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Quantidade de Beneficiários

EMITIDOS VALORES DOS BENEFÍCIOS EMITIDOS (EM R$)

4. BENEFÍCIOS PREVIDENCIÁRIOS DO RGPS NA ECONOMIA DOS MUNICÍPIOS DO MARANHÃO

Para entender a importância da participação dos benefícios previdenciários de aposentadorias e pensões na vulnerável Economia da grande maioria dos municípios do Estado do Maranhão é indispensável entender que, historicamente, uma sociedade só pode ser considerada avançada quando suas forças produtivas também avançarem, movidas pelas inovações tecnológicas decorrentes da evolução e da aplicação da ciência no processo produtivo, e que o financiamento da proteção previdenciária seja contemplado pelo sistema de produção.

No século XX, o avanço da ciência promoveu revolução no Mundo do Trabalho em vários segmentos das atividades econômicas por meio das inovações tecnológicas introduzidas nos processos de produção industrial e de comercialização. Na agricultura também houve grandes transformações, mesmo reconhecendo que este segmento da Economia é menos sensível que os demais à divisão do trabalho, pois, como ressalta Adam Ismith, “a natureza da agricultura não comporta tantas subdivisões do trabalho, nem uma diferenciação tão grande de uma atividade para outra, quanto ocorre nas manufaturas (SMITH, 1776)”.

Como no Brasil, a exemplo de muitos outros países, os recursos necessários ao pagamento de aposentadorias e pensões originam-se majoritariamente de contribuições previdenciárias incidentes sobre as folhas de pagamentos de salários dos trabalhadores, a divisão do trabalho tem efeito direto no financiamento dos sistemas de Previdência Social, pois, como nos ensina David Ricardo,

a mesma causa que eleva o preço do trabalho não aumenta o valor das máquinas, e, portanto, a cada aumento de capital, uma proporção maior dele será empregada em maquinaria. Com o aumento do capital, a demanda de trabalhadores aumentará, mas não na mesma proporção desse aumento: a taxa será necessariamente decrescente (RICARDO, 1817).

O pensamento de Ricardo, diante da conjuntura econômica deste início de século XXI aponta para uma encruzilhada, pois existem duas opções de caminhos de superação a seguir: a superação positiva, que promove a inclusão socioeconômica da população excedente; ou a superação negativa onde a população excedente para sobreviver migra para as ocupações como, motoristas em vans de passageiros, “pilotos” de moto-táxi, vendedor ambulante de lanches, churrasquinhos, etc. Todas essas pessoas, via de regra, estão fora da cobertura do Regime Geral de Previdência Social, pois as mesmas não possuem a cultura de contribuir por vontade própria como contribuintes individuais, assim como não lhes sobram recursos para tanto e, diante de tantas necessidades prementes, as necessidades de longo prazo ficam para segundo plano.

Para enfrentar as dificuldades de proteção previdenciária no longo prazo deste início de século XXI, diante do desenvolvimento tecnológico que promove a extinção de postos de trabalho e a diminuição do número de novos postos, e, frente à tendência mundial de financeirização da riqueza em detrimento do processo de produção, novas alternativas de fontes de financiamento da Previdência Social devem ser buscadas na interação desta com a Economia.

Se pelo lado arrecadação das contribuições previdenciárias constata-se a profunda inter-relação da Previdência Social com o processo de produção e acumulação da Economia, por outro lado, as aposentadorias e pensões e demais benefícios previdenciários23 também influenciam na determinação da taxa de crescimento econômico, ao transformarem aposentados e pensionistas em consumidores de bens e serviços oferecidos pelo mercado. Daí a importância de se conhecer a trajetória histórica da Economia do Maranhão para entender porque tantos municípios maranhenses chegaram até aqui economicamente fragilizados, portanto pouco contribuindo para o financiamento da proteção previdenciária, e com sua população vivendo em níveis vexatórios de pobreza ou extrema pobreza, cujo quadro só não é pior por causa da decisiva participação dos benefícios

23 Benefícios Previdenciários: Aposentadoria, Pensão, Auxílio-Doença, Acidente do Trabalho, Salário-

previdenciários de aposentadorias e pensões na renda das famílias neles residentes.

A Tabela 10 mostra, de forma inequívoca, a experiência dos Municípios do Maranhão a partir da Constituição Federal de 1988, uma vez que antes da implantação das conquistas constitucionais por meio das Leis 8.212./1991 e 8.213/1991 que aprovaram o Regulamento do Custeio da Previdência Social e o Regulamento dos Benefícios da Previdência Social, respectivamente, a relação PIB/Benefícios Previdenciários era de 4,99%.

