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Pilar 3 – Utilização eficaz das competências na economia e

5. A Biblioteca Pública

5.2. Bibliotecário, o super-heró

Lankes (2012) declarou que não existe uma resposta para o que é uma biblioteca, pois uma biblioteca é como a verdade. É contextual. É construída. Mas, depende de o bibliotecário providenciá-la e esta sua missão é uma fantástica responsabilidade (DJINIS). Considerando o peso da responsabilidade, questiona-se se os bibliotecários estão preparados para os desafios de uma biblioteca de 3.ª geração. Interroga-se se os bibliotecários estarão cientes das valências às quais têm de dar resposta, das exigências às quais terão de corresponder e às novas tarefas e funções que lhes irão ser incumbidas.

Davey, considera urgente deliver the right skills for those who work for libraries e isto porque not enough people working in libraries are equipped to tackle these changes

and take on these roles,and that current training is not always relevant for the current and future needs of those working in plublic libraries (2013:9), pelo que a aquisição

contínua de competências e novas aprendizagens passa a ser uma realidade para os profissionais de bibliotecas, devendo acontecer ao longo da sua vida profissional. Sendo o conhecimento dinâmico, e as bibliotecas uma verdade em constante construção, é crucial que o bibliotecário seja criador da sua função, sendo para isso necessário assumir o seu papel de aprendiz.

Se, presentemente, o bibliotecário é passivo, pouco dinâmico e inativo, se se limita a abrir a porta da biblioteca e a entregar os documentos que os utilizadores precisam, então a sua função não se cumpre. Na opinião de Lankes, a librarian is the intersection

of three things: the mission, the means of facilitation, and the values librarians bring to a community (Lankes, 2012: 98). O bibliotecário comprometido com a sua função vai

91 muito além de atender os utilizadores e procurar informação ou manter a biblioteca organizada. O seu papel inclui conhecer os habitantes da sua comunidade, apresentar propostas para inserir a biblioteca nos planos de desenvolvimento local, propor atividades de leitura e de informação, promover as atividades, conseguir recursos para melhorar as tecnologias e relacionar-se com as instituições e grupos organizados da comunidade, participando nos projetos destes - Lo importante es que el bibliotecário

compreenda su responsabilidade social y no escatime esfuerzos em su papel de formador de lectores […] es capaz de liderar y apoyar processos comunitários alrededor de la lectura, la escritura, la información y los servicios de la biblioteca. Su misión es la de contribuir a que su comunidade crezca, madure e se expresse. El bibliotecãio es también un gestor cultural por excelencia y debe aprender a combinar la gestión técnica com la gestión social de la Biblioteca Pública (Maria, 2011:24).

De acordo com a IFLA in order to provide the best possible service to the community it

is necessary to maintain well trained and highly motivated staff to make effective use of the resources of the library and to meet the demands of the community (IFLA,

2001:61). O bibliotecário de excelência é aquele que pensa e se questiona sobre o trabalho que desenvolve e questiona para quê, porque se faz e como poderia fazer

melhor e este bibliotecário busca aliados, toca puertas, se prepara, estudia, conoce la estrutura administrativa del município, sus tempos y sus agendas y se interesa por la actualidade económica y social, para así recomendar y acompanhar processos de los lectores em formación (Maria, 2011:25). O bibliotecário deve ser um líder e assumir o

papel de gestor. Esta será uma nova estirpe da profissão. O bibliotecário agente. Está sempre onde existem oportunidades de aprendizagem e de transformação de vidas, acreditando que pode contribuir para a aprendizagem de terceiros e que através do diálogo com a comunidade pode identificar necessidades e oportunidades. Face a esta atitude, a comunidade reconhece a biblioteca como um bom lugar para aprender e o bibliotecário transforma-se na força ativa da comunidade. O bibliotecário faz a diferença.

A aprendizagem é uma área com uma importância cada vez mais crescente, pelo que se questiona se os bibliotecários são educadores/professores. Numa investigação académica levada a cabo em Inglaterra, os dados recolhidos descrevem quatro categorias que evidenciam a forma como os bibliotecários se vêm a si próprios nesta matéria, nomeadamente: professor bibliotecário, apoio à aprendizagem, bibliotecário que ensina e formador. As distintas formas de perceção sobre a sua ação mostram a volatilidade desta matéria. A capacidade de mostrar clareza e entendimento só se

92 tornará possível aquando do estabelecimento valorativo da prática. Por isso, o estudo conclui que a qualificação dos bibliotecários é crucial. Por um lado, aumenta a confiança em termos de ensino, por outro, permite melhorar o reconhecimento profissional dos bibliotecários enquanto professores no meio de instituições (Wheeler,

et al., 2015).

