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2. ESTADO DO CONHECIMENTO 7

2.2. Implementação das metodologias Lean Construction 26

2.2.8. Barreiras e obstáculos à implementação 62

Vários métodos da Lean Construction e do Lean Thinking foram adoptados em vários países e empresas de construção desde a década de 90 mas, no entanto, mais de 15 anos depois, ainda não podemos afirmar que a Lean Construction revolucionou a indústria da construção. Um motivo óbvio poderá ser o de que a indústria não muda “do dia para a noite” como consequência do desenvolvimento de novas teorias e métodos, ou pelo menos não a construção, muitas vezes caracterizada pela sua génese conservativa (Andersen et al., 2008).

Vários estudos foram conduzidos em vários países para investigar os factores que podem constituir uma barreira a uma implantação de sucesso. Estas barreiras podem ser classificadas em seis categorias diferentes (Bashir et al., 2010):

 Barreiras relacionadas gestão

A gestão de topo tem um papel primordial em conseguir uma implantação de sucesso de estratégias inovativas. O sucesso da prática Lean Construction repousa sobre o seu compromisso em desenvolver e implementar um plano efectivo e adequado, fornecendo os recursos e apoio necessários para gerir as mudanças que a implantação trará (Bashir et al., 2010). Uma revisão da literatura feita por estes mesmos investigadores inclui atrasos na tomada de decisões, falta de compromisso e apoio por parte da gestão de topo, definição de projeto pobre, atrasos na entrega de materiais, falta de equipamentos, falta de tempo para a inovação, estrutura organizacional, uma administração de processos fraca, falta de suporte à integração do processo, falta de comunicação, uso de elementos substandard, pré-planeamento inadequado, estratégias de selecção e contratação, recursos inadequados e falta de envolvimento entre o cliente e o construtor, bem como falta de planeamento a longo prazo. Apesar de algumas serem facilmente compreendidas e ultrapassadas, lidar com estes factores é crítico e fundamental para a implementação de Lean Construction ao longo das organizações (Bashir et al., 2010).

 Barreiras financeiras

A implementação de novas e inovadoras estratégias como a Lean Construction requer alguns fundos. Um financiamento adequado é necessário para motivar trabalhadores, para fornecer as ferramentas e equipamentos necessários e para consultar e empregar especialistas para guiarem a implementação do conceito tanto a empregadores como a funcionários (Bashir et al., 2010). Estudos de análise identificaram algumas destas barreiras e incluem corrupção, financiamento inadequado do

- 63 - projeto, custo de implementação, ordenados baixos, falta de incentivos e motivação e aversão ao risco (Bashir et al., 2010, Mossman, 2009).

 Barreiras educacionais

Já existiram vários esforços para espalhar o conceito Lean, criar orientação e conhecimento relacionado com a Lean Construction feito por académicos, investigadores, praticantes e instituições como o International Group of Lean Construction (IGLC) e o European Group of Lean Construction. Recentemente foi também formado o Grupo Português de Lean Construction, uma iniciativa semelhante a outros grupos nacionais já formados um pouco por toda a Europa e com o objectivo difundir os conceitos e metodologias Lean Construction e alertar os profissionais do sector para as potencialidades dos mesmos.

Apesar do número elevado de publicações feitas por investigadores, parece que as barreiras educacionais constituem as barreiras mais comuns à prática da Lean Construction. Estas incluem a falta de compreensão do conceito, a falta de características e conhecimentos técnicos, o alto nível de iliteracia, nomeadamente a um nível mais operacional do processo de construção, falta de treino, falta de técnicas e características necessárias à formação de equipas de projeto, falta de exposição às necessidades que uma implantação Lean requer e pouca partilha de informação (Bashir et al., 2010, Álarcon et al., 2005).

 Barreiras relacionadas com o governo e instituições

Alguns estudos revelam que certas barreiras são originadas nas atitudes do governo de alguns países em relação à indústria da construção. Segundo Bashir et al. (2010) estes incluem burocracia e políticas inconsistentes. Algumas barreiras financeiras como inflação, ordenados dos vários profissionais e práticas de corrupção podem também estar relacionadas com assuntos relacionados com o governo.

 Barreiras técnicas

A implantação de Lean pode ser afectada por várias barreiras que são consideradas técnicas porque têm impacto directo na aplicação de certos princípios e ferramentas Lean como a fiabilidade, a simplicidade, a flexibilidade e benckmarking (Koskela 1992). Algumas destas barreiras foram identificadas por Ballard e Howell (1998), Alarcon et al. (2005), Vennstrom (2008) e Bashir et al. (2010) e incluem a forma tradicional de Design-Bid-Build, caracterizada por um processo de contratação competitivo, falta de projetos de “construtabilidade”, estratégias de medição de desempenho pobres, falta de acordo na metodologia de implementação, falta de prefabricação, incerteza nas cadeias de fornecimento, falta de precisão nas concepção do projeto e concepções do projeto incompletas. Paralelamente, Mossman (2009) também identificou a natureza da indústria como uma barreira ao trabalho de equipa e às parcerias colaborativas. Ainda que estes assuntos estejam

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directamente relacionados com certas ferramentas, constituem uma barreira a uma implantação mais holística do conceito (Bashir et al 2010).

 Atitudes humanas

De acordo com Howell (1999) e Vennstrom (2008), a atitude humana é um dos principais factores a afectar a implementação de Lean Construction. Estas barreiras incluem a falta de transparência, cooperação, falta de espírito de equipa, de auto-critica, de efectivo trabalho de equipa, de compreensão das reais necessidades do cliente, confusões e falta de entendimento acerca da prática Lean, medo de práticas pouco familiares e conflitos de liderança (Mossman, 2009, Bashir et al., 2009, Alarcon et al., 2005).

Vennstrom (2008) destaca que a falta de cooperação na indústria da construção está relacionada com o facto de as atitudes serem tomadas com base em considerações financeiras de curto prazo, o que acabam por reflectir-se em relações pouco cooperativas e suspeitas que dificultam a aplicação das técnicas Lean.

Outro problema não tão óbvio e que vai além da simples preocupação com a logística da construção e com as questões relacionadas com a coordenação dos elementos da cadeia de produção do produto, é a compreensão dos fluxos económicos de produção e o acompanhamento dos aspectos sociais e culturais do sistema de construção, i.e. a produção como uma combinação interdependente de processos construtivos levados a cabo num específico ambiente social ou modus-operandi intrínseco à cultura de uma empresa específica (Andersen et al., 2008).

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