Tabela 10 – Evolução PIB/Benefícios Previdenciários no Maranhão

(Em Cr$ milhões e R$ milhões a preços correntes)

ANO PIB BENÉFÍCIOS %BENEFÍCIOS/PIB

1990 Cr$ 253.420 Cr$ 12.659 4,99

2000 R$ 9.207 R$ 1.085 11,78

2010 R$ 45.255 R$ 5.423 11,98

FONTE: Elaboração própria a partir dos dados SÍNTESE/DATAPREV e IBGE

Entre os anos de 1991 e 2012, a relação PIB/Benefícios Previdenciários tem variado entre 11% e 12%. No item 4.1, os números vão demonstrar que em muitos municípios a relação percentual é ainda maior, comprovando a importância dos benefícios previdenciários na formação da renda das famílias e, por via de consequência, na composição do PIB municipal no segmento Serviços.

Uma população com condições mínimas de sobrevivência contribui para a melhoria dos indicadores sociais do espaço geográfico em que vive. Os Benefícios Previdenciários, conforme evidenciam os dados do capítulo 5, contribuíram para a melhoria do dos indicadores sociais dos municípios do Maranhão a partir de 1991, uma vez que rena familiar e condições de sobrevivência caminham juntas na definição dos patamares em que se posicionam no decorrer do tempo.

4.1 – Economia estadual, arrecadação e benefícios previdenciários

A trajetória da Economia do Maranhão começa no século XVII sob o domínio do Império Colonial de Portugal24, antes da invasão francesa de 1612 efetivada pelo oficial da Marinha da França, Daniel de La Touche, senhor de Ravardiere, uma vez que em 153125 o governo português doou a Capitania do Maranhão ao historiador João de Barros, cujo sócio, Aires da Cunha, tentou a primeira expedição para o território maranhense. De acordo com Bandeira Tribuzi, “o Maranhão, contudo, só veio a ser integrado, de fato, a esta forma de dominação colonial, a partir do século XVII, depois que os franceses, no objetivo de criar a França Equinocial, fundaram São Luís”. (TRIBUZI, 1981, p.12). E para compreender o atual estágio de insignificância econômica da grande maioria dos municípios maranhenses na composição do Produto Interno Bruto, tanto estadual quanto nacional, assim como – por via de consequência – sua baixíssima participação na geração e na arrecadação de contribuições previdenciárias, não se deve perder de vista que “era em assuntos de agricultura, indústria, comércio e navegação, que o governo português desenvolvia com maior vigor o seu espírito de intervenção, restrições e monopólios” (LISBOA, 1976, p.413), pois até hoje os efeitos da intervenção, das restrições e dos monopólios ainda são sentidos de forma devastadora, merecendo uma atenção especial, quando alternativas de mudança de rumos são buscadas.

24 Segundo o economista maranhense Bandeira Tribuzi, no seu livro Formação Econômica do Maranhão, “Portugal implantou no século XVII um Império Colonial cuja dimensão ultrapassava seu efetivo poder de expansão e domínio. [...] O esforço de domínio desta vastidão determinou sobremaneira o modelo de colonialismo português que não poderia, por aquelas contingências, de forma alguma, evoluir no sentido das transmigrações inglesas dos séculos XVIII e XIX, que possibilitaram o surgimento dos Estados Unidos, Canadá, Austrália, Nova Zelândia e África do Sul – de que resultaram países desenvolvidos, como consequência da transferência de massas populacionais de nível civilizacional elevado que foram atuar com seu capital e tecnologia sobre áreas virgens de grande potencial de recursos naturais.” (TRIBUZI, 1981, p.11)

25 Também de acordo com o jornalista maranhense João Francisco Lisboa (1812/1866), em seus Apontamentos para a História do Maranhão publicados entre 1852 e 1853 no Jornal de Timon, “a primeira

expediçãoque se tentou para o Maranhão foi a de Aires da Cunha, [...] sócio do insigne historiador João de Barros, a quem el-rei D. João III fez doação desta capitania, no ano de 1531”. (LISBOA, 1976, p.69). “Era a capitania, que lhe coube em sorte, a do Maranhão, parte cententrional do Brasil, e a mais enobrecida dele em grandeza e rios, fertilidade de plantas, abundância de animais e fama de riquíssimas minas”. (LISBOA, 1976, p.70).

