• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO II ATOS DE PRAZER

3.6 Belo Horizonte e Ouro Preto – conexões

A curta distância de 98 quilômetros que separa as cidades de Belo Horizonte e Ouro Preto não é o único fator que influencia a conexão artística entre as duas

16

cidades. O fato histórico de Belo Horizonte ter sido construída para substituir Ouro Preto como capital do Estado de Minas Gerais é mais um ponto de aproximação entre ambas. Esta condição histórica contribui para a aproximação entre as duas urbes, já que muitas famílias, que antes moravam em Ouro Preto, migraram para a nova capital, sem deixar de lado as raízes ouropretanas. Ainda em 2013, algumas dessas famílias mantêm moradia em ambas as cidades.

Por causa da aproximação entre as duas cidades, artistas de Belo Horizonte realizam trabalhos na cidade de Ouro Preto. Alguns deles convidados pela Prefeitura ou pela Universidade local. Essa é uma relação recorrente desde os anos de 1970, que pode ser entendida pela natural aproximação entre os artistas de Belo Horizonte e alguns funcionários de ambas as instituições ouropretanas. Alguns desses funcionários, inclusive, residentes na capital mineira.

A partir do golpe de 1964, Ouro Preto passou a ser um local privilegiado, onde os artistas poderiam realizar o seu trabalho em uma época de difícil liberdade de expressão. A história e a arquitetura da cidade atraiam e inspiravam artistas e pensadores de várias partes do mundo como, por exemplo, o grupo teatral Living Theatre (1947), que durante os anos de 1970 realizou atividades na cidade. Em 1986, a Fundação Clóvis Salgado convidou a artista Carmen Paternostro (1948) para dirigir o espetáculo Triunfo – Um delírio Barroco, encenação inspirada no Triunfo Eucarístico. Participaram da montagem a Companhia de Dança do Palácio das Artes e o Grupo Galpão.

A conexão entre as cidades de Belo Horizonte e Ouro Preto teve um importante capítulo no ato da criação do Curso Livre e do curso de Graduação em Artes Cênicas da UFOP. Na ocasião, artistas e professores da capital foram fundamentais para a consolidação das atividades. Entre os criadores dos cursos destacaram-se os trabalhos de Marina Miranda, Raul Belém Machado, Rogério Santos, Rufo Herrera, Tarcísio Ramos, Walmir José e Wilson Oliveira. Em seguida outros professores de Belo Horizonte engrossaram o corpo docente do Curso de Graduação, entre eles: Aline Andrade, Elvina Caetano e Paulo César Bicalho.

Além do trabalho nos dois cursos, artistas da capital realizam interessantes conexões com a comunidade teatral ouropretana, a partir de oficinas, workshops, masterclasses e seminários. Um importante veículo para essa conexão são os festivais de inverno da cidade. Inicialmente promovidos pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)17, depois, promovidos pela própria Prefeitura de Ouro Preto (entre 2001 e 2004) e, em seguida, pela Universidade Federal de Ouro Preto (a partir de 200518). Esses eventos abrem espaço para que inúmeros artistas residentes em Belo Horizonte promovam as suas atividades na cidade de Ouro Preto, durante o mês de julho de cada ano. Um bom exemplo de conexão bem sucedida entre artistas belo-horizontinos e ouropretanos é o trabalho da Professora Doutora Mariana Lima Muniz (UFMG). A partir do ano de 2003, ainda como aluna da Universidad de Alcalá (Espanha), a professora realizou uma série de oficinas com técnicas de improvisação para a cena e de Match de Improvisação para alunos da UFOP. Como resultado prático do trabalho, destaca-se o surgimento da Imprópria Companhia de Teatro (2003). Primeiro como grupo universitário e depois como grupo profissional, a Imprópria vem realizando seus espetáculos na capital e no interior de São Paulo.

3.6.1 O Festival Estudantil de Teatro (FETO)

Idealizado e realizado pela Associação No Ato, o FETO é outro exemplo da possibilidade de conexão que se estrutura entre as duas cidades em 2013. O Festival, criado em 1999, ocorre na cidade de Belo Horizonte e tem como objetivos “difundir as artes cênicas no meio estudantil, oferecer conhecimento, espaço e mídia para apresentações de peças teatrais, e promover atividades que buscam o desenvolvimento dos estudantes” (FETO, 2013). O evento aceita

17

Os Festivais de Inverno da UFMG ocorreram em Ouro Preto entre os anos de 1967 e 1979, e posteriormente, entre 1993 e 1999.

18

No ano de 2004 a Universidade Federal de Ouro Preto promoveu o Fórum das Artes. O evento ocorreu em Ouro Preto paralelamente a outros dois festivais, o Festival de Inverno de

Ouro Preto (promovido pela Prefeitura de Ouro Preto) e o Festival de Inverno do Centro Universitário de Belo Horizonte (UniBH). O Fórum das Artes de 2004 foi o embrião do Festival

de Inverno promovido pela UFOP, que a partir de 2005 recebeu o nome de Festival de Inverno

inscrições de trabalhos de estudantes de qualquer grau de escolaridade, configurando-se, assim, como importante espaço para a apresentação de cenas universitárias, entre elas, as criadas pelos alunos da Universidade Federal de Ouro Preto.

A partir do ano de 2007, o Festival promoveu uma subdivisão em duas categorias. Uma delas, denominada Teatro na Escola, destina-se aos espetáculos de estudantes do ensino fundamental, médio e graduação. A outra categoria, denominada Escola de Teatro, destina-se aos trabalhos de escolas de teatro. Ambas as categorias aceitam trabalhos dirigidos aos públicos infantil, infanto-juvenil e adulto. Os espetáculos podem ser apresentados em teatros, espaços alternativos ou na rua.

O FETO oferece peças, palestras, debates, encontros e oficinas em sua programação. Realiza intercâmbios com grupos e artistas profissionais que, algumas vezes, apresentam espetáculos como convidados na programação oficial do evento. O Festival premia os espetáculos de destaque, apesar de não tratar a competitividade como foco das ações. No somatório das 14 edições, o evento recebeu 578 inscrições de todas as regiões do país. Apresentou 192 espetáculos com mais de 2.500 estudantes participantes. O público global do evento é de 45.200 espectadores.

Documentos relacionados