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Bem-Estar e Variáveis Associadas: Estudos empíricos

1.2 O Bem-Estar

1.2.3 Bem-Estar e Variáveis Associadas: Estudos empíricos

Desde as actividades mais elementares da vida humana, o Bem-Estar (e a sua mensuração), surge como indicador pessoal de ajustamento salutar, comportando um papel activo e consequente.

De modo breve indicaremos alguns exemplos de investigações que ilustram o contributo do Bem-Estar desde o nível fisiológico, passando pelo psicológico/mental, social (laboral), até ao fim do ciclo vital. Mencionaremos ainda alguns estudos mais latos que podem facultar orientação às políticas públicas para o Bem-Estar na sociedade.

Num enfoque físiológico, Lemola, Ledermann e Friedman (2013) realizaram uma investigação em que se averiguou a relação entre o Bem-Estar e a duração do sono tendo encontrado uma associação directamente proporcional entre ambos. Assim, a variabilidade do tempo total de sono revelou-se um preditor quer da Satisfação com a Vida, quer do Afecto Positivo.

Na área de transição entre o âmbito físico e psicológico encontrámos um estudo de particular interesse devido à partilha de alguns aspectos metodológicos com o estudo actual. Sendo o Bem-Estar um factor tão relevante, parece que nem sempre é bem compreendido. Lal et al. (2011) investigaram díades (adolescentes com artrite idiopática e os seus cuidadores)

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procurando saber os motivos clínicos e psicológicos da discrepância na percepção entre ambos. Esta foi analisada relativamente à Incapacidade Física, à Dor e ao Bem-Estar. Os investigadores concluíram que as díades acordaram mais na percepção da Incapacidade Física seguida da Dor e manifestaram maior desacordo na percepção de Bem-Estar. O estudo esclareceu ainda que foi nos doentes com patologia mais severa e com sintomas depressivos que a discrepância de percepções foi maior. Relativamente ao Bem-Estar, a diferença contou com 18% dos casos em que o informante subestimou o Bem-Estar do adolescente e, em 16% dos casos sobrestimou-o. Através de fórmulas calculadas mediante análises de regressão, Lal et al. (2011) estimaram que, em cada ano de duração da doença, diminuía o desacordo relativamente às cotações sobre Bem-Estar.

Ao nível da Saúde Mental, Burns (2011) reportou a importância do Bem-Estar Psicológico como mediador (e preditor) do Bem-Estar Subjectivo no seu papel sobre a Resiliência e sobre o controlo da Depressão e da Ansiedade. Esta conclusão foi complementada com análises de correlação em que se verificou, ao nível da situação corrente dos respondentes, que o Afecto Positivo esteve correlacionados com a Saúde Mental nas variáveis de Ansiedade (-.44) e Depressão (-.57) e com o Bem-Estar Psicológico nas variáveis de Resiliência (.59) e Mestria/ Locus de Controlo (.59). Do mesmo modo, ficaram patentes as associações ao nível do Afecto Negativo com a Saúde Mental nas variáveis de Ansiedade (.61) e Depressão (.59) e com o Bem-Estar Psicológico nas variáveis de Resiliência (-.31) e Mestria (-.45).

No âmbito social, Cardoso (2011) refere que o Bem-Estar Psicológico de uma amostra de 60 mulheres foi promovido, por um lado, pela recompensa inerente à Qualidade do Papel no Trabalho em conjunto com a Satisfação Marital e, por outro, pela recompensa inerente à Qualidade do Papel no Trabalho em conjunto com a recompensa do Papel Parental. Cardoso (2011) conclui sobre a importância da multiplicidade de papéis (casada, mãe e trabalhadora) no encalço do Bem-Estar Psicológico.

O ciclo vital também oferece desafios ao Bem-Estar. À medida que a idade avança e a saúde e forças vão diminuindo a percepção de Bem-Estar pode ser afectada. Se a isto somarmos um contexto adverso, como estar preso, somos levados a pensar o que pode (em tais condições) promover o Bem-Estar? Guzman (2012) realizou um estudo com presos filipinos (doentes crónicos idosos) e averiguou que a percepção da felicidade varia consoante o perfil da pessoa avaliada. Aliás, no seu estudo apurou que as diferenças entre respondentes superaram as semelhanças. A percepção da felicidade esteve ainda muito ligada à família e à religião, podendo também variar com as motivações internas ao indivíduo. Foi significativo

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na amostra de Guzman (2012) o papel da enfermeira no seu cuidado holístico, disposta a proporcionar uma relação intersubjectiva de respeito e autenticidade.

