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3.4 AS CITAÇÕES E AS CIÊNCIAS SOCIAIS

CAPÍTULO 4 Bibliometria, Cientometria e Meta-análise

Meu pobre livro inútil, que sempre sonhei escrever e ainda não me deste a honra de te deixar escrever, por onde andas tu? Livro que não obedeceria a nenhum interesse do tempo, que desagradaria simultaneamente a todas as tendências, que não encontraria aplauso em nenhum fundo de livraria, livro torto, desajeitado e solitário, que nem sequer irritasse. Os caixeiros pegariam nele sem interesse; os leitores, sem amor; os críticos o desprezariam. Sobre suas páginas cairia um silêncio perfeito, cristalizante. Assim ele ficaria intacto, congelado, para ser lido daqui a 85 anos por um amador não prevenido. Esse amador de 2027 o descobriria aos berros, sairia correndo com ele pelas ruas aéreas, louco de entusiasmo, de emoção... e o poria na moda.

4.1 - INTRODUÇÃO

O momento em que vivemos requer à comunidade científica do campo de Estudos Urbanos auto-reflexividade, e capacidade de criação de interpretação e instrumentação que possam nortear práticas e ação.

São muito recentes os exercícios de auto-reflexividade do campo dos Estudos Urbanos. O desenvolvimento das pesquisas sobre os caminhos percorridos, síntese de produção intelectual, cientometria, bibliometria e meta-análise é inclusive recente e emergente internacionalmente, tendo avaliações surgido no cenário acadêmico internacional no decorrer do período de elaboração dessa tese e encontrando-se ainda em estágio nascente (KIRBY, 2011; KIRBY, 2012a; KIRBY,2012b; KIRBY, 2012c; KAMALSKY; KIRBY, 2012; BATTY, 2012; Wang et al., 2012).

A utilização de cientometria, bibliometria e meta-análises são, desse modo, instrumentos de uso recente no campo dos Estudos Urbanos, datando seu início de 2012, conforme as referências mencionadas. Apenas quatro artigos internacionais foram identificados para o período anterior a 2012, sendo destes, apenas um deles relativo ao estado da arte da pesquisa e produção de conhecimentos no campo de Estudos Urbanos (LIU, 2003), sendo os outros três voltados para subárea específica do Campo de Estudos Urbanos, o estudo e identificação de centros urbanos geradores de conhecimentos científicos e tecnológicos (MATHIESSEN e SCHWARZ, 1999; MATHIESSEN; SCHWARZ e FIND, 2002 e 2010).

Estudos Cientométricos, Bibliométricos, Meta-Análises, assim como os denominados ―artigos de revisão‖44 (ALMEIDA, 2013), constituem-se contemporaneamente em instrumentos de apoio a

pesquisadores, ao reportar, destacar e sintetizar resultados de áreas específicas de conhecimento, considerando-se o grande volume de produção de literatura científica atual. Tais estudos e análises e práticas vêm sendo realizados há mais de cinco décadas nas chamadas áreas científicas básicas ou ―duras‖ (Física, Química ou Medicina). Porém, em áreas ditas ―soft‖, como as Ciências Sociais e Humanidades, tais metodologias de síntese e revisão de resultados apresentam imensos desafios a sua realização, em função de particularidades, tanto relativamente a variedade de tipos de produção, quanto de citação científica.

Como aponta Hicks (2004, p.1), as Ciências Sociais apresentam especificidades em sua produção de conhecimentos e pesquisa, que tornam extremamente desafiadora a aplicação de tais instrumentos. Isto ocorre, por um lado, pela apresentação de pesquisas nas Ciências Sociais por meio de quatro tipos distintivos de literatura relevantes, a saber: (1) artigos científicos em periódicos indexados (em inglês), (2) livros geralmente em idiomas nacionais, (3) artigos em

44Um artigo de revisão ou uma revisão sistemática consiste no esforço de um ou mais autores em resumir o estado da arte

em um tópico, reunindo tudo que for relevante, separando-os conforme sua pertinência e relevância, produzindo uma visão coerente do todo e elevando o conhecimento a respeito a um novo patamar (ALMEIDA, 2013, p. 29).

periódicos publicados em línguas nacionais, (4) literatura profissional, aplicada, denominada ―cinzenta‖ (HICKS, 2004; HICKS e WANG, 2009; HICKS e MELKERS, 2013; JACKSON, 2005).

