• Nenhum resultado encontrado

3. O Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa

3.1. O BESCL no contexto económico da época

O Banco Espírito Santo fundiu-se, em 1937, com o Banco Comercial de Lisboa, instituição criada em 1875, dando origem ao Banco Espírito Santo e Comercial de Lisboa (BESCL), considerado por Damas e Ataíde (2004) como aquele que, através da concessão de crédito, contribuía para o desenvolvimento económico do País, “por meio de operações bancárias correntes e dentro dos sãos

princípios de prudência” (Relatórios e Contas do BESCL, 1955).

Após o fim da II Guerra Mundial, as atividades empresariais ampliaram-se e desenvolveram-se sob a influência de diversos fatores positivos uma vez que a recomposição das economias europeias afetadas pelo conflito sentiram os efeitos no crescimento da intervenção financeira, devido ao aumento da procura por crédito bancário, nomeadamente por parte das empresas do setor industrial que tentavam corresponder às exigências de mercado. “O ano de 1949 parece ter marcado o fim da

primeira fase do reajustamento que a transição da economia de guerra para a economia de paz, necessariamente impunha” (Relatórios e Contas do BESCL, 1949). Os apoios do Plano Marshall

bem como os incentivos que o I Plano de Fomento (1953-1958) mobilizavam, impulsionavam o progresso económico, bem como a alteração das regras de condicionamento industrial que, ao aliviar restrições à iniciativa privada, incentivava novos projetos industriais contribuindo para o surto expansionista. A intensa contribuição da Banca comercial no financiamento de projetos inscritos no Plano de Fomento e a recetividade do mercado à emissão de obrigações de Bilhetes do Tesouro encorajavam o recurso à intervenção financeira, sendo que no final de 1959, 82% da carteira de valores flutuantes do BESCL era constituída por estes títulos. “Cabe aqui salientar uma orientação

já definida de aproveitar o dinamismo do sector bancário para mobilizar capitais que em parte são convertidos em promissórias ou obrigações para depois apoiarem iniciativas válidas” (Relatórios e

Contas do BESCL, 1969).

A relação da Banca com a economia situou-se no contexto do desequilíbrio entre o constante aumento das oportunidades de expansão de crédito e o volume daquele que as instituições privadas concediam. Por um lado havia o problema das taxas de juro, que fixadas em níveis baixos, originavam margens operacionais relativamente pequenas. As taxas de desconto para o papel comercial oscilavam entre 3% e 4%, enquanto, por sua vez, a remuneração dos depósitos à ordem iam até 1% e a dos depósitos a prazo variava entre 1% e 2%. As margens eram consideradas pelos Bancos como insuficientes para operar devido ao risco correspondente. As instituições que atuavam no estrito cumprimento da lei

confrontavam-se com alguma concorrência que, ansiosa por captar clientes e negócios, operavam com taxas superiores às estabelecidas para os depósitos e cobravam valores abaixo dos legais nas operações de crédito. Como as remunerações dos depósitos a prazo eram pouco atrativas, os fundos captados eram sobretudo provenientes de depósitos à vista, a chamada poupança preguiçosa, cuja natureza impunha cuidados especiais no que respeitava à sua aplicação, já que a defesa da liquidez constituía outra condicionante à expansão do crédito, daí que os Bancos fossem obrigados a enveredar pela contração da carteira comercial, por forma a melhorar a sua liquidez, ao mesmo tempo que procuravam diversificar as atividades, especializando-se no domínio das operações características dos mercados cambiais, da procura e oferta de fundos a curto e médio prazo (Damas e Ataíde, 2004).

Para contornar os problemas do enquadramento legal do crédito ao investimento, sendo o principal a proibição dos Bancos comerciais realizarem operações com um prazo superior a dois anos, as instituições optavam por uma das seguintes alternativas, ou faziam-nas a partir dos seus fundos próprios (Capital e Reservas), ou optavam pelo refinanciamento de operações de curto prazo, sucessivamente renovadas, sendo a última a mais frequentemente utilizada. A época era propícia ao incremento de relações entre a Banca e a indústria pois o sistema de convertibilidade externa facilitou as exportações e as importações, e promoveu um maior movimento cambial, gerando um maior proveito para ambos sectores, “se a primeira fornece à segunda meios de pagamento, crédito e por

vezes financiamento, a segunda ao atrair para si capitais e ao mobilizar meios de pagamento diversos, constitui simultaneamente um estímulo e reforço para as instituições bancárias” (Mendes,

1984, p. 374).

De acordo com Amaral (2013) as deficiências da estrutura de mercado, o quadro jurídico e as escassas garantias oferecidas pelos credores originavam um desfasamento entre as necessidades do País e a insuficiente redistribuição do crédito. Para ajustar o regime que regulava a atividade bancária à conjuntura de expansão foi introduzido o DL nº 41 403 de 27 de Novembro de 1957, que estabelecia as regras tendentes a promover e a orientar a distribuição de crédito para o desenvolvimento, e que consagrava as normas sobre o funcionamento do mercado financeiro, para além disso criou-se o Conselho Nacional de Crédito, órgão consultivo do Governo para a política de crédito, e dividiram os Bancos em várias categorias, de Estado, emissores, comerciais e de investimento, ignorando o problema do crédito ao investimento que, pela sua natureza, exigia vencimentos a médio e longo prazo. Os Bancos comerciais continuavam apenas a poder levar a cabo operações até 180 dias, limite que apenas em circunstâncias excecionais podia ser ultrapassado, restringindo significativamente a maximização das suas potencialidades, e como forma de garantir a contínua política de depreciação

da moeda, foi decidido que as intuições não poderiam exceder em 1,5% a taxa de redesconto do

Banco de Portugal, para as operações de desconto e empréstimos a curto prazo.

No fim da década de 50, o sistema bancário português tinha finalmente um enquadramento legal regulador do exercício da sua atividade contudo, a ausência de diretrizes para a questão das taxas de juro a atribuir aos depósitos, contribuía para aumentar o problema da concorrência descontrolada. Nos anos seguintes, e até ao final da década de 60, este seria um dos principais desafios para a Banca, em matéria de imposições legais, de entre os quais, alguns continuavam a tirar partido e proveito das deficiências da lei, “por nós, não acompanhámos a concorrência com condições que chegam a não

deixar margem para a sua aplicação à taxa legal” (Relatórios e Contas do BESCL, 1963).