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2.3. Yacon (Smallanthus sonchifolius)

2.3.4. Benefícios do yacon e dos fruto-oligossacarídeos

O TGI humano deve ser capaz de desempenhar suas funções fisiológicas normalmente. Por isso é necessário manter um equilíbrio da microbiota com o acréscimo de probióticos, prebióticos e simbióticos na alimentação, evitando que microrganismos patogênicos predominem e causem efeitos prejudiciais às funções normais do organismo (BIELECKA; BIEDRZYCKA; MAJKOWSKA, 2002). Além disto, a obesidade está diretamente relacionada à inflamação do tecido adiposo e os prebióticos podem desempenhar um papel extremamente importante na redução de peso, modulando assim a resposta inflamatória (DEWULF et al., 2011). Estima-se também que o consumo excessivo de gordura por um indivíduo pode estimular o aumento de bactérias nocivas ao corpo humano e ao mesmo tempo reduzir a quantidade de bifidobactérias e lactobacilos (MEYER; STASSE-WOLTHUIS, 2009).

De acordo com a ANVISA (BRASIL, 2008), a definição de propriedade funcional dos FOS é de que “contribuem para o equilíbrio da flora intestinal e seu consumo deve estar associado a uma alimentação equilibrada e hábitos de vida saudáveis”. A porção do produto pronto para o consumo que atenda os benefícios da alegação nutricional deve ser de no mínimo 3 g de FOS, para os alimentos sólidos, e 1,5 g para os líquidos, sendo que este valor não poderá ultrapassar 30 g na recomendação da ingestão diária (BRASIL, 2008). Diversos estudos comprovaram os benefícios deste tipo de carboidrato para a saúde animal (AYBAR et al., 2001; DELZENNE; CANI; NEYRINCK, 2007; BARONI et al., 2008; RIBEIRO, 2008; PEREIRA et al., 2009; HABIB et al., 2011; LOBO et al., 2011); humana (WILLIANS, 1999; CANI et al., 2006; SILVA et al., 2006; GEYER et al., 2008; PARNELL; REIMER, 2009; PETERS et al., 2009; TEIXEIRA et al., 2009; PRUDÊNCIO, 2009, HESS et al., 2011) e também no manejo do DM2 em humanos (YAMASHITA; KAWAI; ITAKURA, 1984; ALLES et al., 1999; LUO et al., 2000; GENTA et al., 2009). Neste contexto, o yacon foi estudado em sua forma in natura ou incorporado como um novo ingrediente em diversos produtos alimentares como xaropes, chips, pães, bolos e por meio da elaboração de sua farinha, com objetivo de melhorar a qualidade nutricional desses alimentos, aumentar a adesão ao seu consumo e proporcionar benefícios à saúde de seus usuários.

Os FOS reduzem a absorção de glicose, tornando mais lento seu aparecimento na corrente sanguínea, regulando assim os níveis pós-prandiais de insulina (CABELLO, 2005). No estudo realizado por Ribeiro (2008), utilizando uma concentração de 0%, 5%, 10% e 15% de farinha da polpa de yacon na dieta de 24 ratos albinos machos diabéticos por um período de 17 dias. Foi observada uma redução da glicemia pós-prandial nos primeiros 30 minutos nos três grupos que receberam a farinha de yacon quando comparados ao grupo controle (0% de farinha de yacon). Esses achados demonstram que a farinha de yacon pode trazer efeitos positivos para o controle da doença, com redução da glicemia nos picos pós- prandiais. Na glicose em jejum, não foi encontrada diferença entre os quatro grupos. Fato este que os autores explicaram ser influenciado pela composição da dieta dos animais, em que os alimentos influenciam de forma mais direta no índice glicêmico do que no metabolismo da glicose em jejum. Pereira et al. (2009) também não encontraram diferença em seu estudo com ratos machos albinos e adultos, com diabetes induzida por aloxana, e que foram alimentados com 30 g de ração com 10% de farinha de yacon ou ração semipurificada padrão AIN-93 com 1 mL/dia do extrato de yacon. Ao final do experimento, nem a farinha nem o extrato de yacon apresentaram o efeito hipoglicemiante esperado. Apesar disto, os autores perceberam uma tendência à estabilização dos níveis glicêmicos.

A quantidade de FOS dependerá da região de plantio da mesma, da época de colheita e armazenamento, entre outros fatores.

Silva et al. (2006), em seu estudo com nove mulheres saudáveis com idade entre 17 e 43 anos, objetivaram avaliar a resposta glicêmica da ingestão de 250 g de yacon in natura de duas regiões geográficas diferentes de Santa Catarina (RS) (VILHENA, CÂMARA, KAKIHARA, 2000). Após jejum de 12 horas, as participantes ingeriram, no primeiro dia, 50 g de carboidratos através do pão branco (alimento controle de referência). No segundo dia ingeriram a mesma quantidade de carboidrato na porção estabelecida do yacon in natura. A glicemia pós-prandial foi medida de 15 em 15 minutos, por duas horas, e na última hora de 30 em 30 minutos. Os resultados demonstraram que as raízes de yacon provocaram um rápido aumento na glicemia nos primeiros 30 minutos seguido de uma queda acentuada até uma hora após o consumo da raiz, não apresentando diferença estatística significativa entre elas. Os FOS contidos na raiz de yacon foram capazes de reduzir

em 70% a glicemia pós-prandial após o consumo da raiz quando comparado à glicemia analisada após o consumo do alimento controle.

