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Capítulo 3 – Redes em destinos de enoturismo

3.4. Benefícios

Os stakeholders de um destino necessitam de trabalhar em conjunto de forma a gerar serviços turísticos que se complementem, proporcionando assim uma experiência completa ao consumidor. A ligação entre os diversos stakeholders permite também um maior desenvolvimento da região, bem como da economia e da cultura, levando à criação de

diversos postos de trabalho (Bruwer, 2003). No enoturismo este trabalho coletivo dos stakeholders é visível através das rotas do vinho que proporcionam a promoção da região onde se localizam e fomentam as parcerias locais. Estas rotas são definidas como (…) “caminhos assinalados e anunciados com sinais apropriados ao longo do percurso que perseveram valores naturais, ambientais e culturais, vinhas e vinícolas, sozinhas ou associadas abertas ao público” (…) (Santeramo, Seccia, & Nardone, 2017, p. 73).

O desenvolvimento de redes no enoturismo pode também ser sentido através dos (…) “benefícios que cooperativas históricas ou associações regionais podem trazer para novas redes, através da sua experiência e equipamentos, e, adicionalmente, encorajando atividades promocionais conjuntas” (Brás, Costa, & Buhalis, 2010, p. 1624). No entanto, é necessário que exista uma relação de confiança entre os parceiros para que ambos possam tirar proveito dos benefícios da cooperação (Brás et al., 2010) .

Algumas regiões de produção vinícola têm mais potencialidades do que outras, a forma como as empresas operam nas redes vai ser diferente tendo em conta as suas estratégias, as instituições e empresas com quem têm parcerias. Adicionalmente as diferenças culturais e os comportamentos no que concerne à cooperação também vão influenciar as redes (Dalmoro, 2013).

As rotas trazem benefícios tanto para as organizações que nelas participam, como para os visitantes e para os residentes. Relativamente aos benefícios das redes para as organizações, a criação de redes permite que os destinos onde estas parcerias existem possam ser criados, por exemplo, pacotes turísticos. Estes pacotes turísticos, podem contribuir para o desenvolvimento do destino, pois são uma forma de levar os turistas a pernoitar no destino e a conhecer melhor o destino (Velissariou, 2009). “Nas regiões vinícolas recentes e em desenvolvimento, é essencial que seja criada uma lista de negócios, dentro da industria turística local, para que a colaboração e networking entre as vinícolas e outros tipos de empresas turísticas, como alojamentos, restaurantes, e sítios possam ser desenvolvidas” (Velissariou, 2009, p. 8). De acordo com outro estudo, a nível nacional, efetuado por Brás, Costa & Buhalis (2010), onde foi analisado o funcionamento das redes da rota da Bairrada, foi possível verificar que esta rota contribuiu para a promoção da região. Os proprietários das propriedades inseridas na rota beneficiaram da promoção da sua empresa, bem como dos seus produtos e serviços (Brás et al., 2010). Alguns proprietários declararam ainda que têm

usufruído de um aumento das vendas e da reputação da sua empresa devido à implementação da rota na região (Brás, Costa, & Buhalis, 2010).

No que concerne os benefícios das redes para os visitantes, as rotas do vinho permitem ao turista desfrutar das paisagens naturais, bem como das diversas atividades que as quintas podem oferecer, sendo as rotas do vinho o caminho que transportará às atrações principais do enoturismo. (Bruwer, 2003). Um dos fatores que influencia a decisão dos turistas na escolha do destino é a proximidade entre as atrações. Geralmente, a distância entre as vinícolas é extensa, devido ao espaço ocupado pelas vinhas, assim torna-se importante o estabelecimento de relações com operadores que efetuem o transporte dos turistas entre as vinícolas. (Bruwer, 2003).

As rotas podem ainda trazer benefícios para os residentes sendo estes benefícios analisados por um estudo de Xu, Barbieri, Anderson, Leung & Rozier-Rich (2016). O estudo efetuado na Carolina do Norte numa região chamada Piedmont, no qual foi analisado o desenvolvimento do enoturismo, tendo em conta as perceções dos residentes, verificou-se que a maioria dos inquiridos estão bastante enraizados na comunidade, pois vivem há vários anos na região (Xu, Barbieri, Anderson, Leung, & Rozier-Rich, 2016). No entanto, apesar dos vários anos a viver na região estes têm pouco envolvimento nas atividades relacionadas com o enoturismo (Xu et al., 2016).

No que concerne os benefícios pessoais para os residentes os resultados do estudo na Carolina do Norte mostram que estes consideram que o desenvolvimento do enoturismo na região contribui para que tivessem uma maior preocupação com os recursos culturais e naturais da região (Xu et al., 2016). No entanto, as rotas de vinho do ponto de vista dos residentes não aumentaram a sua qualidade de vida e o valor das suas propriedades, não sendo notados grandes impactos negativos após o estabelecimento das vinícolas a não ser um pequeno aumento dos impostos e dos preços dos bens e serviços da comunidade local (Xu et al., 2016). Por outro lado, consideraram que o enoturismo teve impactos positivos na economia sobretudo através dos gastos feitos pelos turistas, levando ao aumento de postos de trabalho com a criação de novos negócios locais (Xu et al., 2016).

No estudo da região vinícola da Piedmont na Carolina do Norte, foi possível observar que à medida que os destinos se tornam mais turísticos, é necessário (…) “um maior enfoque no desenvolvimento de politicas no que concerne o estabelecimento de parcerias entre as vinícolas e o desenvolvimento do empreendedorismo local” (Xu et al., 2016, p. 284), de

forma a levar ao desenvolvimento económico das comunidades locais. Foi possível apurar também que é necessário que os locais sejam educados sobre os benefícios que o desenvolvimento do turismo pode trazer para a comunidade, no intuito de melhorar as suas atitudes no que concerne o turismo da região e levar a um desenvolvimento mais sustentável (Xu et al., 2016).

A criação de parcerias é um trabalho que deve ser efetuado de forma conjunta e com todos os participantes a trabalharem em sintonia. As rotas precisam de uma estrutura organizacional que consiga gerir e dinamizar a rede de forma a que esta seja capaz de se desenvolver e prosperar (Correia, Passos Ascenção, & Charters, 2004). Assim, (…) “elevados níveis de participação regional e cooperação baseada numa relação de confiança entre os atores regionais (tanto públicos como privados) atraem novos stakeholders, novas soluções de financiamento e programas de financiamento, novos projetos de uma qualidade notável, entre outros aspetos” (Brás, Costa, & Buhalis, 2010, p. 1626).

No entanto, apesar das parcerias constituírem uma mais valia para as empresas que as integram, existe, seguindo o estudo de Alonso (2011), alguma resistência na implementação das redes por parte dos serviços de restauração, o que pode levar à perda de clientes que procuram experienciar os produtos da região. Deste modo, é importante que sejam criadas medidas para contornar esta situação, pois a restauração é um serviço bastante importante para que o turismo na região se desenvolva, contribuindo para o aumento das receitas.

No documento Enoturismo no Alto Douro vinhateiro (páginas 39-43)