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Biblioteca Municipal Cassiano Ricardo-SP

6 Estudo de Casos

6.3 Biblioteca Municipal Cassiano Ricardo-SP

O edifício eclético da Biblioteca Municipal Cassiano Ricardo, tombado pelo Patrimônio Histórico em 1986, se localiza no centro de São José dos Campos, estado de São Paulo. A edificação foi inaugurada em dezembro de 1909 para abrigar o primeiro Teatro Municipal da cidade. Posteriormente, foi adquirido pela Prefeitura em 1934 e ocupado pela Câmara Municipal em 1948, e finalmente, em 1980, passa a abrigar a biblioteca. Por ter sido o primeiro Teatro Municipal da cidade e por ser uma construção de grande porte do início do século XX, a edificação possui importância arquitetônica e cultural para a cidade. A intervenção realizada na construção fazia parte de um programa de revitalização do centro de São José dos Campos e funcionou como um ponto de partida para esta atividade.

A adaptação necessária para abrigar a biblioteca foi a causa da intervenção. Não projetado para esta função e modificado ao longo dos anos, o prédio não possuía divisões adequadas e suas instalações elétricas e hidráulicas eram precárias, além de problemas na circulação e na estrutura. Dentre as modificações no decorrer das mudanças de uso ocorridas no mesmo, uma pesada laje no espaço que compunha originalmente platéia, palco e camarotes, foi construída dividindo o edifício em dois pavimentos. Em 1995 iniciou-se a intervenção onde os arquitetos Guilherme Motta e Antônio Luiz Andrade propuseram a reconstituição de um grande vazio presente no edifício, enfatizando sua grandiosa proporção interna e o resgate da concepção externa da edificação, além da construção de um anexo contemporâneo – área reservada ao setor de apoio técnico; trabalhando assim o projeto através da conciliação de linguagens

arquitetônicas distintas (FIG. 6.13). Aqui, o projeto também foi tratado de modo diferenciado para a parte externa e interna da edificação antiga, sendo que a aparência externa da edificação foi recuperada. Porém, diferentemente da fazenda São José do Manso, neste caso há a presença do anexo contemporâneo, que vem enfatizar essa diferenciação de épocas e estilos dos dois prédios.

FIGURA 6.13 – Figura e croqui do antigo edifício e do anexo contemporâneo. FONTE – Projeto Design, n.225.

Pode-se dizer, que a intervenção realizada na biblioteca é um outro caso de reciclagem onde ocorreram metodologias de intervenção como a inserção e a extensão lateral. Há uma grande diferença entre este tipo de intervenção e aquela realizada no colégio Promove, já que aqui a edificação antiga foi mantida. Quanto às construções de edifícios de múltiplos andares atrás de casas antigas importantes e de valor histórico para a cidade de Belo Horizonte, apresentadas anteriormente, a diferença é, que neste caso, o autor do projeto levou em consideração as proporções da antiga construção adotando as mesmas no edifício contemporâneo, havendo um cuidado para que a harmonia do conjunto fosse mantida, seguindo deste modo, as recomendações das cartas internacionais.

A intervenção se baseou na retomada das características arquitetônicas do prédio original. Sendo assim, a grande laje construída posteriormente foi demolida dando espaço ao antigo local da platéia, configurando desse modo um único espaço, utilizado atualmente para consulta do público. Esse tipo de intervenção possui características relacionadas à metodologia de leveza. Porém, a leveza não está presente nesse projeto. Para que isso acontecesse, a diminuição dos carregamentos na estrutura, aliviando desse modo as paredes da edificação antiga, deveria ser a principal razão para a demolição da

laje, mas é apenas uma conseqüência do motivo da demolição, que é o resgate da proporção interna da edificação dado por um vazio ali existente.

Nas laterais foram dispostas novas galerias com materiais presentes no teatro, neste caso madeira, havendo uma reinterpretação dos espaços que ali existiam. As galerias que armazenam o acervo bibliográfico ocupam três níveis sobrepostos e foram executadas em estrutura metálica disposta em forma retangular, independente da estrutura de alvenaria que configura a área externa da antiga edificação, e têm como função sustentar a nova cobertura, também em estrutura metálica, aliviando as paredes da antiga edificação além de não descarregar nenhum peso sobre as mesmas. O piso das galerias é composto por grelhas metálicas que facilitam a passagem da luz natural (FIG.6.14).

FIGURA 6.14 – Vista interna da galeria em três níveis e piso compostos por grelhas metálicas. FONTE – Projeto Design, n.225.

O anexo foi criado para abrigar o restante do programa que o antigo edifício não comportava. Seu projeto foi baseado no contraste da arquitetura do edifício tombado e as intervenções realizadas no mesmo. No projeto do novo edifício houve uma preocupação em valorizar a autonomia histórica da antiga edificação, sendo assim, o térreo foi desobstruído de obstáculos para que fosse possível obter uma ampla visão do outro edifício. Para conseguir tal resultado os arquitetos se dispuseram de uma grande ponte metálica que constitui o anexo, que proporciona tal área livre. Uma contínua linha de luz natural separa os dois edifícios distinguindo a natureza dos mesmos. Os dados levantados indicam que o aço foi escolhido como material nesta intervenção para enfatizar o contraste da arquitetura do edifício tombado e das intervenções realizadas no mesmo (FIG. 6.15).

FIGURA 6.15 – Contraste a partir da interface dos edifício antigo e novo. FONTE – Projeto Design, n.225.

FIGURA 6.16 – Perspectiva detalhada. FONTE – Projeto Design, n.225.

Na intervenção realizada na Biblioteca Municipal Cassiano Ricardo, além das intervenções realizadas no edifício histórico tombado, foi necessário a construção de um anexo contemporâneo para atender ao programa. De maneira bastante apropriada os arquitetos se utilizaram de elementos volumétricos e de altura para relacionar o antigo edifício ao novo sem que houvesse agressão entre eles, possibilitando equilíbrio e harmonia no conjunto. Além disso, se apropriaram de uma linguagem contemporânea

utilizando o aço na intervenção diferenciando-o da antiga estrutura. O projeto da biblioteca e do anexo deixa visível a preservação do antigo teatro e a inserção de elementos modernos.

Neste caso, a técnica estrutural utilizada foi a introdução de uma estrutura independente da edificação antiga, não havendo interferência dos carregamentos da nova estrutura na antiga. Além disso, a nova cobertura foi introduzida também é sustentada pela nova estrutura. O aço foi utilizado também para obter um grande vão livre permitindo a visibilidade e valorizando deste modo o edifício antigo, o que foi bastante vantajoso para o projeto. Com essa abordagem, a intervenção utilizou pontos recomendados pelas normas internacionais, mantendo a autonomia da edificação antiga.

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