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Benefícios do RPG no ensino-aprendizagem

2 ENSINO DE GEOGRAFIA E O ROLE PLAYING GAME (RPG)

2.3 Uso do RPG como método didático no ensino de Geografia

2.3.2 Benefícios do RPG no ensino-aprendizagem

Nos anos 2000 após um crime ocorrido no Brasil que foi ligado ao RPG, e influenciado por tensões, entre religiosos e RPG, nos EUA, o RPG era visto como algo nocivo e ligado erroneamente a rituais de magia negra e satanismo. Essa visão preconceituosa limitou o uso do RPG em salas de aulas, restringindo as pesquisas. (VASQUES, 2008). A diminuição desse conflito, facilitou as pesquisas específicas que demonstravam os benefícios do RPG na educação, passando a se tornar uma nova ferramenta de ensino e aprendizagem.

O RPG pedagógico traz diversos benefícios, sendo considerado um jogo que proporciona uma relação social maior entre os participantes, estimula a pesquisa e a leitura, melhora o desenvolvimento social e intelectual do aluno, incentiva a resolução de situações problemas e aplicação dos conceitos no dia a dia e estimula a interdisciplinaridade (AMARAL, 2008).

GRANDO e TAROUCO (2008) discutem algumas potencialidades do RPG que auxiliam o ensino aprendizagem: Socialização, Cooperação, Criatividade, Interatividade e Interdisciplinaridade.

Socialização: Há a interação entre os participantes (jogadores e mestre) através do diálogo, trocando informações, interpretando cenas e relatando ações de seus personagens. Cooperação: Para o sucesso diante dos desafios propostos pelo Narrador, há uma necessidade de cooperação entre os jogadores. Em uma aventura cada personagem apresenta uma função no grupo, onde cada personagem ajuda na fraqueza do outro.

Criatividade: Estimula os jogadores a usarem de sua imaginação para pensar como a narrativa está acontecendo, além do que os mesmos podem criar seus personagens, aparência, históricos e personalidades. Imaginação é o combustível do RPG.

Interdisciplinaridade: A narrativa pode abordar múltiplas disciplinas integralizando tópicos em comum. Sobre RPG e interdisciplinaridade, será melhor discutido no próximo item (3.1).

O RPG também incentiva a trabalhar com as múltiplas inteligências de Howard Gardner. O ser humano ao nascer tem o mesmo potencial que todos, e esse potencial se desenvolve de acordo com as relações e estímulo com o meio, porém cada potencial é desenvolvido de forma diferente, dessa forma a inteligência não pode ser medida de forma igual para todos os indivíduos. (MORAES, 2005) (PEIXOTO ET AL. 2017).

No total são apresentadas 9 tipos de inteligências, vejamos como cada uma delas se relaciona com o RPG.

1) Linguística: “manifesta-se na habilidade para lidar criativamente com as palavras nos diferentes níveis da linguagem (semântica, sintaxe), tanto na formal oral como na escrita” (MORAES, 2005, p. 44). O RPG é um jogo que funciona a base do diálogo, leitura e interpretação.

2) Lógico – matemático: “além da capacidade para solucionar problemas envolvendo números e demais elementos matemáticos.” (MORAES, 2005, p. 44). Esta inteligência está ligada na capacidade de compreensão do sistema que é utilizado no RPG, onde este é uma sequência de lógica matemática, sendo a ficha de personagem construída dentro de um sistema de pontos e cabe aos jogadores traçar estratégias dentro das regras com uma lógica matemática para superar os desafios. Jogadores com grande capacidade desta inteligência são capazes de construir “combos”, tornando seu personagem quase invencível.

3) Pictórica: “é a faculdade de reproduzir, pelo desenho, objetos e situações reais ou mentais, de organizar elementos visuais de forma harmônica, estabelecendo relações estéticas entre elas.” (MORAES, 2005, p. 44). Este tipo de inteligência se relaciona com o RPG quando mestres ou jogadores desenham seus personagens, cenário, mapas e etc.

4) Musical: “é a inteligência que permite a alguém organizar sons de maneira criativa, a partir da discriminação de elementos como tons, timbres e temas.”. (MORAES, 2005, p. 44). O RPG aceita vários tipos de ferramentas, em parte os estímulos sonoros vêm de fora, é comum alguns grupos colocarem músicas temáticas de acordo com a narrativa. No RPG eletrônico as trilhas sonoras são essenciais e tocam de acordo com o cenário e ou situação. No LARPG, onde a interpretação está acima de tudo é onde o jogador poderia melhor pôr em prática suas habilidades musicais.

5) Intrapessoal: “é a competência de uma pessoa para conhecer-se e estar bem consigo mesma, administrando sentimentos e emoções em favor de seus projetos.” (MORAES, 2005, p.44). Dentro do RPG seria a capacidade de lidar com os fracassos dentro do jogo, como RPG não se trata de vencer ou perder, mas há o sucesso e fracasso, ele trabalha com a ideia de que o fracasso não é a derrota, e os acontecimentos ocorridos dentro do jogo, não deve ser levado para o mundo real. 6) Interpessoal: “é a capacidade de uma pessoa de se dar bem com as demais,

compreendendo-as, percebendo suas motivações e sabendo como satisfazer suas expectativas emocionais.” (MORAES, 2005, P.44). É a capacidade de socialização

dentro do jogo, onde os participantes têm que se comunicar, pensar e traçar estratégias para vencer os desafios.

7) Espacial: “é a capacidade de formar um modelo mental preciso de uma situação espacial e utilizar esse modelo para orientar-se entre objetos ou transformar as características de um determinado espaço.” (MORAES, 2005, P.44). Esta é uma capacidade de grande importância dentro do RPG, diante da narrativa, os participantes através da imaginação tem que criar modelos mentais para compreender a história do jogo e traçar estratégias. Quando o mediador descreve um local ou uma cena, cabe aos jogadores imaginar a situação para definir suas ações.

8) Corporal-cinestésica: “é a inteligência que se revela como uma especial habilidade para utilizar o próprio corpo de diversas maneiras; envolve tanto o autocontrole corporal quanto a destreza para manipular objetos.” (MORAES, 2005, P.44). Este tipo de inteligência é estimulado especialmente nos LARPG, onde os jogadores devem interpretar os personagens dentro do possível, como um teatro.

9) Naturalista: “a habilidade de distinguir os seres vivos assim como a sensibilidade a outros aspectos da natureza.” (MORAES, 2005, P.44). Embora o RPG trabalhe com a natureza morta, a natureza viva pode aparecer dentro da narrativa, em alguns cenários existem personagens que são druidas, seres que extraem seu poder da natureza (de forma sustentável) para protegê-la.

O RPG consegue ter muitos benefícios para o ensino aprendizagem do aluno, além de trabalhar com múltiplas inteligências. O mediador neste momento é essencial ao planejar uma aventura de RPG, o que ajuda a transformar em uma metodologia interdisciplinar e inclusiva.

3. RPG E DISCUSSÕES METODOLÓGICAS