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1.6.2– Biblioteca Pública, caminhos para uma nova atitude

Os ventos de mudança que a Revolução de 1974 trouxe a Portugal não foram coincidentes com brisa que tocou as Bibliotecas e Arquivos, antes pelo contrário, embora o livro e a leitura estivessem na ordem do dia do discurso politico e dos programas eleitorais dos diferentes partidos23, apenas em 1983, surge a primeira tomada de posição de um conjunto de

profissionais, traduzidas na apresentação pública de um Manifesto da Leitura Pública em

Portugal. Os temas Biblioteca e Leitura pública passaram a ser recorrentes, nas preocupações e nos programas dos vários Governos Constitucionais24.

O Manifesto declarava que a leitura pública devia deixar de ser encarada como um luxo, mas um sector onde era necessário haver um significativo investimento, face os elevados índices de analfabetismo que na data se registavam: “Uma política de leitura pública assentará fundamentalmente na implementação e fundamento regular e eficaz de uma rede de BMs25.

Dessa forma em 1987 lançavam-se as bases para uma necessária rede nacional de Leitura Pública, graças aos esforços concertados da Secretaria de Estado da Cultura, da BAD, do Instituto português do Livro e de alguns Municípios e, muito importante também as conclusões do relatório coordenado por Maria José Moura “Leitura Pública – Rede de Bibliotecas Públicas – Rede de Bibliotecas Municipais” que lançava os pressupostos teóricos e práticos da Leitura Pública, passado a constituir-se enquanto base do “Programa Rede Nacional de Bibliotecas Municipais, mais tarde designado por Rede Nacional de Leitura Publica”. Este documento entre outros aspectos considerava que “toda a legislação existente até então tinha resultado numa imensa necrópole… de piedosas intenções logo á partida condenadas ao fracasso”. No relatório26 a leitura pública era entendida como uma questão de natureza estrutural para a cimentação da jovem democracia, a filosofia do programa assentava essencialmente na partilha de responsabilidades entre o estado e as autarquias e a ideia subjacente era criar BPs em todos os concelhos do país para que se pudesse alavancar e promover a leitura e a

23 Sobre este assunto pode consultar-se síntese da autora, bem como indicações bibliográficas digitais

em (Marques: 2012 82-85).

24 Sobre este assunto pode consultar-se síntese da autora, bem como indicações bibliográficas digitais

em (Marques: 2012 82-85).

25 Despacho 23/86 da Secretaria de Estado da Cultura, 3 de Abril de 1986.

26 Moura, Maria José (coord.) – Leitura publica: rede de bibliotecas municipais. Lisboa, Secretaria de

Estado da Cultura, 1986. Disponível em

WWW:<URL:http//.www.dglb.pt/DGLB/Portugues/bibliotecasPublicas/documentaçãoBibliotecas/Docum entes/RelatorioLeituraPublica1986.pdf

informação aos cidadãos. O Estado através do Instituto Português do Livro e da Leitura, comprometia-se a prestar apoio técnico e financeiro às autarquias interessadas em criar as suas bibliotecas, desde que estas respeitem as directivas tanto estruturais como a nível técnico, de pessoal e fundo documental e o apoio financeiro traduzia-se na comparticipação de 50% dos custos totais da obra. Por outro lado, criar estruturas capazes de responder eficazmente e de acordo com as normas internacionais vigentes à criação de uma biblioteca

de todos e para cada um enquanto locais privilegiados de acesso ao conhecimento eram

requisitos básicos apontados pelo relatório. As bibliotecas que pertencessem à rede teriam de acatar as recomendações emanadas do Manifesto produzido pela UNESCO com especificidades físicas, espaciais, funcionais e técnicas bem como “equipamento adequado, fundos documentais diversificados, pessoal qualificado e proporcionar novos serviços” (Figueiredo: 2004, 63) para que a biblioteca pudesse cumprir eficazmente a sua missão e objectivos. Estas bibliotecas (Municipais) serviriam para corresponder às necessidades do público em geral, relativamente à informação, autoformação e à ocupação dos tempos livres implicavam uma visão integrada da política nacional e de bibliotecas.

Apesar de todos os esforços, intenções e estudos, o novo relatório de 1996 sobre as BPs em Portugal considerava que as BMs Portuguesas prestavam serviços tradicionais insuficientes e denotavam uma falta de conhecimento do conceito moderno de biblioteca pública. Para ultrapassar estes constrangimentos gizam-se estratégias para a modernização da RNLP que visavam genericamente a implementação das tecnologias multimédia através da aquisição e desenvolvimento de Hardware e Software para a gestão integrada dos serviços das Bibliotecas Públicas. Contudo e apesar das recomendações do relatório, só em 2005, se assistiu à formalização da primeira tentativa de uma renovação orgânica efectiva, através da criação da Rede de Conhecimento das Bibliotecas Públicas (RCBP) cujos objectivos eram promover o acesso público e gratuito em banda larga nas bibliotecas municipais da Rede Nacional de Bibliotecas Públicas: criar serviços interactivos e novos canais de comunicação para estimular a leitura, atrair novos públicos e melhorar a qualidade dos serviços prestados aos utilizadores actuais e disponibilizar ferramentas de gestão para as biblioteca municipais e para a própria RCBP.27

Hoje, 25 anos passados de funcionamento da RNLP28 e como afirma Marques (2012, 99), a

configuração das BPs como elementos de uma rede, implica a assunção de determinados pressupostos que vão muito para além da concepção clássica de Sistema de Informação Biblioteconómico, organicamente independente e funcionalmente autónomo. Ora os princípios expressos no Manifesto da UNESCO para a BP são claros quanto ao conceito de Rede Nacional de Leitura Publica, o qual não se esgota na criação de um conjunto estruturado de

27 Disponível em WWW:<URL:http://www.rcbp.dglb.pt/pt/Paginas/default.aspx

28 Sobre este assunto pode ler-se Oleiro e Heitor, 20 anos da Rede Nacional de Bibliotecas Públicas: Um Balanço (possível) do Grau de Cumprimento do Programa. Disponível em WWW:<URL:http://www.bad.pt/publicacoes/index.php/congressosbad/article/view/157

Bibliotecas da mesma tipologia, mas antes, centram-se na constituição da colecção até à sua difusão e uso.

Há que ultrapassar uma certa visão paroquial das BPs que continuam fechadas em si mesmas, solenes e pouco convidativas (Nunes e Portilheiro: 1985, 89) apesar de dotadas de infraestruturas que “convidam a entrar” (Gascuel: 1987). Urge aproximar a biblioteca da comunidade local porque “se ela for útil, ela será estimada, apoiada e prestigiada. Se ao contrário, ela for um óvni ou uma Avis rara, alienada dos interesses locais, existir ou não existir não fará a menor diferença para o cidadão comum” (Miranda: 1978, 69-75).

2 - Património e Identidade, o papel da Biblioteca