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Banco Palmas e o desenvolvimento territorial solidário e contra-hegemônico

4. BANCO PALMAS: INTELECTUAIS ORGÂNICOS E AS ESTRATÉGIAS

4.3. Banco Palmas e o desenvolvimento territorial solidário e contra-hegemônico

Já em relação aos eixos temáticos "Bancos Comunitários de Desenvolvimento", "Economia Solidária" e "Desenvolvimento Territorial", a interação e solidariedade entre as frações progressistas internas e externas ao Conjunto Palmeiras e seus intelectuais orgânicos locais e externos, as práticas da gestão e do planejamento estratégicos como ação social comunicativa, geradora de acordos e situacionais adequadas aos princípios da Economia Solidária e o desenvolvimento de tecnologias sociais para o fortalecimento dos seus processos de gestão e de planejamento e das iniciativas solidárias no território conferem ao Banco Palmas as condições favorecedoras para articular e integrar suas

131 ações no território, fortalecendo-as a longo prazo. Daí ter atingido a sustentabilidade financeira, ainda que reconheça a necessidade de se atingir a sustentabilidade em seu sentido pleno, como revela o trecho seguinte:

"Quando falamos em sustentabilidade temos que compreendê-la do ponto de vista financeiro, político, social, comunitário, ecológico e daí por diante. Podemos afirmar que o Banco Palmas já é sustentável. Para um Banco Comunitário se tornar sustentável (financeiramente) ele precisa, em média, operar uma carteira de crédito de R$ 300.000,00 (trezentos mil reais), e realizar oito mil operações bancárias (correspondente bancário) por mês. Isso gera uma receita media de R$ 5.000,00 (cinco mil reais) mensais. O Banco Palmas já atinge esses números. Com relação aos outros aspectos temos fortes indicadores de que também já os temos alcançado." (INSTITUTO BANCO PALMAS, 2009, p. 26).

Isto se reflete no impacto positivo no desenvolvimento local, ampliando a circulação da moeda social e com a criação de novas iniciativas econômicas solidárias, propiciando a geração de renda de maneira continuada ao longo dos quase 20 anos de existência do Banco Palmas, como vários estudos e pesquisas já apontaram ao longo dos anos (SILVA JUNIOR., 2008; NESOL-USP, 2013b; BRAZ, NEIVA, e NAKAGAWA, 2014; LIMA, LEITE NETO e CHAGAS, 2015).

Sobre os trabalhadores do Banco Palmas, Paulino (2014) chama-os de lideranças técnicas. No entanto, discordando do referido autor, os trabalhadores do Banco Palmas, pelo simples fato de atuarem em prol da ideologia da Economia Solidária, contra- hegemonicamente, não podem ser classificados como simples lideranças técnicas, similares aos que atuam nas organizações convencionais. Ao contrário destes, que não podem desenvolver capacidades outras que não as de um especialista - como um mero gestor financeiro, por exemplo - os trabalhadores do Banco Palmas precisam desenvolver também outras capacidades de atuação social e comunitária, como já relatados e discutidos na Seção 4.1., sendo peças-chaves no fortalecimento do elo entre o BCD e os moradores do território, contribuindo para o desenvolvimento territorial solidário cotidiano e operacionalmente, bem como de capacidade política, conforme Gramsci, para que possam assumir a direção e a coordenação, não como quaisquer intelectuais orgânicos, mas como intelectuais orgânicos da Economia Solidária. Tal atuação permanente dos intelectuais orgânicos da Economia Solidária a partir do Banco Palmas é evidenciada por Paulino (2014):

132 "A condução da ação protagonista influencia-se, em grande parte, pelo carisma, pela crença no dom do(a) líder a quem se credita capacidade de identificar e buscar soluções (...) Nesse sentido, a categoria da reciprocidade manifesta-se na confiança que os moradores depositam em lideranças que articulam e administram os projetos do Banco Palmas sob o controle da ASMOCONP; confiabilidade que, mutuamente, recebem de volta na forma de crédito ou empréstimo. Esse dom amplia-se para a esfera do bairro, no compromisso e na fidelidade dos que “livremente obrigam-se” (destaque meu) a produzir, comercializar, trocar e consumir localmente, compartilhando uma lógica do “consumir para o bem viver" (PAULINO, 2014, p. 70)

Por conseguinte, a Economia Solidária se afirma como estratégia de desenvolvimento territorial:

"Dessa relação de proximidade e do desejo de mudança, surgem espaços apropriados coletivamente, instituindo-se como canais de participação numa esfera pública que se destaca pelo pertencimento a uma rede de proteção local, de vizinhança." (PAULINO, 2014, p. 125)

"Joaquim de Melo referiu-se à rede de economia solidária do Conjunto Palmeiras denominando-a “rede de prosumatores”, para enfatizar que nessa rede seus participantes são produtores, consumidores e atores sociais de um processo de transformação voltado para o desenvolvimento da comunidade." (PAULINO, 2014, p. 261)

Por isto, o desenvolvimento territorial promovido pelo Banco Palmas no conjunto Palmeiras é antes de tudo um desenvolvimento territorial solidário e contra- hegemônico:

"(...) um banco comunitário é instituído sob o propósito de estimular uma cultura e um conjunto de relações que busquem superar a lógica mercantil concorrencial, fortalecendo as esferas organizativas locais e estreitando os laços solidários que se fundam no pertencimento a um espaço socialmente vivido." (PAULINO, 2014, p. 295-296)

"Considerando-se, ainda, que nesse ambiente associativo se ergue a bandeira da solidariedade – entre indivíduos, famílias, moradores de comunidades específicas, grupos populares,

133 produtores solidários, parceiros locais, regionais, nacionais e internacionais, movimentos sociais, dentre outras categorias –, é possível pensar que a economia solidária não se encerra no campo econômico; projeta-se também como economia política e sistema cultural." (PAULINO, 2014, p. 304)

"(...) o Banco Palmas nunca foi puramente financista em seus programas. O Banco direciona e direcionou recursos consideráveis para o que deve ser mais bem categorizado como atividades educativas e sociais, assim como outros negócios além do crédito, do seguro e da moeda social, mesmo que todos os projetos tenham em vista o efeito integrado sobre a economia local" (GAO, 2014, p. 77).

Dialogando com as críticas de Brandão, o Banco Palmas vai além da sua função técnica de melhoria das condições de renda da população e do impacto em escala local e regional, na medida em que articula social e politicamente diversos parceiros nacionais e internacionais e estimula e fomenta a multiplicação de outras experiências de mesmo tipo nacionalmente distribuídas e organizadas em rede, vislumbrando mudanças estruturais e superestruturais em diversas dimensões e escalas por uma nova hegemonia.

4.4. INTERAÇÃO, SOLIDARIEDADE E ALIANÇA ENTRE INTELECTUAIS