Passando agora a um olhar panorâmico e em termos mais globais podemos constatar que o mundo mudou muito nas últimas décadas. Um turbilhão de oscilações económicas, sociais e políticas desafiam a capacidade das pessoas para se adaptarem e viverem, simultaneamente, felizes e congruentes (Kállay, 2013). Como se vive uma boa vida sem que a experiência e as referências de um mundo frenético ajudem à orientação? Uma pesquisa feita por Kállay (2013) com húngaros da Transilvânia, compreendendo idade, género e educação, revelou um padrão decrescente nas medidas de Bem-Estar Subjectivo e Psicológico (exceptuando a Aceitação de Si), apenas invertido após os 56 anos. As mulheres surgiram com melhores indicadores de Bem-Estar Psicológico que os homens e uma das estratégias que emergiu para contrariar o decréscimo do Bem-Estar, foi o uso de modalidades adaptativas para lidar com as emoções. Ainda no campo sociológico, Diener et al. (2010) destacam a relação entre Bem- Estar e Florescimento sendo o último, uma pedra de toque para a evolução da sociedade enquanto tal. Estes autores associaram o Florescimento à Competência (.67), Sociabilidade (.64), Autonomia (.54), Domínio do Meio (.73), Crescimento Pessoal (.67), Relacionamentos Positivos (.65), Objectivos de Vida (.63) e Aceitação de Si (.70).

Ao nível da sociedade contemporânea, particularmente a ocidental, notamos uma propensão para o Bem-Estar imediato podendo sobrevir alguns riscos, se for estimulado unidimensionalmente. Huta (2007) elaborou uma pesquisa em que pediu para os participantes desempenharem algumas actividades. Percebeu que o Bem-Estar hedónico foi mais forte durante a actividade mas decresceu com o tempo e, por seu lado, o Bem-Estar eudaimónico foi mais fraco mas fortaleceu-se com os esforços de persistência. Os participantes com cotações altas nos interesses eudaimónicos foram mais felizes (que os de cotações altas no carácter hedónico) no decurso de algumas actividades. O prolongamento do prazer após o término da actividade (nas pessoas com maior interesse hedónico) não aconteceu. O estudo de Huta (2007) parece reflectir que o Bem-Estar hedónico produz satisfação imediata e o eudaimónico fortalece o Bem-Estar de longo-prazo. Esta perspectiva sugere a preocupação, ao nível da sociedade moderna, de que um prazer circunstancial é um ideal incompleto, necessitando da promoção de acções que sensibilizem para apreciação de experiências a longo prazo, habilidades para enfrentar desafios no presente e conjugação de perspectivas de Bem- Estar integradas e duradouras.

Expomos então uma sinopse de conclusões sobre efeitos, contributos e aplicabilidade do Bem-Estar. Vários investigadores descrevem, pelo menos, quatro áreas da vida que melhoram

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consideravelmente por influência do Bem-Estar (Diener, 2012; Diener & Ryan, 2009). O primeiro é a saúde e longevidade em que um sistema imunitário mais forte, maior resistência a vírus, saúde cardiovascular incrementada e maior longevidade tendem a destacar-se. O segundo é o trabalho e o rendimento familiar com as pessoas mais bem-dispostas a alcançar maior produtividade e criatividade laborais e a ganhar mais dinheiro. Um terceiro ponto são as relações sociais onde surgem pessoas mais sociáveis, auto-confiantes, calorosas, com mais habilidades de liderança, mais laços sociais, mais amigos, gerando o seu próprio sistema de suporte social. Por último, os benefícios societários em que cidadãos que cotam mais alto no Bem-Estar estão associados a actividades pro-sociais, cooperação, altruístas, promotores de paz, democracia e menos intolerantes a grupos diferentes quer por nacionalidade quer por raça. Ainda assim, Diener e Ryan (2009) referem que níveis extremos de Bem-Estar Subjectivo podem cursar com comportamentos de risco sendo níveis moderados associados a um funcionamento individual e interpessoal mais adaptativo.

Quanto à aplicabilidade destas conclusões, e em consonância com a formulação de Csikszentmihaly (1990) que designa o flow como um exercício em cuja motivação e aptidão estão no auge, Diener e Ryan (2009) propõem que se acresça ao aspecto télico (objectivo) de uma acção a consciência do aspecto paratélico (sentido e valor inerente). Do mesmo modo, facultar à rotina quotidiana treino sobre dimensões como gratidão, perdão, compaixão e espiritualidade parecem ser intervenções com alcance significativo.

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