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2 EDUCAÇÃO E LINGUAGEM: A ESCOLA COMO ESPAÇO DE

3.3 ESTADO DA ARTE DAS HQ NA PERSPECTIVA DA ESCOLA

3.3.1 Banco de dados da CAPES

Conforme Gráfico 4, podemos visualizar o número de publicações no Banco de Dissertações e Teses da CAPES, nos últimos nove anos, de acordo com os critérios de produções com as palavras chave “histórias em quadrinhos” “PNBE”, “Ziraldo” e/ou “Maurício de Sousa”, com abordagem no processo de leitura literária e/ou construção de HQ.

Gráfico 4 – Estudo de HQ por autores

Nas buscas realizadas, observamos que vários trabalhos sobre HQ foram publicados, porém não se referem à leitura literária, e sim a outros temas relacionados ao gênero. Entre eles: semiótica, narrativas gráficas, construção de identidades, construção de sentidos e

quadrinhos digitais. Importante citar que no período de 2006 a 2011 não houve produções referentes à HQ selecionada pelo PNBE.

No período de 2012 a 2013, foram encontrados 42 artigos disponibilizados no Banco de Dados da CAPES, os quais abordam o tema HQ, porém apenas 5 referem-se às palavras- chave do objeto de estudo; os demais vinculam-se a outros eixos temáticos, conforme citado anteriormente, o que torna a pesquisa investigativa mais complexa.

Nesse contexto, a partir dos descritores empregados na construção de estado da arte para a pesquisa, organizamos as seguintes categorias:

a) A Turma do Pererê/Ziraldo e leitura literária

Apenas dois trabalhos foram localizados a partir dos descritores acima. O primeiro deles, denominado Literatura, consumo e ideologia: a construção de perfis da infância em três momentos do mercado editorial infantil brasileiro, de Fulvio de Oliveira Saraiva, da Universidade Federal do Ceará (UFC, 2012), estuda as relações entre infância, literatura e mercado editorial, apontando a tensão existente no poder que cerca essas questões.

A segunda pesquisa encontrada foi a de Kall Anne Sheya Amorin Braga, Construção co-enunciativa do discurso direto em processos de escrita de histórias em quadrinhos no 2º ano do Ensino Fundamental, da Universidade Federal de Alagoas (UFAL, 2012), é o quinto trabalho pesquisado e contempla investigação acerca da produção de culturas infantis, a partir de experiências de crianças na faixa etária de 3 a 5 anos, com a linguagem das HQ. Um olhar sob as produções gráficas das crianças, observando como elas produzem, inventam ou reinventam, e como se apropriam dos códigos dos quadrinhos. A pesquisa revela que o trabalho pedagógico, no interior da escola analisada, procurava acelerar os processos de escrita e formação para competências, sendo que as crianças demonstravam movimentos de resistência contra a aceleração do tempo, demonstrando desejos de autonomia.

b) HQ e PNBE

Na busca pelos descritores HQ e PNBE, foram localizados 42 estudos previamente selecionados (período de 2012 a 2013). Entretanto, apenas 4 produções mencionam o PNBE

ao longo do texto, sendo que 3 delas têm apenas um trecho onde é citado. Assim, a seguir, arrolamos os dados encontrados nessas produções acerca do Programa.

Na dissertação de mestrado de Daniela Raffo Scherer (UFMS, 2012), há um único trecho em que a autora cita o PNBE:

As HQ desenvolveram-se bastante como gênero e encontram-se disponíveis em publicações exclusivamente criadas para elas, os gibis, além de terem conquistado as páginas especiais nos jornais. Aparecem com frequência em livros e materiais didáticos, e sua utilização nos meios escolares tem sido vista positivamente, tanto que, conforme informa Ramos (2010), o livro Toda Mafalda, de Quino, foi incluído na lista de 2006, do PNBE, Programa Nacional Biblioteca da Escola, responsável pela circulação de livros e quadrinhos nas escolas brasileiras. (2012, p. 19).

Marco Túlio Rodrigues Vilela (UMESP, 2012), também menciona o PNBE apenas uma vez em sua dissertação de mestrado:

O segundo foi educadores perceberem o potencial dos quadrinhos como ferramenta de ensino. Mais uma vez, citando Ramos:

“[...] Quadrinhos, hoje, são bem-vindos nas escolas. Há até estímulo governamental para que sejam usados no ensino.

