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2.2 Água de consumo humano

2.2.5 Bebedouros Públicos A origem e conceito

A história dos bebedouros públicos transporta-nos para Roma com a construção de aquedutos para o abastecimento de água potável às casas, quartéis militares, casas de banhos públicos, jardins públicos, fontes públicas, poços e campos agrícolas. A maioria destes aquedutos eram subterrâneos de forma a manter a água livre de agentes patogénicos causadores de doenças ou contaminações premeditadas por parte dos seus inimigos (Salzman, 2006; Salzman, 2013; Ivanov, 2015).

Segundo Ribeiro & Martins (2012) os sistemas de abastecimento de água às cidades foram modernizados através da construção de fontes e chafarizes, criando pontos de reunião e de socialização. Adquirindo importância enquanto equipamento urbano de carácter estético na imagem da cidade (Estrela, 2017).

Desde sempre que a água foi um factor relevante para o desenvolvimento da humanidade e crescimento da economia, como é o exemplo da história da cidade de Lisboa. Apesar de nascida junto a um dos mais belos estuários, o Tejo, sarcasticamente, não detinha de água para atender às necessidades da população (Pires, 2014; Silva,

Sara Alcântara 23 2015). Situação que se arrastou durante vários séculos e por vários reinados (Carreira, 2012; Silva, 2015). Contudo, e embora vagarosamente, foram sendo desenvolvidas soluções para este problema. Em 1220 por ordem do Rei D. Afonso III foi construído o primeiro chafariz público de Lisboa, o Chafariz d´El-Rei (Figura 3) e por aí consecutivamente (Silva, 2015; Estrela, 2017).

Figura 3 - Chafariz d'El-Rei (Wikipedia)

Todavia o problema de falta de água para abastecimento da cidade, só se encontraria parcialmente resolvido anos mais tarde, entre 1733 e 1799 com a construção do Aqueduto das Águas Livres mandado construir por D. João V, no século XVIII. A construção do Aqueduto das Águas Livres na cidade de Lisboa determinou o posicionamento de diversas fontes, fontanários e chafarizes públicos em diferentes lugares da cidade, criando, desta forma, uma revitalização e reestruturação da malha urbana, melhorando o espaço público para os seus cidadãos e transeuntes, atravessando no seu trajecto os concelhos de Sintra, Loures, Amadora e Lisboa (Neves, 2012; Pires, 2014). Esta importante obra levou a cidade de Lisboa desenvolver-se em termos urbanísticos, de salubridade e higiene da população (Silva, 2015).

Segundo Pires (2014) a água era captada em várias nascentes nas zonas de Belas, Carenque e Caneças, entre outras, e transportada ao longo de galerias, túneis e aquedutos subsidiários até ao Aqueduto principal, que conduzia ao Reservatório da Mãe de Água das Amoreiras, em Lisboa, local onde o abastecimento era feito através de uma rede de galerias subterrâneas, até aos diversos chafarizes existentes, onde a população se abastecia (Pires, 2014). Até 1822, construíram-se cerca de 122 chafarizes nas freguesias urbanas e nas suas áreas periféricas, alguns destes encontram-se na Figura 4. Enquanto

Sara Alcântara 24 as obras de construção de novos chafarizes se realizavam, a Câmara começou a receber propostas para a constituição de companhias destinadas a fornecer água ao domicílio e a suprir a falta de água para outras necessidades.

a) b)

c) d)

Figura 4 - a) Chafariz de S. Sebastião da Pedreira (1787); b) Chafariz do Rato (1754); c) Chafariz do

Carmo (1769); d) Chafariz das Janelas Verdes (1774) (EPAL, 1995)

Estas pessoas que entregavam água ao domicílio ficaram mais conhecidas pelo nome de “aguadeiros”, ilustrado na Figura 5, e só se faziam sentir junto das residências da população mais abastarda (Carreira, 2012). Para além da função de abastecimento de água potável, tinham também a função de bombeiro. A maioria destes trabalhadores era

Sara Alcântara 25 de origem galega, dando origem ao provérbio popular “trabalha com um galego” (O Bombeiro Portuguez, 1883; Gomes, 2012). A razão para tal, devia-se à falta de emprego em Espanha à época (Leira, 2007).

