• Nenhum resultado encontrado

Em virtude da sua estrutura e constituição química, a madeira está sujeita à degradação por organismos que dela se alimentam. No lenho estão presentes substâncias nutritivas que constituem a base alimentar de uma infinidade de organismos, entre os quais, fungos, bactérias, insetos, moluscos e crustáceos. Estes organismos que degradam a madeira são conhecidos como xilófagos [CARBALLEIRA LOPEZ & MILANO, 1986; OLIVEIRA et al., 1986; CAVALCANTE, 1982; HUNT & GARRATT, 1967].

Os cupins (térmitas) e fungos são, indubitavelmente, os organismos que mais causam danos à madeira, e cujo desenvolvimento é favorecido pelas características edafoclimáticas do semi-árido brasileiro (caatinga). As madeiras empregadas no meio rural e urbano em construções, móveis, bem como as utilizadas nos monumentos históricos, são impiedosamente consumidas quando estes organismos nelas se instalam [OLIVEIRA et al., 1986; FINDLAY, 1985; HUNT & GARATT, 1967].

Entre os fungos responsáveis pelo apodrecimento da madeira, destaca-se a classe dos basidiomicetos, na qual se encontram os fungos responsáveis pela podridão-parda e pela podridão-branca, que possuem características enzimáticas próprias, quanto à decomposição dos componentes macromoleculares da madeira.

A podridão branca é causada por fungos com alta capacidade de degradação, uma vez que atacam indistintamente tanto os polissacarídeos quanto a lignina [OLIVEIRA et al., 1986]. Dentre os fungos responsáveis pela podridão branca destaca- se Phanerochaete chrysosporium, um basidiomiceto (reprodução sexuada) conhecido

popularmente como orelhas-de-pau, tipo cogumelo, que apresenta a capacidade de degradar a lignina [OLIVEIRA et al., 2005].

O problema dos cupins tem preocupado, sobretudo, os pesquisadores brasileiros. Lelis (1994) estimou, ao se realizar um levantamento em duzentas e quarenta edificações, na cidade de São Paulo no período de 1973 a 1993, um prejuízo de US$ 3,5 bilhões, causado pelos térmitas. Serpa (1986) constatou também a presença de cupins do gênero Cryptotermes, destruindo obras sacras, molduras de quadros, altares, vigas, caibros, ripas e constituintes do madeiramento das coberturas das edificações da cidade histórica de Olinda, em Pernambuco.

Nasutitermes corniger Motschulsky é uma das espécies de cupins mais amplamente distribuídas, sendo encontrada desde o sul do México até o norte da Argentina. No Brasil, N. corniger ocorre em praticamente todo o território nacional, sendo inclusive considerado uma praga urbana em diversas cidades do país. Esta espécie é altamente adaptável à colonização em ambientes naturais ou modificados pela espécie humana e consome a madeira em quase toda forma, como madeiras duras e moles, que estão secas, úmidas ou parcialmente decompostas [SCHEFFRAHN et al., 2002; SCHEFFRAHN et al., 2005], e depende de bactérias simbióticas presentes em seu intestino para degradar a lignocelulose [BREZNAK, 1982].

Um dos fatores que limita a ampla utilização da madeira é a sua baixa resistência à degradação. A durabilidade natural da madeira é interpretada pela capacidade que a mesma possui de resistir à ação dos agentes agressores, tanto os biológicos como os físico-químicos, podendo desta forma apresentar alta, média ou baixa resistência à ação desses agentes.

Embora os componentes estruturais da parede celular contribuam para a resistência da madeira [SILVA et al., 2007; BULTMAN et al., 1979], os extrativos como alcaloides, terpenos, taninos e outras substâncias fenólicas, que são nocivas aos organismos xilófagos por apresentarem, isoladamente ou simultaneamente, toxicidade, deterrência alimentar ou repelência, também têm um efeito significativo sobre sua durabilidade [GANAPATY et al., 2004; CABRERA et al., 2001; SIMÕES et al., 2000; CHANG et al., 1999, OLIVEIRA et al., 1986; LELLES & REZENDE, 1986; FINDLAY, 1985, HUNT & GARRATT, 1967].

De acordo com os dados citados na literatura, terpenos (de monoterpenos a triterpenos) têm mostrado propriedades tóxicas, deterrentes alimentares e repelentes

contra organismos xilófagos [LAJIDE et al., 1995; VIEGAS JR, 2003; BLASKE et al., 2003; PARK & SHIN, 2005; WATANABE et al., 2005]. A maioria dos trabalhos publicados refere-se a monoterpenos como substâncias tóxicas e repelentes, enquanto triterpenos são relatados como deterrentes.

A toxicidade de alcaloides aos animais, incluindo insetos é bem conhecida [WINK, 1987]. Um estudo recente realizado com alcaloides obtidos de Sophora flavescens (Fabaceae) contra térmitas subterrâneos mostrou elevada toxicidade e forte deterrência alimentar [MAO & HENDERSON, 2007].