O perverso e discricionário domínio português26 desde sua fundação fez com que a Economia do Maranhão fosse praticamente inexistente até a primeira metade do século XVIII, pois de acordo com João Lisboa, até o final do século XVII a população do Estado era de cerca de dez mil habitantes e “os processos agrícolas e industriais eram grosseiros e nulos, por isso mesmo que todo o gênero de indústria existia manietado, e quase sufocado pelos privilégios e restrições” (LISBOA, 1976, p.427), com o agravante de o comércio funcionar, segundo ele, por meio de permutas, com o pano grosso de algodão funcionando como moeda de troca. O mesmo pensamento é partilhado pelo economista Bandeira Tribuzi ao ressaltar que

a atividade econômica maranhense no século XVII evoluiu, assim, de forma extremamente precária, e em sentido quase autárquico (basta citar que houve anos em que nenhum navio aportou em São Luís), malogrando por completo a tentativa de incitá-la através da criação da primeira Companhia de Comércio do Maranhão e Grão-Pará, contra cujo monopólio Bequimão liderou a revolta de 1684. (TRIBUZI, 1981, p.12)

O mencionado economista entende que esse fraco desempenho da economia maranhense no primeiro século de sua existência no período colonial é decorrência da escassez de mão-de-obra economicamente ativa, uma vez que esta era representada por apenas 240 casais português-açorianos, indígenas em situação de escravidão e um grande contingente economicamente ocioso de administradores coloniais civis e militares. Somente a partir da segunda metade do século XVIII é que aprecem os primeiros rudimentos sistematizados que podem ser chamados de economia, representados pelas exportações de produtos agrícolas.

26 Apontamentos para a História do Maranhão: “Franqueava-se, e impedia-se alternativamente a exploração

das minas, conforme as vantagens ou prejuizos que delas vinham ao fisco. Os motivos dessas resoluções opostas, ora se disfarçavam sob as aparências de um zelo paternal que aconselhava os vassalos a preferência à agricultura, única e verdadeira fonte de riqueza, ora se declaravam sem rebuço, como a respeito do ferro, que se supunha ter no Maranhão, e cuja fábrica, dizia o governo, não convinha, porque sendo o ferro a melhor droga que ia ao reino, o comércio dela ficaria impossibilitado.” (LISBOA, 1976, p. 414)

“Desta fortuna nunca gozaram as companhias e estancos que durante o século XVII a metrópole introduziu no Brasil e no Maranhão; pelo contrário, esses monopólios, perfeitamente inúteis em relação às necessidades que eram destinados a suprir, tornaram-se tão vexatórios que o mesmo governo, que os criara e protegera, viu-se obrigado a suprimi-los pouco depois.” (LISBOA, 1976, p.413)

Em suma, o Maranhão, desde a fundação até à independência política do Brasil em relação a Portugal, se caracterizou por uma Economia rudimentar voltada para a exportação e com monocultura agrícola de alternância anual entre algodão e arroz. No período do Brasil Império, a Economia de exportação seguiu voltada para a monocultura do algodão, ciclo que começou a diminuir depois de 1850, em decorrência da proibição inglesa do tráfico de escravos, que deixou os proprietários dos grandes latifúndios rurais dependentes das taxas de reprodução dos escravos já traficados para manutenção e ampliação da força de trabalho no sistema de produção agrícola. Esse ciclo do algodão foi interrompido ainda no século XIX, pois a última produção significativa ocorreu em 1882, com a exportação de 16.114 toneladas de algodão.

Após 1888, com a extinção oficial da mão-de-obra escrava, começou o curto ciclo para transformar o Maranhão Agrícola em Maranhão Industrial, quando “em risco a empresa rural que sustentava secularmente o processo produtivo maranhense, os empresários comerciais e rurais que conseguiram salvar o capital da debacle voltaram suas expectativas para a Indústria em surto no Sul do País” (TRIBUZI, 1981, p.22). Esse ciclo meteórico acabou em 1895, e foi nesse quadro adverso economicamente que o Estado adentrou o Século XX: empresas e empresários, culturalmente incompetentes na utilização de mão-de-obra remunerada no campo, migram para a indústria e chegam à falência por inexperiência nesse segmento do mercado e pela política econômica nacional voltada para a exportação do café como contrapartida das volumosas importações e da já elevada dívida externa do Brasil.

