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Ambas as espécies Aedes aegypti e Ae. albopictus, que pertencem à família Culicidae, são insetos holometábolos cujo ciclo de vida compreende quatro estágios distintos: ovo, larva, pupa e adulto (Figura 1). A fase larval se subdivide ainda em quatro estádios (L1, L2, L3 e L4). Durante a fase adulta, estas espécies habitam ambientes terrestres enquanto que, nos estágios

juvenis (ovo, larva e pupa), elas vivem em meio líquido (CONSOLI; LOURENÇO-DE- OLIVEIRA, 1994).

Figura 1 - Esquema representativo do ciclo biológico do mosquito Aedes aegypti (A), mostrando os quatro estágios

distintamente (B- ovo; C- larva; D- pupa; e E- fêmea adulta realizando a hematofagia).

Fonte: CENTERS FOR DISEASE CONTROL AND PREVENTION, 2012; BARIFOUSE, 2015; WILSON, 2018;

WILSON, 2018; BICHO MAPS, 2016.

Estes mosquitos podem ser encontrados durante todo o ano, embora as maiores densidades populacionais sejam observadas nos períodos chuvosos, quando há a ampliação no número de seus criadouros decorrentes de um maior acúmulo de água (CONSOLI; LOURENÇO- DE-OLIVEIRA, 1994). Estima-se que o Ae. aegypti possa produzir acima de 20 gerações por ano conforme mostrado em um estudo de campo realizado no estado da Paraíba, região Nordeste do Brasil (BESERRA et al., 2009).

Um diferencial biológico de sobrevivência destas duas espécies de mosquitos é a diapausa facultativa no estágio de ovo. Este fenômeno é caracterizado pela suspensão temporária da eclosão da larva após a finalização do desenvolvimento embrionário. Isso torna possível a sobrevivência dos embriões destes insetos à dessecação. No caso do Ae. aegypti, os ovos podem continuar viáveis e eclodir, se os mesmos voltarem a ter contato com a água, até um ano após a postura (CONSOLI; LOURENÇO-DE-OLIVEIRA, 1994). Já os ovos da espécie Ae. albopictus sobrevivem à dessecação por alguns meses (WORLD HEALTH ORGANIZATION, 2018b).

Os insetos adultos da espécie Ae. aegypti são altamente endofílicos, ou seja, vivem no interior das habitações humanas, mas também podem estar presentes em abrigos no peridomicílio. Ambos os sexos são encontrados em proporções semelhantes nestes espaços, que

são os locais onde vivem, obtém seus alimentos, copulam e desovam. Estes mosquitos são capazes de acasalar em pequenos espaços o que os caracteriza como estenogâmicos. Apenas as fêmeas de Ae. aegypti têm o hábito hematófago, cujo repasto sanguíneo é necessário para a maturação de seus ovos. Os machos alimentam-se apenas de seiva de plantas e material açucarado (CONSOLI; LOURENÇO-DE-OLIVEIRA, 1994).

O período diurno é o momento de maior atividade hematofágica deste mosquito, preferencialmente no amanhecer e no crespúsculo vespertino, mas ele pode picar o homem, a sua principal fonte sanguínea, e, algumas vezes, até os animais domésticos, a qualquer horário do dia. As suas picadas geralmente acontecem em ambientes sombreados. O Ae. aegypti é um mosquito oportunista, portanto, embora raramente, ele também pode atacar no período da noite (BECKER et al., 2010).

Os pés e a parte inferior das pernas são as áreas do corpo humano mais procuradas para o respasto sanguíneo destes insetos (CONSOLI; LOURENÇO-DE-OLIVEIRA, 1994). Os mosquitos conseguem detectar os humanos e outros vertebrados como fonte de alimentação sanguínea através substâncias voláteis emanadas pelos corpos destes hospedeiros, a distâncias máximas variando entre sete e 30 metros. Estes atraentes podem ser: dióxido de carbono, resultante da respiração; ácido láctico e octanol, liberados através da sudorese; e ácidos graxos produzidos pela flora bacteriana natural da pele humana, especialmente na área dos pés. Alterações químicas sutis nestes odores fazem com que diferentes espécies de hospedeiros e até mesmo diferentes indivíduos da mesma espécie tenham uma maior ou menor capacidade de atrair mosquitos. A visão também é importante para guiar estes insetos até os seus hospedeiros, sendo que os objetos de cores contrastantes e escuros ou em movimento são mais atraentes. Adicionalmente, a convecção de calor e humidade ao redor do corpo também contribuem para a aproximação dos mosquitos vetores (MULLEN; DURDEN, 2002).

