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2 AS ASSOCIAÇÕES E A DEMOCRACIA NO BRASIL

2.1 Base legal, tipos e características das associações no Brasil

Dentro do sistema jurídico do Brasil, as associações estão regulamentadas na Constituição Federal de 1988 (artigo 5º, XVII a XXI, e artigo 174, § 2º) e pela Lei de número 10.406 (artigos 53 a 61 e 2031) de 10 de Janeiro de 2002, que institui o novo Código Civil Brasileiro. Esta lei, em seu artigo 53, afirma que as associações se constituem pela união de pessoas que se organizam para fins não econômicos. Partindo destas informações, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas - SEBRAE publicou, em 2014, a cartilha “Associação – Série Empreendimentos Coletivos”, que ajuda o público em geral a entender, dentre outras coisas, algumas definições e características das associações no Brasil.

Esta cartilha define as associações como entidades formadas por pessoas naturais (ou físicas) que tem objetivos comuns, exceto o de auferir lucro por meio de pessoa jurídica, e que possuem objetivos e finalidades diferentes entre si. Segundo Cardoso8 (2014):

Associação, em sentido amplo, é qualquer iniciativa formal ou informal que reúne pessoas físicas ou outras sociedades jurídicas com objetivos comuns, visando superar dificuldades e gerar benefícios para os seus associados. Formalmente, qualquer que seja o tipo de associação, pode-se dizer que a associação é uma forma jurídica de legalizar a união de pessoas em torno de necessidades e objetivos comuns. Sua constituição permite a construção de melhores condições do que aquelas que os indivíduos teriam isoladamente para a realização dos seus objetivos. A associação então é a forma mais básica para se organizar juridicamente um grupo de pessoas (físicas ou jurídicas) para a realização de objetivos comuns (CARDOSO, 2014. p. 07)

Neste contexto, Cardoso (2014, p. 07) mostra que, as associações se alimentam da crença de que os cidadãos juntos podem encontrar soluções melhores para os conflitos que a vida em sociedade apresenta. Segundo ele, estas entidades representam a forma mais básica para se organizar juridicamente um grupo de pessoas (físicas ou jurídicas) para a realização de objetivos comuns.

A organização destas entidades se daria dentro de um processo de troca com outros elementos políticos e sociais, como pode ser visualizado, de maneira didaticamente organizada, na figura 1, que apresenta um esquema de interação entre associações, sociedade e mercado no Brasil.

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A cartilha do SEBRAE sobre as associações foi organizada por Univaldo Coelho Cardoso e tem sua autoria assinada por ele. Por isso, nas páginas seguintes que se relacionam ao conteúdo desta cartilha, a citação será feita dando créditos ao autor.

Figura 1 – Esquema de interação entre associações, sociedade e mercado no Brasil

Fonte: Cardoso (2014. p. 6 )

A figura 1 mostra a inter-relação de ações combinadas entre sociedade e mercado, pessoas e empresas, em busca de benefícios e satisfação das necessidades e objetivos comuns, em um processo de interação que pode levar ao bem coletivo e, consequentemente, ao bem individual daqueles que buscam tal fim.

Neste processo interativo, as associações brasileiras, quanto às finalidades podem ser classificadas em: 1) as que tem por fim o interesse pessoal dos próprios associados, sem objetivar lucros, como por exemplo, sociedades recreativas ou literárias; 2) as que tem como objeto principal a realização de uma obra estranha ao interesse pessoal dos associados e que fique sob a dependência da associação ou se torne dela autônoma, tais como as associações beneficentes; e 3) as que tem por finalidade principal ficarem subordinados a uma obra dirigida autonomamente por terceiras pessoas (CARDOSO, 2014). Como, geralmente, as associações não têm a atividade econômica como objetivo principal, mas, em sua grande maioria, defendem interesses de grupos, surge uma outra forma, mais popular, de classifica- las quanto à finalidade. É aquela que nomeia tais organizações como filantrópicas, religiosas, de prestação de assistência social e cultural; que se destinam a atuar na defesa dos direitos das pessoas ou de classes específicas de trabalhadores e/ou empresas; que objetivam defender o meio ambiente; ou que se destinam a atuar como clubes de serviços. (CARDOSO, 2014. p. 10-18).

Desta classificação deriva a consideração dos tipos mais comuns. O primeiro é representado pelas associações filantrópicas, que reúnem voluntários que prestam assistência social a crianças, idosos e pessoas carentes; as associações de pais e mestres; as associações organizadas em defesa da vida; e as associações de consumidores, que se voltam para o

fortalecimento dos consumidores frente aos comerciantes, à indústria e ao governo. O segundo tipo contém as chamadas associações de classe, representando as entidades de defesa dos interesses de classes profissionais e/ou empresariais e de produtores; as organizações de defesa de interesses comuns e representação política; e, também, as associações culturais, desportivas e sociais ( CARDOSO, 2014, p. 19-20).

De maneira geral, Cardoso (2014), afirma que as principais características das associações são: 1) reunião de duas ou mais pessoas para a realização de objetivos comuns; 2) patrimônio constituído pela contribuição dos associados ou seus membros, por doações e/ou subvenções, não possuindo capital social, o que dificulta a obtenção de financiamento junto às instituições financeiras; seus fins podem ser alterados pelos associados; seus associados deliberam livremente; e, sobretudo, são entidades do direito privado e não público.

Enfim, as associações brasileiras têm sua existência resguardada e regulada pelas leis nacionais, mantendo, assim, ligações próximas com um Estado regulador e relacionam-se com o mercado em busca de alcançar seus fins. Estas características fazem com que algumas das associações do Brasil desempenhem o papel de terceira via entre o Estado e o mercado como pensara Hirst e Bader (2001).