Reconhece-se a alteração do paradigma do bibliotecário que ensina para o bibliotecário que é professor e facilitador da aprendizagem e, neste sentido, exige-se uma compreensão mais profunda das diversas facetas da educação e da formação. Existem competências de ensino que são fundamentais para a interação da aprendizagem, designadamente, conhecimento de teorias da educação e as suas aplicações práticas, conhecimento de teorias da aprendizagem e desenvolvimento humano, capacidade para determinar metas e objetivos estratégicos, bem como para desenvolver programas e utilizar materiais apropriados aos objetivos estabelecidos e, por fim, competência para formular e executar a avaliação das sessões e programas de aprendizagem encetados. Em suma, estas competências de ensino agrupam-se em três categorias: planeamento, execução (inclui a preparação, apresentação, ritmo e adaptação) e avaliação. Este envolvimento com o processo, conceitos e tarefas leva o bibliotecário a assumir e abraçar o seu papel educacional (Peacock, 2001). Há um reconhecimento do valor da aprendizagem/ensino e que esta é uma parte integrante do futuro da biblioteca, porém também se constata a sua natureza complexa e a necessidade de capacitar os bibliotecários para esta função, sendo que a cultura organizacional deverá encorajar o desenvolvimento dos colaboradores neste sentido com o fim de atingir a excelência do serviço e da organização (Hallam, et al., 2013). Esta nova espécie é definida como um agente radical de uma mudança positiva. Sobre esta matéria, já Calixto (2012) indicava que é muito evidente a exigência de recursos humanos especializados, maleáveis e polivalentes, pelo que se apresenta a figura 1 com o objetivo de demonstrar quais as necessidades a que o bibliotecário se vê obrigado a dar resposta neste novo paradigma de biblioteca.

93 Figura 1: Intervenção Multidisciplinar do Bibliotecário

O bibliotecário tem de assumir diferentes papéis no cumprimento da missão e dos objetivos estabelecidos para a biblioteca. Este profissional enfrenta um enorme desafio, pois para além dos conhecimentos e competências em diferentes áreas, também deve possuir aptidões pessoais que lhe permitam integrar-se na comunidade e junto das pessoas. Estes requisitos posicionam o bibliotecário como um pioneiro na sociedade, alguém que detém a capacidade de transformar o meio que o rodeia. No âmbito das competências/conhecimentos importa referenciar a área administrativa e de gestão no que se refere às práticas e procedimentos da organização, à capacidade de identificar e implementar mudanças, a capacidade de ver mais além, de ter novas ideias e estratégias ou, ainda, a prontidão para mudar métodos de trabalho e ir ao encontro de novas soluções. No que respeita à comunidade, é essencial um entendimento dos utilizadores e da comunidade que é servida, bem como as suas necessidades específicas, a capacidade de cooperar com indivíduos e grupos da comunidade, conseguir identificar potenciais utilizadores e priorizar serviços alternativos ou ainda recolher e analisar dados que identifiquem as necessidades dos grupos e dos indivíduos da comunidade. Por outro lado, as valências pessoais, enquanto instrumento crucial, dizem respeito a uma consciência social, fundamental,

INTERVENÇÃO BIBLIOTECÁRIO MULTIDISCIPLINAR BIBLIOTECONOMIA TECNOLOGIA ADMINISTRAÇÃO E GESTÃO QUALIDADES DE RELACIONAMENTO INTERPESSOAL VALORES ÉTICOS VALORES SOCIAIS APRENDIZAGEM AO LONGO DA VIDA COMUNIDADE CULTURA

94 considerando as mutações sociais de dimensão global e a nível local que se refletem nas comunidades, os valores éticos com ênfase no entendimento e simpatia pelos princípios do serviço público e ainda uma vocação para o serviço. Sobre esta particularidade, Lankes (2012) escreveu que existem três formas de uma pessoa se tornar bibliotecário: ser contratado como um, educado como um ou tornar-se um. O primeiro é o mais fácil e menos eficaz, o segundo insere-se na lei e, por último, o modo mais eficaz e mais raro, mas aquele que é incrivelmente poderoso tornar-se um. A vocação para o serviço de uma Biblioteca Pública não é algo que se contrata ou que se ensina, mas sim uma poderosa atitude que se detém por natureza ou que através da experiência e do know-how adquirido na prossecução das funções se vai criando, transformando e construindo. Este bibliotecário manifesta um enorme à- vontade para comunicar com as pessoas e trabalhar com outros e em equipa sem esforço, sente-se confortável enquanto relações públicas da biblioteca e manifesta capacidade mediáticas se necessário. Este bibliotecário é um líder, é criativo, imaginativo, proativo e apresenta iniciativa.

Este bibliotecário é um verdadeiro super-herói.