Somente a partir da segunda década do século XX a Agricultura entra no ciclo do babaçu, acompanhado do couro, do que ainda restava da cultura do algodão e da indústria têxtil. Esse ciclo manteve-se em crescimento até à II Guerra Mundial e se estabilizou no decorrer da década de 1960 e, a partir de então, o território maranhense começou a ser cedido ao capital nacional e internacional pelos sucessivos governos estaduais. Transcorridos quase dois séculos, a Economia do Maranhão do século XXI não mudou muito a sua trajetória histórica iniciada sob o domínio da Coroa portuguesa, pois segundo José de Ribamar Sá Silva

a economia maranhense contemporânea tem como destaque, em uma de suas dimensões, o funcionamento de grandes projetos vinculados ao extinto Programa Grande Carajás e que estão voltados essencialmente para o processamento intermediário de minério e para a produção de matérias- primas, cujo destino principal são os mercados da União Europeia e da Ásia. [...]. Uma outra face da economia, porém, revela que grande parte da produção agropecuária continua fortemente marcada por técnicas intensivas em mão-de-obra e apresentam poucos aprimoramentos em relação às práticas agrícolas de criação de animais, dominantes no conjunto do país até meados da década de 1960. [SILVA, 2006, p.113-114]

As atuais dimensões da Economia do Maranhão apresentam um forte e recorrente viés de exportação de produtos primários representados por minérios, e por segmentos de agronegócios da soja e da pecuária, dominados pelo mercado financeiro internacional. O restante das atividades agrícolas que se encontram entregues à própria sorte – sem qualquer política de vitalização e revitalização por parte do Governo estadual – apontam para a manutenção das mesmas perspectivas sombrias no longo prazo, isso se não houver uma forte política econômica de mudança de rumos, pois a esmagadora maioria da população não se beneficia, em termos de emprego e renda, do sistema produtivo das citadas atividades econômicas. O agravante: as exportações de produtos rurais estão isentas de contribuições previdenciárias sobre o seu valor comercial, diferentemente dos produtos rurais comercializados dentro do mercado nacional, que contribuem sobre sua comercialização para o financiamento das aposentadorias e pensões rurais do Regime Geral de Previdência Social. Nada melhor para comprovar do que os números e a composição das exportações maranhenses constantes da Tabela 11 e do Gráfico 5.

Tabela 11 – Exortações do Maranhão 2007 a 2011 - USR$ 1.000

PRODUTO 2007 2008 2009 2010 2011 TOTAL 2.177.155 2.836.303 1.232.814 2.920.267 3.047.103 Ferro 1.004.031 1.483.598 398.374 1.709.210 1.268.512 Alumínio 857.055 845.411 382.571 698.590 984.003 Soja 266.802 448.608 382.361 412.071 597.817 Outros 49.267 58.686 69.508 100.396 196.771 Fonte: Elaboração própria com dados da internet www.desenvolvimento.gov.br Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio-SECEX/DEPLA.

O ferro, que representa quase a metade anual de toda a pauta das exportações maranhenses, encontra-se presente apenas nos municípios de Açailândia, Bacabeira e São Luís, enquanto o alumínio só consta das exportações da Capital do Estado. Já o segmento da soja é dominado pelo Município de Balsas e em 2008 participou com 63,74% da composição da pauta de exportações de soja do Estado e, nos anos seguintes, com 59,17% em 2009, 59,17% em 2010 e 61,94% em 2011, respectivamente.

Merece uma atenção especial a entrada do Município de Godofredo Viana na pauta e exportações, a partir de 2010, alterando de forma ascendente o item “Outros” da Tabela 12, ao participar de sua composição, respectivamente, com 15,5% em 2010 e 33,72% em 2011, com exportação descrita como “ouro em barra, bulhões dourados e fios”.

Gráfico 5 – Exortações do Maranhão 2007 a 2011- Percentuais

Fonte: Elaboração própria com dados da internet www.desenvolvimento.gov.br Ministério do Desenvolvimento Indústria e Comércio-SECEX/DEPLA.

O Gráfico 5 mostra de forma incontestável a forte concentração da pauta de exportações maranhenses nos segmentos econômicos de ferro, alumínio e soja,

com estas três atividades respondendo, juntas, por 97,74% de tudo o que foi exportado em 2007, mantendo a mesma tendência com mais de 93% até 2011. Além da concentração das exportações em tão poucos produtos, outro aspecto preocupante da Balança Comercial do Maranhão é a relação adversa entre exportações e importações observada no mesmo período, conforme o demonstrado na Tabela 12.

Tabela 12 – Balança Comercial do Maranhão em US$ 1.000 FOB