A existência e a importância dos quatro tipos de literatura apontados, somadas a práticas de formalização da pesquisa em múltiplos e diversos idiomas nacionais e, de outro lado, a natureza ―localizada‖ da pesquisa em Ciências Sociais, segundo Hicks e Wang (2009: p. 2) tornam seu conjunto de conhecimentos e literatura de dificilmente dimensionáveis, registráveis e indexáveis em sua totalidade, além de serem igualmente de difícil comparabilidade. A diversidade e a importância da prática de produção científica em diferentes idiomas nacionais tornam extremamente difícil e dispendioso analisar e definir critérios paritários de qualidade que possam respaldar afirmações sobre excelência dos diferentes periódicos acadêmicos nacionais, assim como a constituição de indicadores confiáveis e adequados para comparação internacional de campos e instituições das Ciências Sociais e Humanidades.

4.2 - INTRODUÇÃO À BIBLIOMETRIA, CIENTOMETRIA E META-ANÁLISE: DEFINIÇÕES

Bibliometria, segundo Tague-Sutcliffe (1992, p.1) é a ciência que estuda os aspectos quantitativos da produção do conhecimento, sua disseminação e a utilização desta informação registrada, utilizando os resultados deste método de pesquisa para elaborar previsões e apoiar tomadas de decisão.

A bibliometria embora tenha sua origem na biblioteconomia enquadra-se em campo de estudo maior, chamado cientometria, que em linhas gerais, segundo Vlachý (1994, p.552) é a ciência, que mede e analisa a ciência. Já para Tague-Sutcliffe (1992, p.1) cientometria é o estudo dos aspectos quantitativos da ciência como disciplina ou atividade econômica.

Num entendimento mais amplo cientometria é o termo utilizado para designar um conjunto de trabalhos ―consagrados à análise quantitativa da atividade de pesquisa científica, técnica‖ de um determinado campo, sendo esse configurado a partir da identificação, mensuração e avaliação dos indicadores de produção científica e tecnológica, ou seja, respectivamente os artigos científicos produzidos e as patentes registradas. O campo de estudos ―é definido a partir de um conjunto de palavras-chave associadas que permitem qualificar sua morfologia (CALLON et. al, 1995, p.79). A cientometria permite analisar a produção científica, via coleta, tabulação para qualificação dos conteúdos e quantificação estatística das publicações, autorias e instituições, assim como definição de sua espacialização geográfica. O volume de citações e co- citações que cada artigo recebe pode ser objeto de análise, permitindo dimensionar o impacto do trabalho na comunidade científica, assim como identificar as redes de autores que se estabelecem nos diferentes campos de estudos e as interfaces entre diferentes campos inter, multi ou transdisciplinares. A origem da Cientometria pode ser creditada à discussão da ―Ciência da ciência‖ (SOLLA PRICE, 1969; MERTON, 1973) e sua consolidação ocorre, em especial, após a

criação, em 1978, do periódico romeno Scientometrics pela Akadémiai Kiadó e tem como editor- chefe Tibor Braun (AKADÉMIAI KIADÓ, 2013).

Cientometria e bibliometria têm grande interconexão, a bibliometria é um dos instrumentos utilizados pela cientometria, como lembram Hood e Wilson (2001, p. 293) ―muito da cientometria é indistinguível da bibliometria‖. É segmento da sociologia da ciência, aplicada no desenvolvimento de políticas científicas, envolvendo estudos quantitativos das atividades científicas. Em geral, seu principal ―instrumento‖ é a bibliometria.

Leydesdorff (2001, p.20) lembra a importância do processo cientométrico como uma área de investigação contributiva, principalmente em nível epistemológico ao demonstrar que desenvolvimentos científicos e do conhecimento são passíveis de mensuração.

Em 1976, o matemático e educador Gene V. Glass publica, no periódico Educational Researcher o artigo Primary, secondary, and meta-analysis of research em que propunha uma nova metodologia para os estudos de um determinado tema. Glass (1976, p.3) denomina esta nova metodologia como Meta-Analysis (Meta-análise), definindo-a como "a análise estatística de uma grande coleção de resultados de análises de estudos individuais para fins de integração dos resultados‖. Através de seu método, advogava que haveria a possibilidade de ―combinar e integrar os resultados em uma tentativa de resolver ou explicar as diferenças e inconsistências encontradas nos artigos originais, ou seja, a investigação preliminar‖ (GUILERA; BARRIOS; GÓMEZ- BENITO, 2013, p. 944).