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A biópsia endometrial para exame histológico é uma importante ferramenta na avaliação reprodutiva de éguas.

O principal valor desta técnica é a de oferecer base para previr a futura habilidade uterina de conduzir uma gestação a termo. Esta técnica é eficiente também em detectar mudanças citológicas e histopatológicas relacionadas com baixa fertilidade, que não são facilmente diagnosticadas por outros métodos. (Mc Kinnon & Voss, 1993).

Uma variedade de instrumentos tem sido usada para obter amostras endometriais aceitáveis. A mais utilizada é uma pinça Chevalier Jackson (Chas. F. tahackray Ltd., P.O. Box 171, Leeds LS1RQ Pilling Surgical Instrument Co., Fort Washington, PA) que fornece amostras de 1 a 2 cm de endométrio. Na ausência de anormalidades uterinas aparentes, apenas uma amostra pode ser suficiente e representativa do endométrio na sua totalidade. Como a cérvix uterina é facilmente dilatada, amostras podem ser obtidas em qualquer fase do ciclo estral. A arquitetura endometrial muda com o estágio do ciclo e a estação do ano e por esta razão, o técnico envolvido no exame deve ser informado do estágio do ciclo e dos achados anatomopatológicos na ocasião da coleta. (Kenney, 1978).

Os fixadores mais utilizados são formalina a 10% e solução de Bouin. A solução de Bouin aparentemente fornece uma amostra mais firme que a formalina, com menos distorção tecidual durante a secção. Depois de 2 a 4 horas em líquido de Bouin o tecido deve ser transferido para formalina antes que seja transportado para o laboratório. Excessiva fixação em solução de Bouin pode resultar em amostras muito densas, dificultando a coloração com hematoxilina.

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Após os procedimentos histológicos de rotina as secções são coradas em hematoxilina-eosina (Mc Kinnon & Voss, 1993).

As características histológicas observadas nas amostras da biópsia endometrial devem ser fisiológicas (cíclicas ou estacionais), patológicas ou artefactuais. O sólido conhecimento das alterações fisiológicas é necessário para permitir a interpretação de mudanças patológicas. Durante anestro as glândulas endometriais são inativas. As células epiteliais glandulares e luminais são cubóides ou escamosas. As células epiteliais têm um aumento na basofilia citoplasmática. Os ramos glandulares individuais têm um diâmetro seccional pequeno. Características histológicas do endométrio transicional não são claramente definidas. A correta interpretação é difícil em razão de comportamento estral errático. Durante esta transição do inverno para a primavera, ou seja, do anestro para a fase de ciclicidade o endométrio retorna gradualmente sua atividade.

Durante o estro as células epiteliais glandulares e luminais são colunares. São de coloração pálida, e vacúolos na porção basal do epitélio luminal são comuns. Poucos leucócitos polimorfonucleados são geralmente localizados nos capilares sobre o epitélio da margem de vênulas na lâmina própria e considerável edema da lâmina própria pode ocorrer. Os ramos glandulares seccionados mostram um diâmetro aumentado e as secções longitudinais demonstram um padrão glandular relativamente reto com ausência de tortuosidade.

Durante diestro as células epiteliais variam de colunares a cubóides dependendo do estágio precedente ou seqüencial ao estro. O padrão glandular é geralmente tortuoso (Kenney, 1978).

As alterações endometriais mais encontradas no exame histológico são a degeneração glandular, lacunas linfáticas, atrofias endometriais e infiltrações celulares. As alterações degenerativas incluem fibrose periglandular, dilatação

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cística das glândulas e necrose glandular. A fibrose ocorre geralmente em torno das glândulas ou em associação com a membrana basal do epitélio luminal. Distensão cística glandular é comum nos grupos de fibrose. Estas dilatações podem ocorrer no período sexual transicional, para finalmente desaparecer na estação reprodutiva normal. Quando estas alterações persistem durante os períodos de ciclo estral fisiológico normal elas são consideradas patológicas e são associadas a uma redução na fertilidade (Kenney, 1978).

