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1. ACÚSTICA URBANA

1.3 Propagação sonora ao ar livre

1.3.3 Barreira acústica

Conceitua-se barreira acústica como sendo qualquer anteparo que impede a visão entre a fonte e o receptor, causando atenuações sonoras por meio da difração. O uso das barreiras é bem variado, a exemplo da instalação ao longo de autoestradas, como forma de atenuar os ruídos de tráfego, sejam eles provenientes dos veículos automotivos, das máquinas de construção, dos geradores ou transformadores (GERGES, 2000).

Alguns autores, dentre eles Bistafa (2011), Kang (2007) e Valle (2009), afirmam que a capacidade de atenuação sonora da barreira depende, especialmente, da altura do elemento utilizado e do comprimento de onda do som, como descrito a seguir.

Se a onda sonora encontra um objeto muito menor do que o comprimento de onda (λ), esse objeto não causa nenhuma perturbação à propagação da onda (...). Se, porém, o obstáculo é muito maior que o comprimento de onda λ, é formada uma zona de sombra atrás do obstáculo. No entanto, nessa zona de sombra não se faz o silêncio completo. (VALLE, 2009, p.70 e 71)

As barreiras acústicas apresentam maior eficiência no bloqueio das altas frequências, em virtude do pequeno comprimento de onda. Já para as baixas frequências, cujo comprimento de onda é grande, seria necessária a construção de barreiras com alturas muito maiores do que as utilizadas para essa finalidade (VALLE, 2009) (Figura 11).

Figura 11 – Esquema de uma barreira acústica

Fonte: Gerges (2000).

Além da altura da barreira e do comprimento da onda, Souza et al. (2012) apresentam outros aspectos que influenciam na eficiência das barreiras acústicas, que são: proximidade em relação à fonte ou ao receptor – quanto mais próximo da fonte maior será a capacidade de atenuação sonora; massa da estrutura – elementos mais sólidos são mais eficientes por possuírem menor capacidade de vibração; estanqueidade – a barreira deve ser hermética para evitar que os sons de baixa frequência se propaguem por pequenas aberturas; considerações de aspectos subjetivos – o acesso visual à fonte pode influenciar na percepção do ruído, sendo assim, a eliminação de barreiras que, numericamente, não são eficientes aumenta a

percepção do incômodo sonoro pelo ouvinte; movimentação do ar – a incidência do vento pode reduzir a eficiência da barreira, pois poderá penetrar som na área de sombra acústica.

Em alguns casos, a exemplo da aplicação de barreiras para proteção contra ruído de tráfego, é difícil obter-se valores de atenuação superiores a 10dB. De acordo com Kang (2007), para calcular o desempenho de atenuação, deve-se levar em consideração também as reflexões e absorções sonoras que acontecem na barreira.

As edificações apresentam papel de atenuação sonora quando estão locadas entre a fonte e o receptor. Essa atenuação é obtida quando a onda sonora, ao entrar em contato com a barreira (edifício) sofre difração. Cabe destacar que o som que irá chegar até o receptor é a soma do som difratado com o som que passa pelas aberturas do edifício. Por esse motivo, as edificações apresentam menor eficiência de atenuação quando comparadas às barreiras contínuas de mesma altura (BISTAFA, 2011). Portanto, é importante estudar as características das edificações existentes na área objeto de estudo, principalmente quando elas margeiam as vias principais do espaço urbano. No caso do Castelo Branco, há edificações margeando as principais vias do interior do bairro.

A vegetação densa, denominada cinturão verde, posicionada entre a fonte sonora e o receptor funciona como uma barreira acústica vazada, capaz de atenuar o ruído, por meio da absorção e espalhamento do som. Sendo assim, cada elemento da vegetação que compõe o cinturão verde possui um desempenho acústico específico. Enquanto a folhagem, os pequenos ramos e arbustos têm a propriedade de absorver o som, os troncos, ramos grandes e folhagem densa espalham as ondas sonoras (BISTAFA, 2011).

O autor afirma, ainda, que para que uma área com vegetação desempenhe papel de isolante acústico, deve ela apresentar as seguintes características:

largura4 (superior a 15 metros, pois larguras inferiores a esta são consideradas ineficientes); localização (para obter-se maior atenuação sonora, o cinturão deverá estar locado mais próximo da fonte); altura (as árvores que compõem o cinturão deverão elevar-se pelo menos 5 metros acima da linha de visão para que atue como

4 Em relação à largura, Bistafa (2011, p. 220) acrescenta que ―na faixa de frequência de 200 a

2.000Hz, a atenuação será da ordem de 7dB para cada 30m da largura do cinturão verde. Essa atenuação somente ocorrerá após os primeiros 15m de largura da vegetação de insonorização‖.

barreira acústica); configuração do plantio (o cinturão deverá ser formado por uma vegetação densa caracterizada pelo impedimento de visualização da fonte sonora pelo receptor, de forma a evitar a ocorrência de propagação sonora entre as árvores. Esta vegetação deverá ter altura decrescente no sentido da fonte para induzir o direcionamento das ondas sonoras para cima e, preferencialmente, ser do tipo perenifólia5, evitando atenuações sazonais) (BISTAFA, 2011).

Ao analisar tais critérios, pode-se, de acordo Lisot (2013):

É comum a afirmação, por parte da população em geral, de que o plantio de algumas árvores vai ajudar a criar uma barreira para a propagação do ruído. No entanto, a vegetação não é considerada uma barreira acústica a não ser que apresente configuração de plantio e dimensões específicas. (LISOT, 2013, p.19).

Por outro lado, Souza et al. (2012) comentam que o acesso visual à fonte sonora influencia na percepção do ruído. Apesar de apresentar pequena eficiência sonora, a vegetação pode causar efeito psicológico favorável (GERGES, 2000).

Em meio a essa abordagem, levanta-se o seguinte questionamento: a vegetação presente no bairro Castelo Branco desempenha papel de atenuador sonoro de acordo com as características físicas descritas por Bistafa (2011) ou causam apenas efeitos psicológicos na percepção do ruído proveniente das vias/rodovia, como descrito por Souza et al. (2012) e Gerges (2000)?

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