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3 CONTEXTUALIZAÇÃO DA PESQUISA

3.2 A Biblioteca Pública como temática de estudo

3.2.1 Biblioteca Pública: conceito, antecedentes históricos e funções

Para a UNESCO (1994, online), “a biblioteca pública é o centro local de informação,

tornando prontamente acessíveis aos seus utilizadores o conhecimento e a informação de todos os gêneros”.

Seu conceito fundamenta-se na gratuidade e na igualdade de acesso, sem restrições, à informação, à cultura e aos serviços por ela oferecidos. Por ser um espaço democrático, seu acervo deve ser diversificado, de maneira a atender às necessidades informacionais dos públicos infantil, juvenil, adulto e idoso que estejam em busca de leitura informativa e também de lazer. Cabe ao poder público (federal, estadual ou municipal) criá-la e mantê-la, sendo responsável pela aquisição do acervo, manutenção das estruturas física e tecnológica e pela contratação de

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recursos humanos capacitados para atuar tanto nas atividades técnicas de organização, como no desenvolvimento de atividades de incentivo à leitura (UNESCO, 1994).

Entretanto, as bibliotecas não nasceram como instituições de caráter público tal como se conhece atualmente. As primeiras bibliotecas de que se tem registro remontam à Antiguidade e caracterizavam-se pela constituição de seus acervos por tabletas de argila, rolos de papiro e pergaminho (MARTINS, 2001), tinham como função reunir e preservar os registros do conhecimento. Ainda segundo Martins

(2001, p. 71, grifos do autor), a biblioteca foi “desde seus primeiros dias até os fins

da Idade Média, o que seu nome indica etimologicamente, isto é, um depósito de livros, e mais um lugar onde se esconde o livro do que o lugar de onde se procura fazê-lo circular ou perpetuá-lo”.

As bibliotecas da Idade Média, séculos V a XV, caminharam na mesma direção das bibliotecas antigas no que diz respeito à composição dos seus acervos, sua organização, sua natureza e à forma de funcionamento. Localizadas em mosteiros, lugares pouco acessíveis aos leigos e profanos, as bibliotecas medievais caracterizaram-se como lugares de guarda ou esconderijo dos livros (MARTINS, 2001). “A essas bibliotecas dos mosteiros iriam somar-se, a partir do séc. XIII, as

bibliotecas das universidades europeias que então começavam a ser fundadas.”

(LEMOS, 2005, p. 104).

Na Idade Moderna, século XV a XVIII, as bibliotecas começam a ser instaladas em diversas instituições de estudo e pesquisa não subordinadas aos monastérios. Com a invenção e evolução da imprensa houve a ampliação da produção de livros e, por conseguinte, sua disponibilidade a outros segmentos da população além do clero e dos nobres. A proliferação das obras impressas propiciou também a criação e ampliação de bibliotecas (MILANESI, 2013). A partir de então, o paradigma de acumulação de registros do conhecimento começa a se modificar e a preocupação passa ser, então, a de como localizar e dar acesso a tantos registros. O Renascimento, século XIV a XVI, representou um período de transição da cultura religiosa medieval para uma cultura de valorização do ser humano, o que resultou

Como não poderia deixar de ser, a biblioteca acompanhou essa evolução social e “assim como o livro perde seu caráter de objeto sagrado e secreto [...] a biblioteca passa a gozar, nos tempos modernos, do estatuto de instituição leiga e civil, pública e aberta” (MARTINS, 2001, p. 323). Ainda segundo o autor,

à sua passividade substituiu-se um salutar dinamismo, a iniciativa de uma obra que é, ao mesmo tempo, de socialização, especialização, democratização e laicização da cultura. Ela desempenha, dessa forma por menos que pareça, o papel essencial na vida das comunidades modernas (MARTINS, 2001, p. 325, grifos do autor).

No século XIX, principalmente na Inglaterra e Estados Unidos, a Biblioteca Pública foi vista sob a perspectiva de instituição utilitária. Esperava-se que ela contribuísse para a ordem social, o progresso nacional e a manutenção da democracia. Ela foi considerada um meio de espalhar a educação, tratando a todos como iguais e colocando os recursos da nação ao alcance de todos. No século XX a função da Biblioteca Pública, antes restrita à educação, ampliou-se gradualmente para a cultura em geral (MUELLER, 1984).

Atualmente, a Biblioteca Pública possui funções diversas, dentre elas apoiar a educação formal, democratizar o acesso à informação, à cultura e às tecnologias. Funções essas constantes do Manifesto da UNESCO sobre biblioteca pública:

1. Criar e fortalecer hábitos de leitura nas crianças desde a mais tenra idade;

2. Apoiar tanto a educação individual e autodidata como a educação formal em todos os níveis;

3. Proporcionar oportunidades para o desenvolvimento criativo pessoal; 4. Estimular a imaginação e criatividade da criança e dos jovens;

5. Promover o conhecimento da herança cultural, apreciação das artes, realizações e inovações científicas;

6. Propiciar acesso às expressões culturais das artes em geral; 7. Fomentar o diálogo intercultural e favorecer a diversidade cultural; 8. Apoiar a tradição oral;

9. Garantir acesso aos cidadãos a todo tipo de informação comunitária; 10. Proporcionar serviços de informação adequados a empresas locais, associações e grupos de interesse;

11. Facilitar o desenvolvimento da informação e da habilidade no uso do computador;

12. Apoiar e participar de atividades e programas de alfabetização para todos os grupos de idade e implantar tais atividades se necessário. (UNESCO, 1994, online).

Nota-se no texto do Manifesto a evolução da função da biblioteca pública para além da função de depósito, deixando assim de ser uma instituição estática e passando a

desempenhar um papel dinâmico na sociedade. O Manifesto é um texto de âmbito internacional, cujos princípios nele expressos dão base para que todos os países busquem apoiar a implementação e desenvolvimento de suas bibliotecas públicas. A história da biblioteca moderna aos dias atuais foi, segundo Martins (2001), um processo gradativo, ininterrupto e simultâneo de transformação, marcado pela laicização, democratização, especialização e socialização. A biblioteca tornou-se cada vez mais uma instituição democrática e social. “O adjetivo pública, que contemporaneamente se juntou ao nome da biblioteca, não corresponde apenas ao desejo de identificá-la como organismo mantido pelo governo [...], mas aberto a todos os interessados” (MARTINS, 2001, p. 325).