Destruição e necrose glandular são um achado menos comum. Processos de necrose geralmente são associados a uma intensa resposta celular e o clínico deve estar alerta quanto a infecções fúngicas (Hurtgen & Commings, 1982).

Derivadas de dilatação linfática, as lacunas linfáticas são de formato irregular, contendo material eosinófilo levemente corado circundados por uma margem endotelial delgada. A atrofia endometrial se caracteriza por células epiteliais glandulares e luminais cubóides inativas, associadas a contração do lúmen glandular. Atrofia endometrial é um achado característico de anestro estacional e passa a ser anormal se for observada durante a estação reprodutiva fisiológica. Atrofia disseminada é frequentemente ocasionada por deficiência hormonal esteroidal dos ovários e pode ser observada em éguas velhas com atividades ovarianas deficientes (Mc Kinnon & Voss, 1993).

As infiltrações celulares consistem de polimorfonucleados, linfócitos, células plasmáticas, eosinófilos, macrófagos e mastócitos. Leucócitos polimorfonucleados (PMNS) são indicativos de processos, inflamatórios e endometrite.

Em amostras para biópsia de éguas com inflamação aguda do endométrio, PMNS são usualmente encontrados no estrato compacto e entre as células epiteliais luminais migrando para o lúmen uterino, mesmo em casos severos não encontramos grande número de PMNS no lúmen. Em casos extremamente severos os PMNS podem ser encontrados em camadas profundas

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da lâmina própria. Glândulas dilatadas contendo PMNS degenerados podem ser encontradas em endometrite aguda independentemente do grau de severidade.

Inflamações crônicas são caracterizadas por infiltração de linfócitos, células plasmáticas e com menor freqüência eosinófilos e mastócitos. Infiltrações crônicas acometem geralmente o estrato compacto e reações agudas e crônicas podem ser visualizadas juntas.

Reações crônicas são comuns na lâmina própria profunda, usualmente na forma de focos discretos ou distribuição difusa. Eosinófilos são encontrados com pouca freqüência e geralmente em casos de endometrite provocada por fungos e pneumoútero. Macrófagos podem ser encontrados em éguas recentemente paridas ou após processos abortivos (Kenney, 1978).

Kenney & Doig (1986) propôs um sistema de classificação do endométrio inicialmente em 3 categorias, sendo posteriormente modificado em quatro categorias: endométrio normal (Categoria I), mudança endometrial leve (Categoria II A), mudança endometrial moderada (Categoria II B) e mudança endometrial severa (Categoria III).

A utilização do sistema originariamente proposto por Kenney & Doig (1986) pode oferecer um prognóstico razoável do futuro reprodutivo das éguas examinadas com a probabilidade de obter um potro saudável a termo. É importante saber que a confiabilidade deste sistema é relativa podendo ocorrer inúmeras exceções (Kenney & Doig, 1986), pois inúmeros fatores além das mudanças endometriais podem interferir na fertilidade (Waelchli, 1990).

Em um estudo comparativo de éguas repetidoras ou não de cio através da avaliação histológica do endométrio Moreira et al. (2007) concluiram que nem todas as éguas classificadas na categoria I e II levaram a gestação a termo e nem todas da categoria III tiveram falhas na reprodução, pois, deve-se considerar que outros fatores podem influenciar na manutenção da gestação. A biópsia endometrial demonstrou ser uma técnica fácil, segura, barata e com um

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desconforto mínimo para o animal. Sugeriram que esta técnica juntamente com outros dados, constitui uma importante ferramenta para avaliação da fertilidade da égua.

Ricketts & Alonso (1991) demonstraram que o exame de duas amostras de biópsia endometrial coletadas antes e após tratamento uterino específico, considerando a habilidade de recuperação da égua, seria mais eficiente em estabelecer o prognóstico reprodutivo que a coleta de uma amostra.

Em uma investigação sobre a utilização de biópsia endometrial em éguas inférteis, Doig et al. (1981) concluíram que a biópsia endometrial é uma técnica diagnóstica e prognóstica válida, mas quando o grau de fibrose é usado para prever a probabilidade de um potro chegar a termo, a idade e o manejo reprodutivo também devem ser considerados para um prognóstico mais confiável.

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