• Nenhum resultado encontrado

3. REVISÃO DA LITERATURA E ANÁLISE SEMÂNTICA DAS DEFINIÇÕES DE

3.1 Produção mais Limpa

3.1.1 Barreiras para implantação da Produção mais Limpa

Apesar dos benefícios econômicos, ambientais e sociais, algumas barreiras tem dificultado a implantação da Produção mais Limpa nas organizações. Essas barreiras podem ser divididas em barreiras internas (relacionadas a fatores internos das organizações) e externas (relacionadas a fatores externos às organizações mas que influenciam a sua atuação) (VIEIRA; AMARAL, 2016). As barreiras podem ainda ser classificadas em barreiras econômicas, sistêmicas, organizacionais, técnicas, comportamentais e governamentais (UNEP, 2002).

As barreiras internas identificadas na literatura estão relacionadas à falta de engajamento, treinamento e motivação dos funcionários, falta de sistematização e continuidade dos programas de Produção mais Limpa, falta de integração entre departamentos, falta de apoio da alta liderança e resistência a mudanças.

Uma das grandes barreiras para efetividade da Produção mais Limpa é a sua falta de integração com os chamados fatores humanos (fatores não técnicos ou organizacionais) (SATURNINO; JABBOUR, 2010). Dentro desse contexto, a falta de treinamento e engajamento dos funcionários, falta de apoio da alta liderança e resistência a mudanças, elencadas por diversos autores configuram-se em fatores que em muitos casos podem prejudicar o sucesso da implantação de um programa de Produção mais Limpa (STONE, 2000; UNEP, 2002; CALLIA et al., 2009, SATURNINO; JABBOUR, 2010; MURILLO- LUNA et al., 2011; VIEIRA; AMARAL, 2016). Murillo-Luna et al. (2011), por exemplo, apontam como barreiras internas e organizacionais a motivação e preparação ambiental limitada dos funcionários, gestão inadequada da alta liderança, falta de envolvimento de funcionários, sistemas de comunicação precários e inércia operacional.

A falta de treinamento e engajamento dos funcionários é uma barreira de grande relevância (SATURNINO; JABBOUR, 2010), pois a implantação da Produção mais Limpa requer conhecimento, comprometimento habilidades e novas atitudes para garantir que as estratégias ambientais preventivas estejam integradas nas atividades do dia a dia em toda a empresa (UNNIKRISHNAN; HEGDE, 2007). O treinamento também atua para aumentar a conscientização e engajamento dos funcionários, sendo que ao comunicar o direcionamento da empresa e práticas a serem adotadas, transmite motivação para implantação da Produção mais Limpa aos funcionários (HILSON; NAYEE, 2002; FERNÁNDEZ et al., 2003).

As deficiências no engajamento e treinamento de funcionários também se somam a falta de integração entre departamentos, dado que estes programas são, em muitos casos, implantados exclusivamente pelos departamentos de meio ambiente que não possui autonomia e expertise necessárias para aplicar P+L na empresa como um todo (WANG, 1999). Dessa forma, a falta de integração e comunicação entre os departamentos se configura como um dos fatores limitantes para a implantação da P+L nas organizações (VIEIRA; AMARAL, 2016). O treinamento de funcionários de todos os departamentos é uma das formas de promover a integração entre departamentos e deve ser considerado como um importante fator de sucesso na implantação da Produção mais Limpa (GOVINDARAJULU; DAILY, 2004; UNNIKRISHNAN; HEGDE, 2007).

Uma das maiores forças para a implantação da Produção mais Limpa nas organizações é o comprometimento da alta liderança (SATURNINO; JABBOUR, 2010). A falta de comprometimento da alta liderança dificulta a difusão da Produção mais Limpa dentro da empresa, integração das questões ambientais nas estratégias de negócio e, consequentemente, impacta na motivação e engajamento dos funcionários que são fundamentais para que a

implantação da P+L seja realizada na prática (ZUTSHI; SOHAL, 2004; SATURNINO; JABBOUR, 2010).

Outra barreira identificada está relacionada com o fato de que a gestão e a implantação dos programas de P+L raramente acontecem de forma sistemática devido à falta de padrões ou um sistema formal para definir princípios e processos de implementação, o que dificulta o alcance dos resultados desejados (WANG, 1999, CALIA; GUERRINI, 2006, SILVA et al., 2013). O fato da Produção Mais Limpa ser vista como uma ferramenta isolada de gestão empresarial dificulta sua integração no sistema operacional das empresas (CALIA; GUERRINI, 2006). Adicionalmente, a falta de continuidade para os programas de P+L, que são implantados, mas não são monitorados, revisados ou estendidos (WANG, 1999) pode levar ao descontentamento dos funcionários (SATURNINO; JABBOUR, 2010) e falta de interesse em novos esforços (KALAVAPUDI, 1995).

As barreiras externas identificadas na literatura estão relacionadas à falta de incentivos financeiros, foco das regulamentações nos controles de “Fim de tubo” ao invés de Produção mais Limpa, falta de educação e pressão da sociedade para prevenção da poluição.

