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2.8 Balanço Social

2.8.1 Balanço Social: uma prestação de contas à sociedade

O Balanço Social é o instrumento oficial utilizado pelas empresas para informar o

que estas realizaram em prol do cumprimento das responsabilidades sociais com as

quais se comprometeram, por meio de demonstrações de caráter econômico,

financeiro e social. Pesquisas referem à Alemanha como a precursora, na década de

20, de documento informativo que seria o equivalente ao atual Balanço Social,

outras porém, citam os Estados Unidos o responsável pela sua criação. É inegável

que a França foi também pioneira. Já em 1977, esta prática foi regulamentada pela

Lei nº 77.769 du 12 juillet 1977 relative au bilan social de l´entreprise, a qual tem

por objetivo informações relativas ao domínio de recursos humanos.

Em Portugal, inicialmente, o Balanço Social foi elaborado pela iniciativa privada

por empresas com no mínimo 100 funcionários no ano civil, evoluindo

posteriormente por meio de Decreto-Lei de número 190/96, de 09 de outubro de

1996, que obriga a todos os serviços e organismos da administração pública central,

regional e local, que no ano civil empreguem pelo menos 50 trabalhadores,

independente da forma jurídica estabelecida na sua relação de emprego e renda. Por

outro lado, a elaboração e divulgação do Balanço Social não são obrigatórias na

Espanha. Além disso, algumas empresas o divulgam, pois percebem que esta prática

eleva os padrões de poder corporativo dela junto aos seus stakeholders, acionistas,

trabalhadores, sindicatos, formadores de opinião e a sociedade como um todo

De Luca (1998) cita que o uso do Balanço Social é mais difundido nos países onde o

desenvolvimento sócio-econômico está mais desenvolvido. E, esta é uma realidade

que verificamos nos dias de hoje, conforme mostra o quadro abaixo, as formas e os

enfoques variam de acordo com a realidade de cada país.

Quadro 1- Enfoque de apresentação do Balanço Social

Países

Áreas de destaque no Balanço Social:

Brasil

Princípios e normas de conduta, transparência

para a sociedade, inclusão social , relações de

emprego justas, cuidados com o meio ambiente.

Estados Unidos

Consumidores/clientes e a sociedade em geral;

qualidade dos produtos, controle de poluição,

contribuição da empresa às obras culturais,

transportes coletivos e outros benefícios à

coletividade; abordagem de caráter ambiental.

Holanda

Informações relativas as condições de trabalho.

Suécia

Informações aos empregados.

Alemanha

Para as condições de trabalho e aspectos

ambientais.

Inglaterra

Forte discussão sobre responsabilidade social e

grandes pressões para divulgação mais ampla

dos relatórios sociais.

França

Informações aos empregados; nível de emprego,

salário, condições de trabalho e formação

profissional.

Em 1974, o tema Balanço Social foi debatido pela primeira vez em nosso país,

quando a Associação dos Dirigentes Cristãos de Empresas

– ADCE criou o

“Decálogo do Empresário Cristão”, cujos princípios prevêem que a empresa tenha

uma função social. Apenas em 1977, a ADCE iniciou estudos a respeito de modelos

de Balanço Social, que não se tornaram eficazes, tendo em vista que foram

necessários mais sete anos para a publicação do primeiro Balanço Social de uma

empresa instalada em nossas terras, o balanço da empresa Nitrofértil S.A.

Em 1986, o mesmo modelo de Balanço Social foi utilizado pelo Comitê de

Divulgação do Mercado de Capitais – CODIMEC. Em 1991, a empresa Telebrás

publica a primeira Demonstração do Valor Adicionado. Em 1992, é a vez da

Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos – CMTC e do Banespa, ambos

extintos, também publicarem suas primeiras Demonstrações do Valor Adicionado.

Após estas publicações iniciais, o tema volta a ser debatido por iniciativa do

Instituto Brasileiro de Análises Sociais e Econômicas - IBASE, pelo seu então

presidente, o sociólogo Herbert de Souza, que conforme é citado por Mendes (1998)

“deu nova força ao debate em torno do tema do Balanço Social”.

Todo este contexto criou o projeto de lei nº 3116/97, de autoria das ex-deputadas

Marta Suplicy, Sandra Starling e Maria da Conceição Tavares

2

, que tinha por

objetivo impor às empresas a publicação do seu Balanço Social. De acordo com este

projeto de lei, que foi arquivado, o Balanço Social deveria conter dados sobre

faturamento, empregados (quantidade, remuneração, sexo, faixa etária etc.),

encargos sociais e tributos pagos, investimento em segurança, em meio ambiente,

em benefícios à comunidade externa à empresa, etc.

A imposição da apresentação é o ponto primordial do debate entre as entidades

envolvidas no processo de divulgação e estudo sobre o Balanço Social. Em 1997, a

2

Este projeto de lei não foi aprovado, porque nenhuma das 3 deputadas continuou na Câmara e ele não

chegou a tramitar e pelo Art. 105 da Câmara se ele não tramitar e não houver quem dê prosseguimento a

Comissão de Valores Mobiliários - CVM, pôs em discussão a implementação do

Balanço Social e sua obrigatoriedade em audiência pública, a fim de obter

elementos para oficializar sua posição sobre o assunto. Entretanto trata-se de um

tema polêmico e de difícil consenso. Silva (1998) cita alguns trechos da carta

enviada a CVM pela ABRASCA – Associação Brasileira das Empresas de Capital

Aberto, com o resultado desta audiência:

“[...] A regulamentação do Balanço Social, qualquer que seja ela,

é uma posição retrógrada em relação à liberdade que as empresas

devem ter para apresentar ou não, de maneira explícita, sua

contribuição social [...] A par das desvantagens decorrentes do

Custo Brasil, entre os quais destacam-se os enormes encargos

sobre a mão-de-obra, o Balanço Social compulsório seria um fator

a mais de desigualdade contra as Companhias Abertas, se só elas

forem obrigadas a elaborá-lo, ou para todas as empresas

brasileiras, caso a obrigatoriedade seja geral, tanto pelos custos

de sua elaboração como pela revelação unilateral de informações

estratégicas.”

Segundo Perottoni (1998), a obrigatoriedade da publicação das ações sociais das

empresas ofende o princípio fundamental do espírito liberal que regula as relações

sociais. Perottoni menciona que o Brasil poderia seguir os modelos utilizados pelos

Estados Unidos, Alemanha, Holanda, Inglaterra e Bélgica, onde não existe

obrigatoriedade para apresentação do Balanço Social, mas sim a publicação como

parte integrante do processo estratégico das organizações, que ao fazerem a

publicação de suas ações sociais expõem para a sociedade todo o impacto positivo e

negativo que causam através de seus negócios, demonstrando no mínimo,

responsabilidade.

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