Figura 5 - Aguadeiro (Biblioteca Nacional de Portugal, cota PI-3677-P)

Em Portugal o saneamento básico só se regularizou a partir do século XX, quando o abastecimento público de água começou gradualmente a ganhar terreno, a par disso, os chafarizes e fontanários, foram tornando-se, pouco vitais à cidade, uma vez que a sua principal função deixara de fazer sentido.

Devido ao aumento da população, regularização do saneamento básico e diminuição do espaço urbano, em Londres por volta de 1859 desenvolveram-se bebedouros públicos constituídos por um espigão que impulsionava um fluxo constante de água fresca, fluindo em uma bacia, estes continham ainda um copo de metal preso por uma corrente à sua estrutura, como representado na Figura 6 (Dunlap, 1917; Mingle, 2015). Este conceito de bebedouro público rapidamente ganhou peso em outras grandes cidades do mundo. No entanto, estudos epidemiológicos demonstraram que a utilização do copo de metal por várias pessoas ajudava a disseminar doenças como hepatite A, HSV4, infecções virais do trato respiratório, este facto levou à proibição deste modelo entre 1909 e 1912 em quase todos os países (Dunlap, 1917; Guion, 2015; Mingle, 2015).

4 Vírus do herpes simples

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Figura 6 - Bebedouro público de partilha de copos construído, em Abril de 1859, no muro da

igreja de St. Sepulchre, Snow Hill (Mingle, 2015)

Em 1906, Lutero Haws, inspector de saúde pública e canalizador a tempo parcial, tendo observado as crianças de uma escola partilharem o mesmo como copo de metal para beber água, ficando incomodado com a situação, desenvolveu a primeira torneira de pressão, ou the bubbler (Figura 7), forçando a água projectar-se para cima, como uma fonte vertical (Ivanov, 2015; Bellis, 2016).

Figura 7 - The bubbler (Ivanov, 2015)

Em poucos anos a inovação foi generalizada, e por volta de 1920, todos os

bubblers5 foram inclinados em um ângulo de 45º para desviar a saliva de cair directamente no bico da saída de água, bem como de evitar o tocar dos lábios por parte das pessoas (Dunlap, 1917; Guion, 2015; Ivanov, 2015), como demonstra a Figura 8. Rapidamente o mercado foi dominado por duas empresas a de Halsey Taylor e Luther

Sara Alcântara 27 Haws, conhecidos como os pais da modernização da imagem do bebedouro público (Salzman, 2013; Ivanov, 2015; Bellis, 2016).

Os bebedouros públicos são vistos como um indicador-chave das atitudes culturais de uma nação, na medida que expõem o melhor e o pior de uma sociedade. A sua presença e persistência como constituinte do espaço urbano, só por si, reflecte o reconhecimento da sua importância na vida dos seres humanos (Ivanov, 2015). Como é exemplo o papel humanitário que os bebedouros públicos desempenham nas sociedades quando nos referimos aos sem-abrigo. A maioria das pessoas pode dar-se ao luxo de comprar uma garrafa de água ou um refrigerante nas máquinas de vending ou simplesmente entrar em um café/restaurante e pedir um copo de água quando os dias estão quentes. Mas os sem-abrigo, “habitantes” da rua geralmente são indesejados nos estabelecimentos.

Actualmente os bebedouros públicos são designados como peças de infra- estrutura urbana de pequena escala que permitem a prestação de serviço ou de apoio a uma determinada actividade vinculada, conferindo conforto em meio urbano, como também conectados a alguma função simbólica (Pires, 2014). Como também são encarados como soluções ambientais, na medida, em que conseguem ajudar na redução do enorme peso de poluição provocado pelas garrafas de plástico e assegurar a sustentabilidade dos recursos hídricos, bem como de ainda promoverem um estilo de vida saudável (Cardoso, 2010; Ivanov, 2015). Todo o propósito à volta da sua criação teve como base o fornecimento de água potável à população, de forma contínua, inócua e universal. Hoje em dia encontram-se variadíssimos tipos de bebedouros como por exemplo os que se encontram representados na Figura 9.

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a) b)

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e) f)

Figura 9 - Bebedouros: a) Praia da Costa da Caparica; b) Parque Infantil de Telheiras; c) Passeio

Marítimo de Carcavelos; d) Junto à praia de Caxias; e) Aeroporto de Hong Kong; f) Estocolmo

2.2.6 Campanhas para fomentar o consumo da água