O mesmo padrão de resposta relatado no estudo de Silva et al. (2006) foi observado por Teixeira et al. (2009), que avaliaram a alteração do índice glicêmico de 20 estudantes universitários saudáveis que consumiram, durante dois dias, suco de laranja puro (amostra padrão) ou adicionado de 15% de yacon (amostra modificada). Os voluntários, após 12 horas de jejum, consumiram após a primeira coleta de sangue, 50 mL de um dos tratamentos citados e mais três coletas foram realizadas após 30, 60 e 120 minutos. Os indivíduos que consumiram a amostra padrão sofreram um aumento da glicemia após a segunda coleta e na terceira coleta uma queda significativa. Já para os indivíduos que consumiram o suco modificado, o aumento da glicemia após a segunda coleta foi gradual acompanhado de uma queda significativa na terceira coleta. Houve ainda diferença significativa da resposta glicêmica entre o suco padrão e o modificado na primeira e segunda coleta e ambos os sucos foram capazes de estabilizar a glicemia de jejum nas coletas subsequentes. Porém, o suco com adição de yacon contribuiu para que o aumento e declínio da glicemia acontecessem de forma gradual. Os autores consideram o uso da raiz na dieta de indivíduos portadores de diabetes, devido à capacidade de resposta glicêmica encontrada.

Yamashita, Kawai e Itakura (1984) avaliaram o efeito destes na glicose de jejum e no perfil lipídico em 18 indivíduos diabéticos durante um período de 14 dias. A dose utilizada foi de 8 g de FOS adicionados no café ou na geleia de café de acordo com a preferência de consumo. O grupo controle, com 10 indivíduos, recebeu 5 g de sacarose em substituição aos FOS. Após as duas semanas de ingestão, o grupo que recebeu os FOS teve uma redução significativa na glicose de jejum, colesterol total e LDL. Fato este não encontrado para o grupo controle e nem para os níveis de HDL e triacilgliceróis de ambos os grupos.

No estudo duplo-cego controlado por placebo de Genta et al. (2009), 55 mulheres adultas obesas e com resistência insulínica tiveram suas características antropométricas, de glicose em jejum e do perfil lipídico analisadas. O grupo experimental, com 40 mulheres, que consumiu xarope de yacon com aproximadamente 10 g de FOS, durante 120 dias, não teve alteração significativa na glicemia de jejum. No entanto, em relação ao perfil lipídico, foi encontrada uma

redução significativa nos níveis de LDL, comparados com os níveis antes da intervenção. O mesmo ocorreu com o peso corporal e IMC, que apresentaram redução significativa para o grupo experimental ao final do estudo. Nenhum efeito foi encontrado no grupo controle (n = 15) que recebeu xarope placebo. Os resultados mostraram um efeito benéfico à saúde do xarope produzido com yacon, na quantidade e tempo de uso citados. Porém, este mesmo experimento, inicialmente, tinha um terceiro grupo com a proposta de consumo do xarope de yacon com 20 g de FOS. O grupo foi excluído antes da metade do estudo, uma vez que o consumo desta quantidade trouxe efeitos gastrointestinais indesejáveis para as participantes, contrariando a recomendação máxima da ANVISA citada anteriormente (30 g).

Não parece ter uma quantidade máxima estabelecida em que sintomas indesejáveis, como náuseas e diarreias, certamente aparecerão. Isto é percebido quando se compara o estudo de Genta et al. (2009) com o de Parnell e Reimer (2009), que em 21 adultos com sobrepeso ou obesidade, observaram que a ingestão de 21 g de FOS durante 12 semanas promoveu perda de peso significativa nestes indivíduos, quando comparado ao grupo placebo que utilizou maltodextrina (n=18). A composição corporal foi avaliada pela absortometria radiológica de dupla energia (DEXA) e não houve alteração dos parâmetros de gordura corporal (% e Kg) e de massa magra (Kg). Os autores justificaram que a perda de peso encontrada pode estar relacionada à menor ingestão energética. Resultado semelhante foi observado por Cani et al. (2006) em cinco indivíduos com IMC entre 18,5 Kg/m2 e 27,4 Kg/m2 que utilizaram 16 g diárias de FOS (8 g durante o café da manhã e 8 g após o almoço) seguindo suas dietas habituais e sem o uso de medicamentos controlados. Os autores observaram aumento da saciedade durante o desjejum e diminuição da ingestão energética durante o dia pelos participantes. O método para avaliar estas respostas foi a escala visual analógica (VAS).

Além dos efeitos relatados acima, os FOS ainda podem aumentar a absorção de minerais como cálcio, magnésio, fósforo e ferro (VALENTOVÁ et al., 2006; PASSOS; PARK, 2003; LOBO et al., 2011) e acelerar a frequência de evacuação em indivíduos saudáveis (GEYER et al., 2008). Este último estudo,

crossover, duplo-cego controlado por placebo, avaliou os efeitos do xarope de yacon

e de um xarope placebo com 6,4 g de FOS ou maltodextrina em 16 indivíduos (oito homens e oito mulheres) saudáveis por um período de duas semanas cada. Ao final

das duas semanas em que os participantes consumiram xarope de yacon com os FOS, a frequência de evacuação o aumentou de 1,1 vezes para 1,3 vezes por dia.

Baseado nas evidências científicas citadas e nos benefícios encontrados com a utilização de FOS, aliados aos poucos estudos realizados com a inclusão do yacon, nota-se a necessidade de mais estudos entre portadores de DM2. A farinha de yacon pode se tornar uma alternativa de consumo para pessoas portadoras desta doença, uma vez que os FOS podem conferir de um terço a 50% do poder adoçante do açúcar, podendo ser uma alternativa para substituição do açúcar na fabricação de diversos produtos (PENHA; MADRONA; TERRA, 2009).

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