Dentre os fenólicos de plantas os flavonoides [SIMMONDS, 2001] e taninos [MONTEIRO et al., 2005] são os deterrentes alimentares mais conhecidos. Quercetina, taxifolina e outros flavonoides foram relatados por impedirem fortemente a alimentação de cupins [REYES-CHILPA et al., 1995; MORIMOTO et al., 2000; OHMURA et al., 2000; CHEN et al., 2004; MORIMOTO et al., 2006]. Além da forte deterrência alimentar, os flavonóides tambem são conhecidos por sua toxicidade aos térmitas [MORIMOTO et al., 2006] e por inibirem o crescimento de fungos [MALTERUD et al., 1985].

Taninos, devido às suas propriedades de complexar proteínas e inibir várias enzimas digestivas, são considerados fortes adstringentes. A precipitação de proteínas glucosalivares que ocasiona a perda do poder lubrificante, parece ser a principal causa da ingestão reduzida de alimentos em mamíferos herbívoros [MONTEIRO et al., 2005]. Provavelmente, devido à esta capacidade de complexar proteínas e outras macromoléculas, os taninos também apresentam efeitos tóxicos. Ayres et al. (1997) verificaram que a rápida mortalidade de insetos tratados com taninos condensados parece ser devido às propriedades tóxicas destes compostos e não pela inibição da digestibilidade.

Alguns pesquisadores assumiram que existe uma relação significativa entre substâncias antioxidantes e a sobrevivência de térmitas e fungos. Ragon et al. (2008) hipotetizou que cupins detectam e evitam a madeira que contém extrativos com um nível mínimo de antioxidantes, em função destes interferirem na digestão da lignocelulose pelos simbiontes dos térmitas. De acordo com Amusant et al. (2007), não há dúvidas de que as propriedades antioxidantes e fungicida dos extrativos são os fatores mais importantes que influenciam a durabilidade da madeira.

Os estudos realizados com térmitas são menos numerosos e mais recentes em relação àqueles com fungos xilófagos, em função dos fungos serem considerados os

principais agentes deterioradores da madeira utilizada em contato com o solo. No entanto, madeiras empregadas em batentes de portas, janelas, lambris, assoalhos, forros e escadas, por estarem em locais protegidos e longe do contato com o solo, estão livres do ataque de fungos, mas não dos insetos [MENDES & ALVES, 1986].

As madeiras de lei são ainda muito procuradas e utilizadas, em virtude de sua elevada durabilidade natural, ou seja, elevada resistência ao apodrecimento e ao ataque de cupins, além de serem pesadas e munidas de um cerne de alta densidade. Entre as madeiras de lei de elevada durabilidade natural mais usadas em peças de sustentação das cercas (mourões), porteiras, batentes de portas e janelas, além de outros usos em construções rurais e urbanas destaca-se a da espécie A. colubrina [PAES et al., 2003].

Cientificamente, pouco se conhece a respeito do comportamento real da madeira desta espécie em relação à resistência ao ataque de organismos xilófagos. Um estudo realizado com o objetivo de avaliar a resistência de nove madeiras do semi-árido brasileiro revelou que A. colubrina foi resistente, à ação de cupins Nasutitermes corniger, de fungos Pycnoporus sanguineus (um dos responsáveis pela podridão- branca) e Gloeophyllum trabeum (um dos responsávis pela podridão-parda), bem como frente aos térmitas de madeira seca Cryptotermes brevis [PAES et al., 2003; SILVA et al. 2007].

O método tradicional de combate aos cupins tem como princípio a utilização de produtos químicos sintéticos. Estes inseticidas, hoje principalmente organofosforados e piretroides, apresentam toxicidade para o homem e outros seres vivos e risco de contaminação ambiental [CABRERA et al., 2001]. Relatos publicados revelaram que muitas madeiras possuem resistência natural à infestação de térmitas, mas somente um número limitado delas foi examinado [GANAPATY et al., 2004].

Por essas razões muitos pesquisadores estão direcionando suas pesquisas para a separação e identificação de extrativos de algumas madeiras duráveis e avaliando suas bioatividades em busca de compostos naturais como alternativas no controle de térmitas [CHENG et al., 2007; PARK et al., 2005; WATANABE et al., 2005; GANAPATY et al., 2004; CHANG & CHENG, 2002; CABRERA et al., 2001; CHANG et al., 2001; CHANG et al., 1999; CARTER, 1978].

Assim, o conhecimento das substâncias químicas produzidas pelo vegetal que são tóxicas aos organismos xilófagos é de grande importância para a indústria de produtos químicos utilizados no tratamento de madeiras de baixa durabilidade a fim de

imunizá-las contra deterioração biológica, evitando, desta forma, os gastos desnecessários com a reposição de peças deterioradas e reduzindo os impactos sobre as florestas remanescentes.

Documentos relacionados