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I. 2.2“O «Facto Artístico» na Sociologia da Arte”

II.2. Fontes Nacionais

II.2.2. Bibliografia ativa

“Os Elementos recolhidos e usados no trabalho são de várias espécies e de um modo geral originais, isto é, obtidos em fontes documentais ou testemunhais coevas. Infelizmente a Bibliografia consultável é raríssima (…)”171

Neste contexto, J.A. França analisa e diagnostica no prefácio a falta de estudos que sustentem a sua obra. Seguindo uma lógica de inventário, no total são referidos quatro artistas estudados em profundidade até à data: Manuel Jardim por Henrique de Vilhena, Dordio Gomes por Manuel Mendes, Almada Negreiros por J.-A. França e por Lima de Freitas, e finalmente Amadeo por J.-A. França.172 “Visões de conjunto são igualmente raras”173, destacando-se artigos de António Ferro, Carlos Queirós e Diogo de Macedo, e nos estudos de âmbito geral sobre o século XX a tese L’Art dans la

sociéte portugais du XX siecle defendida por J.-A. França em Paris, com edição

resumida e publicada em Portugal no ano de 1972, e a obra de Sellés Paes, Da Arte

Moderna em Portugal de 1962.

Quanto à crítica, é marcada a falta de antologias que reúnam artigos publicados na imprensa e periódicos; e são citados em nota: Da Pintura Portuguesa, coletânea de artigos publicados por J.-A. França até ao ano de 1960; Pintura e Pintores, etc. de Fernando Guedes, 1962 e A Pop Art e Outras Artes de Mário de Oliveira, 1973.174

É também mencionada a Colecção Hífen, que segundo o autor consistiu em: “Pequenas monografias publicadas desde 1943 e sobretudo numa colecção editada em 1958 e 1973, com vinte pequenos volumes sempre sobre pintores, (…) irregulares na qualidade (…)”175; estendendo-se a crítica aos catálogos de retrospetivas de pintura e escultura realizados desde 1958 pelo SNI e pela Fundação Calouste Gulbenkian, sobre os quais

170 Destaca-se também na década de 60 o semanário cultural Jornal de Letras e Artes (1961-70), onde escreveram, Rui Mário Gonçalves, Nelson di Maggio e Fernando Pernes; O Diário de Lisboa, com críticas de Rocha de Sousa, Francisco Bronze e J.-A. França; A Capital, novamente Rui Mário Gonçalves e na Colóquio, Fernando Pernes, Francisco Bronze e J.-.A. França.. Idem, ibidem, p. 339

171 J.-A. FRANÇA, op. cit., 2009, p. 15

172 Cf. nota n.º 4 do prefácio, Idem, ibidem, 2009 173 J.-A. FRANÇA, op. cit., 2009, p. 15

174 Cf. nota nº 8, Idem, ibidem, p. 369. 175 Idem, ibidem, p. 15

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J.-A. França refere a falta de rigor científico. No balanço, é notada a falta de estudos sobre arquitetura, constatando-se que a pintura é até então a área mais privilegiada a nível de estudos gerais ou particulares. Neste âmbito são apontados os artigos de Nuno Portas no Jornal das Letras e Artes, ou ainda a revista Arquitectura, (da qual o autor foi participante), e Cidade e Campo. Finalmente é indicada uma recolha documental publicada nos anos 50: Os modernistas Portugueses de Petrus.

Neste conjunto, um aparte para História Breve da Pintura e Introdução a Uma

História da Arte por António Pedro (que não abordam o século XX); e a Paleta e o Mundo de Mário Dionísio. Analisadas e desenvolvidas no capítulo “Ensino, História,

Crítica e Estética”176, estas obras não são vistas como fontes historiográficas, mas antes

como fenómenos, produtos de uma reflexão individual ou expressão pessoal, que ambos os autores, em campos diversos, lançam sobre a arte.

Não citados pelo autor nas fontes gerais, mas que pela sua natureza atingem pertinência, uma vez que também são mencionados no capítulo “Ensino, História, Crítica e Estética”, introduz-se a questão dos Dicionários de Arte. Entre 1954 e 1959 é publicado o Dicionário de Pintores e Escultores Portugueses ou que Trabalharam em

Portugal, sobre direção de Fernando de Pamplona177 e Ricardo do Espírito Santo Silva (1900-1955). Comentando estas publicações, França escreve em 1989 na Revista

Colóquio-Artes:

“Publicado pela primeira vez em 1954, graças ao mecenato do banqueiro e coleccionador Ricardo Espírito Santo, que a prefaciou, esta obra estava há muito esgotada e coube ao novo grupo Espírito Santo o apoio à sua reedição, sob a responsabilidade do autor que logo depois faleceu. «Enriquecida e rejuvenescida», no dizer deste, a presente edição acrescentou numerosas fichas ao corpo inicial, actualizando informação – infelizmente com uma idêntica falta de critério crítico, e com igual falta de cuidado no manuseamento do material. Sobrariam os exemplos de ambos os defeitos e cruel seria multiplicá-los: e inútil também, como inútil sempre foi essa obra que só como pioneira merece registo, aberta a todas as correcções que o terceiro volume do “Dicionário da Pintura Universal”, consagrado a Portugal, necessariamente lhe trouxe em 1973 (Estúdios Cor, Lisboa) – essa, sim, merecendo reedição criteriosa. (…) Estranha contribuição para a cultura artística

