• Nenhum resultado encontrado

BELENZINHO: A FORMAÇÃO DE COMPLEXOS INDUSTRIAIS

CAPÍTULO 1: UMA INICIATIVA INÉDITA E O ABRIGO DE SUAS AÇÕES

1.2 ORIGENS DOS BAIRROS BELENZINHO, BOM RETIRO E SANTO

1.2.1 BELENZINHO: A FORMAÇÃO DE COMPLEXOS INDUSTRIAIS

A área onde hoje se situa o bairro veio a ser conhecida pelos paulistanos por volta de 1880 devido ao ar reconhecidamente puro e aos vastos pomares cultivados em chácaras pertencentes à elite paulistana, que tornaram o local uma estação climática. O nome Belém advém da construção da paróquia São José do Belém em 1897. A criação do distrito Belenzinho se dá a partir do desmembramento da área da região mais abrangente denominada Brás, por meio da Lei nº 623 de 26 de junho de 1899.

Conforme relato de Jacó Penteado em seu livro “Belenzinho 1910” ao analisar o artigo 2º da referida lei, observa-se que a área que compreendia o novo distrito era bastante extensa abrangendo desde “a Rua Bresser até quase à Ladeira da Penha, e do Tietê ao alto da Mooca e Tamanduateí. Mais tarde, porém, com a criação do distrito do Tatuapé, ficaria bem reduzida” 13.

______________________

13 Dentre a bibliografia específica sobre as origens deste bairro, o livro Belenzinho, 1910: Retrato de uma época de Jacó Penteado, é dos raros que abordam alguns aspectos

referentes ao surgimento do local. Escrito como livro de memórias, ressalta de forma autobiográfica fatos da vivência do autor no bairro.

Em planta geral da capital paulista datada de 1897, poucas ruas existiam no traçado onde se situava o Belenzinho, muitas delas sem denominação. Dentre as denominadas, encontra-se a Avenida Álvaro Ramos, então conhecida pela alcunha de “rua do pedregulho” em função da extração de areia e pedras que ocorria no local. A Rua Padre Adelino (onde se situa o SESC Belenzinho) tem seu nome em referência ao padre Adelino Jorge Montenegro, proprietário de extensa chácara no local e que além do sacerdócio exercia a função de advogado, atuando entre a capital e a cidade de Santos.

Por volta de 1910, com o crescente processo de industrialização da cidade, instalam-se na região as primeiras indústrias destinadas a fabricação de vidro, chamadas então de cristalerias, sendo a pioneira delas a “Germania” de propriedade do imigrante de origem alemã Guilherme Klimburger, seguida de outras como a Barone, Progresso e Venturelli.

Eram em sua maioria pertencentes a imigrantes italianos, portugueses ou espanhóis e supriam as demandas de fabricação de copos e de garrafas para envasamento de bebidas como cerveja e licores. Com elas abrem-se opções de emprego, o consequente povoamento e o crescimento comercial da região com a implantação de indústrias de segmentos diversificados, notadamente as de produção têxtil, ampliando o mapa da área numa grande área fabril.

No final do século XIX os domínios das chácaras situadas na zona leste da capital paulista foram se transformando em bairros operários. Pioneiro no parque industrial da época era o setor têxtil. Conforme aponta Suely Rolnik “tanto no censo de 1907 como no de 1920, aparece claramente que o único ramo realmente fabril, possuindo maior grau de mecanização, de concentração de operários e utilização de energia elétrica, era o setor têxtil. Os bairros do Brás, Belém e Moóca aí concentravam o maior número de estabelecimentos fabris, onde trabalhavam cerca de 2.500 operários, metade deles dedicando-se às tecelagens” (ROLNIK apud VASQUES, 2005, p.78).

Na atualidade, os complexos industriais que se instalaram no bairro Belenzinho a partir do início do século XX deram lugar à expansão imobiliária na forma de condomínios verticais. Exceção feita ao local onde hoje se instala a Administração Central do SESC São Paulo e o SESC Belenzinho, área onde originalmente se ergueu a Sociedade Anônima Moinho Santista Indústrias Gerais.

