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CAPÍTULO IV. Reflexões e considerações finais

4.1. Balanço do percurso de estágio

Chegado a esta etapa do presente trabalho, é altura de tecer algumas considerações e reflexões que, quanto a mim são cruciais.

Ao longo do presente relatório tive como intento refletir de forma fundamentada sobre aquilo que foi a minha experiência enquanto estagiário na Escola E. B. 2,3 Pêro Vaz de Caminha. É uma escola TEIP e neste sentido lida de perto com diversos problemas socioeducativos tais como a retenção, o absentismo e abandono escolar. Assim sendo, é principal finalidade da escola promover o sucesso educativo, contribuir para o bem-estar e fomentar o equilíbrio emocional e comportamental dos/as seus/as alunos/as para, deste modo, combater as problemáticas com que a escola se depara.

Espero que este trabalho possa servir como um meio para dar conta de algumas das valências que um/a licenciado/a em Ciências da Educação pode assumir, bem como de diversas tarefas que possui capacidade de desempenhar.

A meu ver, a temática do bullying, apesar de estar bastante em voga, muito por influência dos meios de comunicação social, a realidade é que existe uma tendência de generalização da violência escolar enquadrando-a nos termos do bullying. Na verdade, o bullying escolar é um tipo particular de violência e possui critérios bastante concretos e específicos (Seixas, 2006; Matos et al, 2009; Carvalhosa, 2010), tornando a sua definição bastante clara e inequívoca. Assim, podemos dizer que estamos perante uma situação de bullying escolar entre pares quando um indivíduo – o/a agressor/a – ou um grupo, é autor de comportamentos agressivos, intencionais e sistemáticos (que podem ser físicos, verbais, psicológicos ou sociais) dirigidos a um outro indivíduo – a vítima – ou um grupo, num contexto muito específico – a escola (idem).

No que diz respeito ao período de estágio, ao longo destes cinco meses, para além das coisas que correram bem (felizmente a maioria), naturalmente deparei-me com algumas preocupações, constrangimentos, dificuldades e obstáculos com os quais tive que lidar.

Uma delas prendeu-se, por exemplo, com o tempo de espera entre o momento em que entreguei os pedidos de autorização aos/às estudantes para poderem obter permissão por parte dos/as encarregados/as de educação para participarem no preenchimento dos questionários e o momento de os trazerem devidamente assinados. Porém, é um procedimento ético e legal a ser levado em consideração e a ser respeitado. Assim, estes tempos de alguma demora, desde a conceção das ações até à sua

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implementação, confesso que, inicialmente me provocaram um certo desconforto e agitação.

Outra situação que me provocou alguns momentos de preocupação, nervosismo e ansiedade assentou, precisamente na perceção do volume de trabalho que tinha pela frente tendo em consideração o tempo que me restava para o realizar. Isto é, talvez pelo facto de, logo desde o início do estágio já ter uma planificação de todas as fases pelo qual ele iria passar, apoderou-se de mim este sentimento de alguma inquietação, exatamente por já ter a perceção das tarefas que iria desenvolver e o tempo que teria disponível para as concretizar. Assim, para atenuar estes sentimentos menos bons, muito importantes foram as palavras transmitidas pelo meu orientador, o Prof. Tiago Neves, que me foram tranquilizando.

Nos momentos iniciais, a não adesão dos/as jovens constituiu também um dos obstáculos que se atravessaram no meu percurso. Naturalmente, a participação é um elemento central neste tipo de trabalho e confere algum sentido ao trabalho por mim desenvolvido. Durante alguns períodos de tempo, verificava que não existia a adesão desejada aos serviços que tinham sido criados, como a caixa do “Serviço de Denúncias” e o Gabinete de Aconselhamento de Bullying, o que me provocava sentimentos de frustração e desmotivação. Mas nesses momentos pude sempre contar com o apoio da minha supervisora local (Dr.ª Cristina Silva), que com toda a sua vasta experiência com o público juvenil me ia dando alguns conselhos, dizendo que com o tempo essas dificuldades iam, com certeza, ser superadas (o acabou por se confirmar).