Vê-se uma outra relação entre quadrinhos e educação, bem mais harmoniosa. A presença deles nas provas de vestibular, a sua inclusão no PCN (Parâmetro Curricular Nacional) e a distribuição de obras ao ensino fundamental (por meio do Programa Nacional Biblioteca na Escola) levaram obrigatoriamente a linguagem dos quadrinhos para dentro da escola e para a realidade pedagógica do professor.” (2012, p. 23)

Mariana Ferreira Lopes (UEL, 2012), na dissertação de mestrado, também menciona apenas um trecho situando a inserção das HQ no PNBE:

Sua presença no ambiente formal de educação foi reconhecida por muitos países a partir do desenvolvimento de orientações de uso no currículo escolar. No Brasil, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) propuseram uma releitura das práticas pedagógicas com o intuito de criar um referencial a ser adotado pelos docentes. Desta forma, os PCN incluíram os quadrinhos como linguagem a ser trabalhada em sala de aula, no ensino fundamental e médio, a exemplo dos livros destinados à área de Artes para as séries de 5ª e 8ª que mencionam a necessidade dos alunos serem competentes na leitura de determinadas formas visuais, incluindo as HQ. O mesmo ocorre com os PCN de Língua Portuguesa, que citam a necessidade de uma leitura crítica de charges e as tiras como gênero a ser estudado (RAMOS; VERGUEIRO, 2009). O Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) desde 2006 inseriu as histórias em quadrinhos em sua lista, juntamente com o restante do material que é comprado e distribuído nas escolas da rede pública de ensino. (2012, p. 63).

Na dissertação de Luciana Begatini Ramos Silvério (UEL, 2012), há sete menções ao termo PNBE: na página 15, na lista de siglas e abreviaturas; três vezes na página 65, sendo

duas para situar a inserção e atribuir a importância das HQ no PNBE e uma na nota de rodapé para explicar a sigla; outra, na página 69, para retomar a presença das HQ no PNBE, PCN e vestibulares, relacionando as HQ como fontes de pesquisa; na página 81, ao tecer sobre os questionários preliminares e n página 149, nas referências.

Pelos dados extraídos das dissertações disponíveis no Banco da CAPES, há lacunas acerca do estudo de HQ selecionadas pelo PNBE, o que justifica a contribuição a ser dada por esta pesquisa.

c) Divulgação científica em eventos

Outro locus de pesquisa acerca das linguagens da HQ na escola são as reuniões da Associação Nacional de Pós-graduação em Educação (ANPED). Na pesquisa, realizada eletronicamente no site http://www.anped.org.br/, no período de 2006 a 2014, foram encontrados os seguintes trabalhos referentes às HQ:

No GT - 7 (Educação de crianças de 0 a 6 anos), foi localizada apenas uma produção no ano de 2013 (de 12). Nos anos de 2006 a 2012, não houve produções relacionadas a histórias em quadrinhos.

No artigo Crianças, culturas infantis e linguagem dos quadrinhos: entre subordinações e resistências, de Marta Regina Paulo da Silva (FE/UNICAMP), é analisada a produção de crianças de 3 a 5 anos com a linguagem das HQ em uma pré-escola municipal. Após a observação realizada, a pesquisadora identificou não só a presença de estereótipos nas produções das crianças, mas de reinvenções. A partir dos dados coletados, constatou-se que as crianças pequenas, em todas as suas produções, estão pensando suas escolhas, imprimindo seu modo de fazer e pensar. A pesquisa apresentou um estudo de caso, que permitiu certa imersão no cotidiano da pré-escola investigada. O objetivo foi compreender como elas reproduzem, resistem, inventam e reinventam esta linguagem na produção das culturas infantis, assim como investigar como as crianças recebem os produtos da mídia, dentre eles as HQ, e como ressignificam na produção das culturas infantis, o que pode auxiliar na compreensão de sua relação com a cultura midiática, de modo especial, o papel que estas desempenham em suas vidas. As HQ foram compreendidas nesta pesquisa não apenas como produto de entretenimento, mas como um artefato da cultura midiática que se situa.

No GT10 (Alfabetização, Leitura e Escrita), foi localizado o artigo de Maria Luiza Oswald, intitulado A relação do jovem com a imagem: um desafio ao campo de investigação sobre leitura, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). A pesquisadora investiga os estudos que abordam o consumo cultural e a recepção sob a ótica das mediações, a relação que as crianças e jovens estabelecem com a cultura das mídias, especificamente com os mangás (HQ) e animes (desenhos animados) e videogames. O artigo enfatiza a leitura deste gênero pelos jovens a partir de entrevistas realizadas com um grupo de jovens leitores de mangás. Partindo dos depoimentos, a pesquisadora focaliza questões como os elementos da recepção do mangá ajudariam a pensar a formação do leitor, a influência das culturas das mídias na constituição de identidades e subjetividades de crianças e jovens e nas suas maneiras de se relacionarem com o conhecimento e a cultura. Ainda de acordo com a pesquisadora,

[...] a pouca atenção dos estudos desenvolvidos no campo da educação ao fato de que a relação dos alunos com os artefatos midiáticos é inseparável dos modos de produção de uma época, pode colocar nossas pesquisas e nossas praticas distantes das mediações culturais que determinam a interação desses sujeitos com a leitura diminuindo, portanto, nossa chance de tentar contribuir para a superação da tensão entre a escola e as culturas juvenis, tensão que tem como um de seus pilares o conflito entre a cultura letrada e a cultura da imagem. (OSWALD, 2012, p. 7).