Surgida em Santos (SP) em 1905, a Sociedade Anônima Moinho Santista tinha como foco de suas atividades a compra e moagem de trigo e outros cereais, nacionais e estrangeiros, como também a comercialização de farinhas e farelos para a fabricação de massas e congêneres. Foi no ano de 1907 que os gerentes João Ugliengo (um jovem italiano especializado na arte moageira) e Oscar Lins Ribeiro convenceram o então presidente e sócio majoritário da empresa, José Puglisi Carboni, a armar uma infraestrutura que possibilitasse a produção dos tecidos para a sacaria. Por cálculos, constataram e demonstraram ao proprietário as vantagens em fabricar as embalagens para a farinha, frente aos ônus obtidos mediante à compra do produto pronto para o uso. Tal proposta deu início às atividades têxteis da companhia que, mais tarde, um tornou-se o maior complexo têxtil da América Latina.

A crescente expansão dos negócios no ramo leva a Sociedade Moinho Santista a instituir a Fiação Santista ou Fabrica Belenzinho, mais conhecida como Lanifício Santista, onde se produziriam fios para malharia, tricô, crochê e tecidos para vestuário social masculino. Instalada na Avenida Álvaro Ramos, suas máquinas de fiação de lã começaram a funcionar oficialmente no dia 02 de janeiro de 1935; foi a primeira no país a produzir fios de lã em novelo de qualidade comparável aos principais fios franceses produzidos na época.

Pouco tempo depois, na década de 1940, em virtude das demandas, novas construções são acrescidas à fábrica. O plano de ampliação projetado pelos engenheiros Gandolfo e Locke previa a construção de um novo prédio de quatro andares, o que levaria a uma reorganização interna e estabeleceria uma nova paisagem no local.

Construída em etapas, as ampliações do edifício são então constituídas por duas torres: a leste, mais antiga, com fachada voltada para a Rua Tobias Barreto, frente ao cemitério Quarta Parada; a oeste, mais nova com fachada direcionada à Avenida Álvaro Ramos. Juntas somavam 32 mil m2 de terreno e 55 mil m2 de área construída. A produção era integrada, da lavagem ao produto final. Entre as duas torres, um “grande galpão horizontal destinado às etapas de preparação dos fios e fiação”(VASQUES, 2005, p.127).

O crescimento obtido pela empresa fez com que, na década de 1970, novas fábricas fossem construídas, adquiridas e modernizadas para as necessidades da companhia, deslocando em parte a produção total do conglomerado empresarial.

Em 1988, com a aquisição de nova fábrica na cidade de Santa Isabel (SP), o Moinho Santista no Belenzinho torna-se insuficiente pelo esgotamento do espaço físico necessário aos processos de produção; além do mais, alguns insumos como a água utilizada para o tingimento passam a limitar a expansão produtiva, uma vez que era fornecida por poços artesianos próprios, projetados para a a capacidade exata de instalação original da fábrica. Assim, maquinários e funcionários foram gradualmente transferidos para Santa Isabel, iniciando a desativação do Lanifício Santista. As atividades das instalações da Av. Alvaro Ramos são definitivamente encerradas em 1994. O aspecto de abandono contribui para a desvalorização do entorno e enfraquece o comércio local, uma vez que quando na ativa, a produção era ininterrupta e preenchia a área com suas luzes e movimento.

É ainda na década de 1990 que o grupo Bunge, que incorporou a Santista, realiza a venda da propriedade para o SESC São Paulo. Em 1998, de forma provisória e com aproveitamento das instalações em sua configuração original, é lançado o SESC Belenzinho, que adequou os espaços disponíveis para atividades culturais em conformidade com as linhas de ação do SESC.

Tais atividades se estenderam até o ano de 2005, dando lugar à construção da Administração Central do Regional SESC São Paulo e ao SESC Belenzinho a partir de novos projetos arquitetônicos.

Inaugurada em 04 de dezembro de 2010, a unidade SESC Belenzinho é estruturada num extenso complexo de lazer configurado num edifício horizontalizado composto por subsolo, térreo e 3 pavimentos inserido numa área de terreno que compreende 32 mil m² e uma área construída de aproximadamente 38 mil m². O projeto é de autoria do arquiteto Ricardo Chahin e contempla um teatro; espaços para apresentações cênicas, conjunto aquático; áreas especiais para a prática de atividades esportivas; galpão cultural; clínica odontológica; comedoria; áreas para convivência e leitura, oficinas, espaço para cultura digital; espaço de exposições; lanchonete; loja e estacionamento.

Documentos relacionados