Ainda na listagem das dificuldades e obstáculos sentidos no âmbito das atividades de estágio, encontra-se a tensão entre proximidade e distância. Ou seja, à medida que a minha relação ia evoluindo com as crianças e jovens, outros problemas se colocavam, nomeadamente, a questão da autoridade e da implicação, especialmente esta última que me colocava sempre a pensar na minha forma de me comportar e agir em determinados momentos. Tal como já mencionei anteriormente, os contornos que a relação estabelecida entre mim e os/as estudantes assumia, naturalmente era diferente daquela que é estabelecida entre aluno/a-professor/a. Todavia, a questão da autoridade é bastante importante num contexto como uma escola, pois a minha função era também a de zelar pelo bom funcionamento e pela tranquilidade da instituição. Se por um lado foi importante estabelecer uma relação de confiança com crianças e jovens, por outro, era fundamental que estes/as não confundissem o meu papel, embora eu fosse segundo

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eles/as um “porreiro”, um “fixe”, era antes de mais e acima de tudo um profissional que eles deveriam respeitar.

Contudo, apesar deste elencar de constrangimentos e contrariedades, este foi igualmente um período no qual obtive grandes aprendizagens e desenvolvi e adquiri outras tantas competências em contexto profissional e que podem representar algumas das valências de um/a licenciado/a em Ciências da Educação. Refiro-me assim ao processo complexo que é a preparação, organização, estruturação, implementação e dinamização de atividades, nomeadamente a ação de (in)formação e sensibilização para os/as funcionários/as.

Outra das valências que um/a profissional das Ciências da Educação possui, e que a coloquei em prática durante este período de estágio, prende-se precisamente com a conceção, implementação, monitorização e avaliação de projetos socioeducativos (apesar de só ser concluído os três primeiros passos devido aos constrangimentos, nomeadamente ao nível do tempo de duração do estágio). Quero com isto dizer que, no que diz respeito à prática avaliativa, não foi possível realizar a avaliação em todos os momentos do projeto de intervenção.

Assim, relativamente ao “tempo de vida” do projeto, apenas foi possível, neste período de estágio, realizar uma avaliação ex-ante, designadamente na avaliação de diagnóstico onde foi descrito um ponto de situação acerca das taxas de bullying entre pares existentes na escola (e foram identificadas as necessidades dos/as beneficiários/as e os recursos existentes no contexto) para de seguida proceder à planificação de uma intervenção. Foi realizada também uma avaliação formativa e ex-post das ações levadas a cabo (e que foram apresentadas, discutidas e analisadas ao longo dos pontos anteriores). A primeira ocorreu durante o desenrolar das atividades desenvolvidas com o intuito de refletir sobre a minha ação e melhorar a minha prática, uma vez que nem sempre as coisas correram do modo previsto e, assim tive necessidade de fazer ligeiros ajustes para que os objetivos que foram propostos pudessem ser alcançados. A segunda foi aplicada no final de cada uma das atividades desenvolvidas, após a sua conclusão com o intuito de perceber se produziram os resultados esperados (Monteiro, 2000).

Todavia, devido a impedimentos temporais (e porque os projetos socioeducativos necessitam de um tempo de vida alargado para que seja possível fazer uma análise às transformações ocorridas), não foi possível realizar a avaliação retrospetiva do projeto em si, numa visão mais alargada, no sentido de verificar se o objetivo geral a que o mesmo se propôs (erradicar ou diminuir os índices de bullying

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entre pares) foi atingido. Apesar de em conversas informais com os/as estudantes, no Gabinete de Apoio ao Aluno, me dizerem que consideravam que os índices do fenómeno na escola tinham reduzido, a verdade é que, tal como já referi, devido a impedimentos temporais do próprio estágio (uma vez que este trabalho de avaliação exigiria com certeza mais disponibilidade a nível de tempo e recursos, o que implicaria uma estadia mais longa no contexto), foi impossível quantificar com resultados consistentes tal facto.

4.2. Contributo do estágio para a construção da profissionalidade em

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