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Bases legais da política da inclusão escolar no sistema educacional brasileiro

4. O MOVIMENTO PELA INCLUSÃO ESCOLAR

4.2. Bases legais da política da inclusão escolar no sistema educacional brasileiro

O Brasil, ao ser signatário da Declaração Mundial de Educação para Todos (1990) assumiu compromisso com a construção de escolas de qualidades. Além disso, ao ser signatário também da Declaração de Salamanca (1994) assumiu o compromisso com a construção de sistemas educacionais inclusivos, pois: “o princípio que orienta esta estrutura é o de que as escolas deveriam acomodar todas as crianças independentemente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, lingüísticas ou outras” (BRASIL,1994, p.23).

Na nossa legislação, a política de inclusão escolar está sendo assegurada pela garantia e obrigatoriedade do Estado com a educação, que deve ser para todos. A Constituição

Federal (1988), a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n º 9.394/96) estabelecem que a educação seja direito de todos.

As estatísticas oficiais do Ministério da Educação podem ser vistas na Figura 1. Elas indicam que no ano de 2006 havia 700.624 alunos com necessidades educacionais especiais matriculados no sistema educacional brasileiro, e que 375.138 destes alunos, (53,5%) estão matriculada em escolas regulares.

Entretanto, apesar do aumento do número de matrículas nas escolas regulares e nas classes comuns, nota-se que os serviços especializados segregados são mantidos e bastante utilizados.

A Figura 2 apresenta a distribuição das matrículas por nível de ensino, e indica que a grande concentração das matrículas é no ensino fundamental, o que nos leva a questionar se está ocorrendo continuidade no processo educativo destes alunos; além de questionar sobre de quem é a responsabilidade do atendimento educacional destes alunos no ensino infantil e médio:

Além do Estado garantir a educação para todos, os sistemas educacionais também devem reconhecer a diversidade do alunado. A escola deve se adaptar aos alunos e não o contrário. Desta maneira, o ensino especializado fica também garantido por lei. A Constituição Federal assim estabelece: “atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência, preferencialmente na rede regular de ensino” (BRASIL, 1988).

A Resolução CNE/CEB nº 2/01 “Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica” evidência, além do ensino especializado, outras medidas para que as necessidades educacionais dos alunos sejam atendidas. No item III do art.8 dispõe que as escolas da rede regular de ensino devem prever e prover na organização de suas classes comuns:

III- flexibilizações e adaptações curriculares que considerem o significado prático e instrumental dos conteúdos básicos, metodologias de ensino e recursos didáticos diferenciados e processos de avaliação adequados ao desenvolvimento dos alunos que apresentam necessidades educacionais especiais, em consonância com o projeto pedagógico da escola, respeitada a freqüência obrigatória (BRASIL, 2001).

A Figura 3 apresenta a evolução das matrículas nas classes comuns das escolas regulares de 2002-2006. Os dados oficiais evidenciam que no ano de 2006 era maior o número de matrículas de alunos, em comparação com o número de alunos com suporte de serviços especializados (136.431), em classes comuns sem os serviços pedagógicos

especializados, o que pode ser preocupante visto que estes apoios podem ser importantes para o sucesso da escolarização destes alunos na classe comum.

Para que a política de inclusão escolar se efetive, deve haver uma reestruturação do sistema de ensino para que os alunos sejam satisfatoriamente atendidos na escola regular. Os métodos tradicionais de ensino devem dar lugar a métodos mais contextualizados com a realidade escolar e social de cada alunado.

Outra mudança, diz respeito à adoção da legislação brasileira do termo necessidades educacionais especiais para se referir aos alunos com deficiência. Este termo aparece no documento da Declaração de Salamanca (1994). A Secretária de Educação Especial do Ministério da Educação (SEESP), no art. 5º, da resolução CNE/CEB nº 2/01- Diretrizes Nacionais para a Educação Especial na Educação Básica define o conceito de educandos com necessidades especiais, em referência aos alunos que apresentarem no processo educacional:

- dificuldade acentuadas de aprendizagem ou limitações no processo de desenvolvimento que dificultem o acompanhamento das atividades curriculares, compreendidas em dois grupos:

a) aquelas não vinculadas a uma causa orgânica específica;

b) aquelas relacionadas a condições, disfunções, limitações ou deficiências;

- crianças com dificuldades de comunicação e sinalização diferenciada dos demais alunos, demandando a utilização de diferentes formas de linguagens;

aquelas relacionadas a condições, disfunções, limitações ou deficiências; altas habilidades/superdotação e grande facilidade de aprendizagem. (BRASIL,2001)

Apesar da definição do termo necessidades educacionais especiais, a delimitação a respeito do atendimento dos alunos por tipo de deficiência ainda continua sendo contraditoriamente mantida. A figura 4 apresenta os dados oficiais sobre a distribuição das matriculas segundo categoria de deficiência.

Este quadro além de evidenciar que a grande quantidade de alunos é diagnosticada na condição de “deficiência mental” (291.130 de 700.624 matrículas), ainda revela que estes são os alunos mais matriculados nos serviços segregados, mesmo existindo uma política anunciada de inclusão escolar. Entretanto, em função da falta de procedimentos e diretrizes para identificar o alunado com deficiência mental cumpriria investigar como e por quem esses alunos estão sendo identificados.

A legislação nacional, ao defender a obrigatoriedade do Estado com a universalização do ensino, construção de escolas de qualidades, bem como a necessidade da reestruturação das instituições escolares e o provimento de serviços especializados para o atendimento escolar dos alunos com necessidades educacionais especiais, criou um terreno bastante fértil para a implementação de políticas educacionais inclusivas.

Contudo, a legislação ainda apresenta algumas ambigüidades que podem ir contrárias ao movimento da inclusão escolar. A principal diz respeito ao termo preferencial ao se referir a matrícula dos alunos com necessidades educacionais especiais na classe comum. O

preferencial pode variar conforme contextos culturais e sociais, e se não for monitorado, pode ser utilizado como justificativa para que os alunos com necessidades educacionais especiais sejam marginalizados da classe comum. Seria oportuno que a legislação nacional defendesse a matrícula na classe comum, mas obrigatoriamente com os apoios necessários. Assim, poderíamos garantir a matrícula de todos os alunos na classe comum, contanto com os apoios necessários, com os conhecimentos especializados vindos da área da Educação Especial.

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