A necessidade de captação de financiamento externo para a implantação da Produção mais Limpa e falta de incentivos financeiros e fiscais para esta captação dificulta a priorização da adoção desta estratégia preventiva (ZHANG, 2000; UNEP, 2002; SILVA et al., 2013). A falta de conscientização e preocupação em relação às questões ambientais acabam interferindo também na adoção da Produção mais Limpa pelas empresas (ZHANG, 2000; VIEIRA; AMARAL, 2016). Isso pode ser atribuído à falta de percepção das pessoas em relação aos riscos ou veracidade referente às alterações ambientais que tem ocorrido devido à poluição (DANIHELKA, 2004; VIEIRA; AMARAL, 2016).

As regulamentações focam nos controles de “Fim de tubo” ao invés da adoção de estratégias ambientais preventivas (STANISKIS, 2011; SILVA et al., 2013). Este fato pode ser atribuído ao estabelecimento de limites máximos permitidos para emissões poluentes nas regulamentações atuais e falta de estímulo para evitá-los (DIELEMAN, 2007).

Por meio de uma revisão bibliográfica sistemática, Vieira e Amaral (2016) resumem que as barreiras de implantação de P+L estão associadas à cultura, políticas, metodologias adotadas, educação e falta de pressão social.

A Quadro 7 apresenta uma síntese das barreiras para disseminação e implantação da Produção mais Limpa classificadas com base em Vieira e Amaral (2016) e UNEP (2002).

Quadro 7 – Barreiras para implantação da produção mais limpa.

Tipo de barreira Barreiras Internas Barreiras Externas

Econômica

• Falta de custos ambientais nas análises de investimento (UNEP, 2002)

• Planejamento inadequado dos investimentos (UNEP, 2002)

•Falta de política com relação aos preços dos recursos naturais (UNEP, 2002)

• Falta de incentivos financeiros e fiscais relativos ao desempenho ambiental (UNEP, 2002, VIEIRA; AMARAL, 2016)

Sistêmica

• Falta de treinamento e engajamento dos funcionários (UNEP, 2002; MURILLO-LUNA et al., 2011; VIEIRA; AMARAL, 2016)

• Falta de sistematização, integração, informações detalhadas de práticas, técnicas e ferramentas e continuidade dos programas de P+L (WANG, 1999; KALAVAPUDI, 1995; CAGNO et al., 2005; CALIA; GUERRINI, 2006; SILVA et al., 2013)

-

Organizacional

• Ausência de motivação dos funcionários (KALAVAPUDI, 1995; UNEP, 2002; SATURNINO; JABBOUR, 2010)

• Falta de motivação das empresas para implementar a Produção Mais Limpa (UNEP, 2002; CALIA; GUERRINI, 2006; MURILLO-LUNA et al., 2011)

• Falta de cultura organizacional para P+L (VIEIRA; AMARAL, 2016)

• Falta de integração e comunicação entre os departamentos (WANG, 1999; VIEIRA; AMARAL, 2016)

-

Técnica

• Falta de recursos necessários à coleta de dados (UNEP, 2002) • Recursos humanos limitados ou indisponíveis (UNEP, 2002) • Limitação ao acesso de informações técnicas (UNEP, 2002) • Limitação de tecnologia/Déficit tecnológico (UNEP, 2002)

-

Comportamental

• Resistência às mudanças por parte das organizações (STONE, 2000; UNEP, 2002; CALLIA et al., 2009, NETO; JABBOUR, 2010) • Falta de apoio da alta liderança para implantação de P+L (UNEP, 2002; MOORS et al., 2005; CALIA; GUERRINI, 2006; NETO; JABBOUR, 2010; MURILLO-LUNA et al., 2011)

• Falta de pressão da sociedade para a prevenção da poluição (UNEP, 2002, VIEIRA; AMARAL, 2016)

Governamental -

• Foco das regulamentações nos controles de "Fim de tubo" (WANG, 1999; UNEP, 2002; VIEIRA; AMARAL, 2016) • Falta de educação em prevenção da poluição (VIEIRA; AMARAL, 2016)

Em estudo realizado para identificar as principais barreiras de Produção mais Limpa e indicar estratégias para superá-las, Vieira e Amaral (2016) descrevem que, de uma forma geral, para superar as barreiras para adoção da Produção mais Limpa é necessário promover a disseminação do conhecimento e buscar o comprometimento em toda a cadeia de valor (empresas, universidades, governos, comunidade), realizar uma mudança do foco das regulamentações de reativo (Fim de tubo) para preventivo (P+L), utilizar técnicas/ferramentas de contabilidade ambiental, formar lideranças de P+L nas organizações, realizar a integração de diferentes áreas de negócios e utilizar sistemas de gestão ambiental e reporte de informações.

Do ponto de vista interno, existe a oportunidade de desenvolver estudos que busquem apresentar formas para empresas incorporarem novas estratégias de gestão para P+L mais inovadoras e dinâmicas e baseadas na melhoria contínua (VIEIRA; AMARAL, 2016).

Dentro desse contexto, este estudo propõe um Modelo de Maturidade de Produção mais Limpa composto de práticas, níveis de maturidade e método de aplicação visando contribuir para a superação das seguintes barreiras internas identificadas na revisão bibliográfica: Falta de sistematização, integração, informações detalhadas de práticas, técnicas e ferramentas e continuidade dos programas de P+L.