A longa relação do Ae. aegypti com a espécie humana fez com que ele desenvolvesse certa habilidade para escapar de ser morto por suas vítimas no momento da hematofagia. Isso porque, quando o homem produz qualquer movimento, mesmo que suave, a fêmea deste mosquito o abandona imediatamente. Ela só volta a atacar ou procurar outra vítima, depois de cessado o iminente perigo de ser atingida. Esta particularidade tem grande importância médica, pois uma única fêmea de Ae. aegypti infectada por arbovírus pode, realizar várias alimentações curtas em diferentes hospedeiros e, assim, disseminar rapidamente os agentes infecciosos, enquanto procura alimentar-se satisfatoriamente de sangue (CONSOLI; LOURENÇO-DE- OLIVEIRA, 1994).

O acasalamento dos mosquitos adultos ocorre geralmente antes da realização do primeiro repasto sanguíneo. Após a cópula, os espermatozóides ficam depositados nas espermatecas das fêmeas e são utilizados paulatinamente para a fecundação durante o processo de postura dos ovos. As fêmeas de Ae. aegypti depositam seus ovos aos poucos e isoladamente em diferentes criadouros o que aumenta bastante a dispersão e sobrevivência da espécie (CONSOLI; LOURENÇO-DE-OLIVEIRA, 1994). A oviposição nos criadouros é realizada bem próxima à lâmina de água (BECKER et al., 2010).

Após aproximadamente dois dias da deposição dos ovos, ocorre a eclosão das larvas de 1º estádio (L1) (BECKER et al., 2010). Estas sofrem sucessivas mudas e atingem os outros três estádios (L2, L3 e L4). As larvas de Ae. aegypti são aquáticas e demonstram bastante mobilidade, migrando constantemente na coluna de água para se alimentar de materiais em dispersão e para obter o oxigênio diretamente do ar através do sifão respiratório. Neste estágio do ciclo de vida, estes insetos são filtradores e se alimentam ativamente de detritos orgânicos, material suspenso e microorganismos (bactérias, fungos, algas e protozoários) presentes em seus hábitats aquáticos (MULLEN; DURDEN, 2002).

Na fase de pupa, que resulta da metamorfose sofrida pela L4, estes insetos não necessitam mais de alimentação. A pupação ocorre oito dias após a oviposição (BECKER et al., 2010). Neste momento, as pupas são encontradas imóveis em contato com a superfície da água, mas quando perturbadas passam a apresentar bastante movimentação e procuram submergir como forma de proteção. Nesta fase ocorrem profundas transformações nos indivíduos, as quais resultam na formação de adultos alados, e conseqüente troca do hábitat aquático para o terrestre (CONSOLI; LOURENÇO-DE-OLIVEIRA, 1994).

A metamorfose sofrida pela pupa resultará em insetos adultos alados que irão se utilizar da exúvia pupal como um local de repouso temporário para, a partir dela, iniciarem seu primeiro vôo e trocarem o hábitat aquático para o terrestre. Finalizado este processo, estes insetos irão se dirigir ou permanecer no domicílio ou peridomicílio, buscando locais com pouca luz, nos quais possam abrigar-se e repousar antes de iniciarem suas atividades (CONSOLI; LOURENÇO-DE- OLIVEIRA, 1994). A emergência dos adultos ocorre entre nove e 10 dias após a oviposição (BECKER et al., 2010). Fatores biológicos como o curto ciclo de vida, a alta fecundidade e as diferenças de hábitos alimentares entre as formas jovens e adultas, proporcionam a manutenção de elevadas densidades populacionais para as inúmeras espécie de mosquitos, a exemplo do Ae.

aegypti (CONSOLI; LOURENÇO-DE-OLIVEIRA, 1994).

No que diz respeito ao Ae. albopictus, este mosquito é bastante semelhante biologicamente ao Ae. aegypti, diferindo mais acentuadamente quanto à algumas caraterísticas

morfológicas e de comportamento. O Ae. albopictus é mais diversificado quanto à seleção do hospedeiro em que realiza a hematofagia, atacando mais frequentemente os humanos e as aves. Além disso, eles preferem viver no ambiente peridomiciliar, apresentando assim um leve grau de exofilia. O comparecimento no interior dos domícilios humanos ocorre apenas para realização do respasto sanguíneo. Confome já mencionado, habitam áreas menos adensadas do que os mosquitos da espécie Ae. aegypti (CONSOLI; LOURENÇO-DE-OLIVEIRA, 1994).

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