O artigo de Maristela Gatti Piffer, O trabalho com textos na educação infantil, da Universidade Federal do Espírito Santo (2007), recorta pesquisa de mestrado, na qual foi analisado um grupo de crianças com 6 anos de idade do Sistema Municipal de Ensino de Vitória – ES. A pesquisa teve como base a análise do trabalho com os gêneros HQ e com os gêneros de opinião. Tendo focado as condições de produção dos textos, o resultado das atividades apontou que no trabalho com HQ, segundo a pesquisadora,

[...] o dizer das crianças foi influenciado pela inversão provocada nas propostas de produção, uma inversão que situou as estratégias do dizer como ponto de partida, abstraindo da atividade de produção textual as dimensões sócio-comunicativas no trabalho com os gêneros discursivos. (PIFFER, 2007, p. 14).

No período de 2008 a 2012, não houve produções referentes a histórias em quadrinhos.

No GT-12 (Currículo), foi encontrado apenas 1 (de 18) produção no ano de 2010 relacionada a histórias em quadrinhos.

O artigo O discurso da educação escolar nas HQ do Chico Bento, de Daniela Amaral Silva Freitas (UEMG e UFMG), refere-se ao discurso divulgado nas HQ de Chico Bento, baseado na análise de discurso de Foucault. A análise de tempo e espaço na escola onde a narrativa acontece na HQ indica que há um predomínio de rigidez e inflexibilidade, de acordo com a pesquisadora. De um modo geral, a autora procura demonstrar como são narrados os espaços, tempos, os comportamentos, as regras, os alunos e alunas nesse aparato midiático. Lança um olhar problematizador para as HQ, para os múltiplos sentidos produzidos e divulgados sobre a escola.

No GT-18 (Educação de Pessoas Jovens e Adultas) e GT -24 (Educação e Arte), não foram encontrados projetos relacionados a histórias em quadrinhos ao longo dos textos. As buscas foram realizadas a partir do título, resumo e palavras-chave, contudo alguns trabalhos foram selecionados pela íntegra.

Em reuniões anuais da Associação Nacional de Pós–Graduação e Pesquisa em Letras e Linguística (ANPOLL), focalizamos o GT - Leitura e literatura infantil e juvenil na busca por trabalhos que referenciem HQ no próprio site do GT (http://www.gtllij.com.br/), e destacamos um trabalho, divulgado no XXVII Encontro da ENANPOLL (Encontro Nacional da Anpoll), sob o título Reconto e adaptação em quadrinhos, de Rosa Maria Cuba Riche, da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ). O estudo investigou a adaptação de um texto literário para a linguagem dos quadrinhos, a partir da análise de obras do gênero. E faz algumas indagações, quais sejam: como se dá o reconto da narrativa original? Em que medida a adaptação do texto para o gênero quadrinhos provoca um reducionismo do enredo e uma simplificação da linguagem literária? Que recursos gráficos o adaptador utiliza para fazer a transposição de um gênero para o outro, sem perder a literariedade do texto? A autora aponta sobre o estudo proposto:

Refletir sobre esse objeto híbrido composto de palavras, imagens, símbolos, dotado de características próprias e se aventurar no estudo das adaptações de obras literárias para a linguagem dos quadrinhos com todas as implicações e especificidades que cada uma das artes possui é um desafio posto aos pesquisadores que queiram mergulhar na busca de identidades e diferenças que fazem dessas obras, que chegam ao mercado cada ano em maior quantidade, um objeto tão atraente aos leitores. (RICHE, 2013, p. 2237).

A análise dos trabalhos identificados traçou um panorama do que está sendo pesquisado em relação às histórias em quadrinhos no contexto escolar, a partir de sua

distribuição nas escolas pelo PNBE, possibilitando, assim, perceber a diversidade em estudos realizados sobre esse tema. Muitos foram os artigos, teses de Mestrado e Doutorado que pesquisaram diversos aspectos das HQ neste período, contudo, foram poucos estudos relacionados às HQ como forma de leitura literária e ao PNBE, apesar do período pesquisado ser de 9 anos. Nesse contexto, a investigação por nós realizada, acerca do estado da arte das HQ no âmbito do letramento na escola, indica a relevância do presente estudo sobre a leitura de HQ.

O próximo capítulo discorre acerca de peculiaridades que compõem a obra de Ziraldo, selecionada para a análise.

4 ANÁLISE DA OBRA A TURMA DO PERERÊ: 365 DIAS NA MATA DO FUNDÃO

Este capítulo analisará diferentes perspectivas que as narrativas visuais e verbais das histórias em quadrinhos (HQ) apresentam ao leitor. Além disso, discutirá de que forma elas podem contribuir para a formação do estudante, em sala de aula, quando potencializadas pela mediação docente. Para isso, serão utilizados alguns dos principais autores que fundamentam a temática estudada, sendo eles Moacy Cirne (1973), com aspectos da linguagem dos quadrinhos utilizada por Ziraldo, Waldomiro Wergueiro; Paulo Ramos (2009), que abordam os quadrinhos na Educação e na sala de aula; Will Eisner (2012), com a discussão sobre as palavras e as imagens na comunicação dos quadrinhos; Álvaro de Moya (1993), com a história das HQ entre outros.

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