176 Idem, ibidem, pp. 311-324

177 Fernando de Pamplona (1909-1989) Escritor, jornalista, historiador e crítico de arte. Licenciou-se em Filologia Românica pela Faculdade de Letras. Colaborou em vários periódicos: Ilustração, Magazine Bertrand, Diário da Manhã, Acção e Rumo; e publicou: Um século de Pintura e Escultura em Portugal (1830-1930) 1943, Eduardo Malta (co-autoria), 1955; Dicionário de Pintores e Escultores Portugueses ou que Trabalharam em Portugal. 1954-1959., Patrícia ESQUIVEL, op. cit., 2007, p. 283

48 nacional a edição destes cinco volumes (mais um que na 1.ª edição) cheios de erros, incongruências e risíveis opiniões críticas, fugindo a qualquer trabalho sério de investigação, por mais fácil que fosse, até a nível pessoal!”178

A dura crítica, expressa a opinião negativa que J.-A. França tecia a respeito de Fernando de Pamplona, e aí reside, possivelmente a justificação para não ser feita nenhuma referência a outro livro do mesmo autor: Um século de Pintura e Escultura

1830-1930, editado em 1943. Obra a vários títulos questionável, particularmente pelo

destaque atribuído a artistas simpatizantes do regime, como Eduardo Malta ou Medina, pode-se no entanto considerar interessante a coerência do período que Pamplona define para o seu estudo, contando um século que cronologicamente, se opõe à periodização seguida por J.-A. França (1911-1961).

Com uma metodologia distinta, os Dicionário da pintura Universal (1962-1973) realizados sobre a organização de Mário Tavares Chicó, Artur Nobre de Gusmão e J.-A. França, dedicaram dois volumes à pintura internacional, e um terceiro à pintura Portuguesa, “respondendo a uma necessidade de informação histórica não só relativa ao campo nacional…”179.

Procedendo a um levantamento dos artigos escritos por J.-A. França para estas publicações, é evidente a distinção face os restantes participantes180, não só pela quantidade, mas particularmente pela natureza das participações. O autor realiza a maioria das entradas para artistas ativos na segunda metade do século XIX e XX, e ainda um elevado número de artigos de carácter mais teórico. Repare-se que o conjunto

178 J.-A. FRANÇA, “Bibliografia, Fernando de Pamplona”, in Colóquio – Artes, n.º 82, 2ª série/31.º ano, Setembro 1989, p. 75

179 Lê-se ainda na mesma página que a publicação foi realizada sobre o formato de fascículos (quarenta e um) iniciados no ano de 1959 e terminando no ano de 1973, com um atraso de cerca de dez anos. Idem, op. cit., 2009, p. 314

180 Lista de participantes: 1.º Volume: Adriano de Gusmão, Abel de Moura, António Manuel Gonçalves, Artur Nobre de Gusmão, Armando Vieira Santos, Carlos de Azevedo, Manuel Calvet de Magalhães, Diogo de Macedo, José Ernesto de Sousa, José António Ferreira de Almeida, Flórido de Vasconcelos, José-Augusto França, Jorge Henriques Pais da Silva, José Júlio Andrade dos Santos, Maria Emília Amaral Teixeira, Maria de Lourdes Bartholo, Myron Malkiel-Jirmounsky, Manuel Pedro Nazareth do Rio-Carvalho, Mário Tavares Chicó, João Santos Simões. – 2.º Volume: Adriano de Gusmão, Abel de Moura, Armando Vieira Santos, Carlos de Azevedo, José António Ferreira de Almeida, Fernando Pernes, Flórido de Vasconcelos, José-Augusto França, Jorge Henriques Pais da Silva, José Júlio Andrade dos Santos, Maria Emília Amaral Teixeira, Mário Oliveira, Myron Malkiel-Jirmounsky, João Santos Simões. – 3.º Volume: Abel de Moura, Adriano de Gusmão, António Lino, Armando de Lucena, Armando Vieira Santos, Calvet de Magalhães, Carlos Vitorino da Silva Barros, Costa Barreto, Ernesto de Sousa, Fernando de Pamplona, Fernando Pernes, Flávio Gonçalves, Flórido de Vasconcelos, Francisco Bronze, J.G. Stichini Vilela, João Santos Simões, José-Augusto França, Julieta Ferrão, Manuel de Figueiredo, Manuel Mendes, Manuel do Rio-Carvalho, Maria Clementina Carneiro de Moura, Rui Mário Gonçalves, Vítor Manuel Serrão.

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de três volumes apresenta uma ambição educativa e divulgadora, que parece ir além do dicionário convencional. Lê-se na introdução:

“Foi igualmente intenção dos organizadores fazer imprimir uma estrutura problemática aos artigos biográficos articulados entre si por outros que tratam, de modo geral, de épocas, movimentos, estilos, géneros, e artes afins e completados ainda por artigos consagrados a bibliografia, colecções, museus, salões, etc.”181

Por fim, enunciam-se brevemente as obras de referência utilizadas como bibliografia geral na realização do 3.º Dicionário, completando uma ideia de fontes gerais da própria arte portuguesa mais alargada. Cite-se então a obra de José da Cunha Taborda, Regras da Arte da Pintura (1815); Cirilo Volkmar Machado, Colecção de

Memórias Relativas à Vida dos Pintores, Escultores, Arquitectos e Gravadores Portugueses e dos Estrangeiros Que Estiveram em Portugal (1823); Cardeal Saraiva, Lista de Alguns Pintores Portugueses (1839); Raczynski, Dictionnaire Historico- Artistique du Portugal (1847); Francisco de Sousa Viterbo, Notícias de Alguns Pintores Portugueses e Outros que Sendo Estrangeiros Exerceram a Sua Arte em Portugal (1903-1915).

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