado, uma vez que se considerou um pacote com 10m de espessura, típico de ambientes expostos a uma maior energia de ondas.

Este segmento apresenta a maior expressão dos tabuleiros costeiros da Formação Barreiras na forma de falésias ativas na linha de costa do leste do Brasil (Dominguez & Bittencourt 2012). Esta característica, bem como os resultados deste estudo que apontam que o aporte fluvial é muito menor que os depósitos da planície, demonstram ser realmente esta uma costa faminta, com acúmulo significativo de sedimentos apenas na Planície de Caravelas e na Ponta do Corumbaú, posicionadas na retaguarda dos recifes de corais de Abrolhos e dos Itacolomis, respectivamente. Nos dois casos esse acúmulo é proporcionado, não pela presença de um rio e sim pela proteção dos recifes de corais que proporcionam uma deriva litorânea convergente para essas regiões (Bittencourt et al. 2000). No restante da linha de costa muito pouco sedimento foi acumulado o que se evidencia pela presença dos recifes de corais, como já observado por Bittencourt et al. (2008).

Desta forma, as falésias são uma importante fonte de sedimentos nesse segmento da linha costa, sendo mais importante do que a contribuição fluvial. Considerando a existência do maior complexo recifal do Brasil nesta região, acreditamos que o aporte sedimentar proveniente do Espírito Santo seja insignificante; portanto, podemos considerar de forma simplificada que os sedimentos fornecidos pelas falésias equivalem ao sedimento total depositado na planície descontado dos sedimentos trazidos pelos rios, o que equivale a 18,6 x 109 toneladas.

Tabela 28 – Estimativa dos depósitos arenosos holocênicos para os quatro compartimentos principais da costa da Bahia.

Rio Contribuição fluvial

8 mil anos AP (t) Costas Contribuição fluvial para a costa (t) Sedimentos holocênicos depositados

1.Itapicuru 2.502.555.655 Litoral Norte 2.502.555.655 8.749.372.500 2.Jacuipe 108.047.532 Riftes Mesozoicos 2.092.911.963 24.937.162.500 3.Paraguaçu 476.050.696 4.Jequiriça 255.503.174 5.Contas 1.253.310.560 6.Cachoeira 1.737.050.417 Costa Deltaica 53.319.662.329 11.805.829.500 7.Pardo 1.262.029.147 8.Jequitinhonha 50.320.582.766

9.Alcobaça 2.918.816.623 Costa Faminta 4.557.901.554 23.148.174.000 10.Mucuri 1.639.084.931

Total do aporte 62.473.031.501 62.473.031.501 68.640.538.500

Figura 27 – Comparação entre as estimativas de aporte fluvial e depósitos holocênicos para os últimos 8 mil anos.

0,00 10.000.000.000,00 20.000.000.000,00 30.000.000.000,00 40.000.000.000,00 50.000.000.000,00 60.000.000.000,00

Litoral Norte Riftes

Mesozóicos Costa Deltaica Costa Faminta Se d im e n to s aren o so s h o lo n ic o s (t )

Compartimentação da Costa do Estado do Bahia

Dep Fluvial Dep holoc

É importante salientar que a quantificação dos depósitos holocênicos emersos e submersos representa uma interpretação de primeira ordem, possuindo desta forma uma série de incertezas. Possivelmente as áreas delimitadas por este estudo podem estar superestimadas devido à escala de pouco detalhe do mapeamento geológico para as áreas emersas; bem como, para as áreas submersas, no que diz respeito aos fundos lamosos, biogênicos e áreas de recifes, arenitos e terraços que podem estar subestimados. Como já comentado há um erro também associado às diferentes bases de ondas que não foram consideradas neste trabalho para a estimativa da espessura do pacote sedimentar.

Da mesma forma, a inferência que os sedimentos arenosos começaram a se acumular a partir de 8 mil anos é uma simplificação e se baseia no pressuposto que o nível do mar eustático se estabilizou por volta desta época, favorecendo o desenvolvimento das planícies costeiras holocênicas.

Além disso, variações dos parâmetros ambientais ao longo do tempo não foram consideradas neste trabalho, tais como, mudanças climáticas, de uso do solo etc. Devido a todas essas limitações, o balanço de sedimento apresentado neste

trabalho representa uma aproximação qualitativa merecedora de um

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