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Capítulo 1: Introdução Geral

1.1 Biomassa Vegetal

A biomassa vegetal, como recurso energético, é largamente utilizada em países em desenvolvimento, fornecendo cerca de um terço do consumo de energia primária e sendo objeto

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vezes um resíduo e um fator de preocupação ambiental. Os padrões atuais de conforto e consumo, nos chamados países desenvolvidos, estão a elevar a produção e o consumo de energia para níveis preocupantes e que originam graves problemas ambientais. Como resultado, também a grande a procura de fontes alternativas de energia, como seja termoelétrica. O aumento da produção de energia elétrica está em consonância com os efeitos do aquecimento global (GWE – Global Warming Effect) e com a emissão de gases de efeito estufa (GGE – Greenhouse Gas Effect), levando ao estudo de fontes alternativas sustentáveis de energia (Gustavsson et al., 2007; Berndes et al., 2003). A biomassa agroflorestal é uma importante fonte de energia a considerar, de entre as opções sustentáveis (Ćosić et al., 2011; Fernandes & Costa, 2010; Viana et al., 2010; Voivontas et al., 2001). As florestas têm, assim, uma importância central, uma vez que retêm cerca de 60% do carbono (650 Gt) armazenado pela vegetação terrestre (FAO, 2010), grande parte sob a forma de biomassa aérea (286 Gt) (Viana et al., 2013). Para um país como Portugal, onde um terço do território continental está ocupado por floresta e matos, o incentivo à produção interna de energias renováveis é de uma importância extrema, não só porque estas representam menores impactos ambientais, mas também porque os recursos energéticos locais reduzirão a saída de divisas, estimulando o desenvolvimento da economia nacional, nomeadamente em regiões do interior extremamente carenciadas, e diversificando as diferentes fontes de energia. Em simultâneo, este tipo de energias ajudam a reduzir as emissões de CO2, cumprindo assim os compromissos de Quioto, de Lisboa e, mais recentemente, de Paris. Neste sentido, a consciência da adoção de energias renováveis aumentou, sendo a biomassa vegetal uma alternativa ao uso de combustíveis fósseis, com um balanço de CO2 neutro (Arvanitoyannis et al, 2006; Flores et al., 1999). As florestas constituem,

assim, uma fonte localmente disponível e ambientalmente renovável de combustível (IEA, 2011).

No seguimento do Protocolo de Quioto assinado em 1998 (NU, 1998) e, posteriormente, das linhas do IPCC (IPCC, 2006 e 2014), e do Acordo de Paris em 2015 (UNFCCC, 2015), ficou patente a grande importância da biomassa e do carbono florestal e a necessidade de monitorizar, conservar e aumentar o seu armazenamento, na medida em que este influencia a concentração de CO2 atmosférico.

Os países com reduzida capacidade morfológica para a instalação de barragens hidroelétricas recorrem a outras fontes para a produção de energia elétrica, como por exemplo a instalação de centrais nucleares. O terramoto no Japão em 2011 levou a comunidade científica a repensar o uso de centrais nucleares, pelos riscos ambientais muito duradouros que acarretam.

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Por exemplo, a Alemanha cancelou o seu programa nuclear e a Itália recusou a instalação de estações nucleares, através de um referendo. O uso de biomassa florestal como fonte de energia para centrais termoelétricas desempenha um papel especial na União Europeia (UE), uma vez que esta biomassa pode controlar a dependência dos estados membros da UE em combustíveis fósseis e contribuir para a redução de emissões de gases de efeito estufa (GEE). Ao mesmo tempo, como a vegetação é um forte agente sequestrador de carbono, favorecer o crescimento da biomassa florestal contribui para uma maior fixação de carbono tanto no solo como nas próprias plantas. Do ponto de vista ambiental, a gestão adequada deste recurso natural poderá também desempenhar um papel crucial na redução da dimensão e da severidade dos incêndios rurais. Segundo Proto et al. (2014) a utilização de biomassa florestal para produção de energia envolve uma variedade de vantagens, destacando-se a redução das emissões de CO2 e a melhoria das funções da floresta, como a hidrogeologia e a conservação da biodiversidade.

Além disso, o consumo de biomassa florestal poderá contribuir para o desenvolvimento socioeconómico das áreas rurais, através da restauração das atividades agroflorestais e de avanços tecnológicos no campo da bioenergia. A conversão da biomassa florestal em bioenergia pode igualmente gerar fluxos de receitas adicionais para o setor de produtos florestais e melhorar a viabilidade económica da prática de desbaste e de outras operações de gestão florestal sustentada. Para que isso seja viável, as técnicas e os aspetos económicos de toda a cadeia de abastecimento são importantes e devem ser consideradas ao planear novos projetos de utilização de biomassa florestal (Cambero & Sowlati, 2014).

Porém, face à variabilidade natural intrínseca a este recurso natural resultante não só da variabilidade interespecífica, mas também do efeito da multiplicidade de fatores que intervêm no processo de crescimento das espécies (fatores edafoclimáticos), a sua quantificação e caracterização assumem-se de vital importância para a sua correta utilização, nomeadamente para a adequação das características dos recursos às tecnologias de transformação energética.

Importa, assim, proceder à caracterização, quantificação e georreferenciação dos locais de maior acumulação de biomassa. De um modo geral, a biomassa vegetal pode ser quantificada através de dois métodos:

- O método destrutivo (direto), que implica a quantificação de matos, lenhos, a avaliação de biomassa e / ou volume de árvores individuais, a partir do corte de material lenhoso; e

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Na maior parte das situações, o primeiro método é reservado à obtenção de dados que permitam o desenvolvimento dos modelos alométricos a aplicar no segundo método. Do primeiro método provêm resultados mais fidedignos em relação ao segundo, mas como requer o corte do material lenhoso, a sua quantificação e avaliação tanto localmente como em laboratório, o que o torna muito dispendioso quer em horas/Homem quer em recursos financeiros. Já o segundo método é mais económico e rápido, mas apresenta uma grande desvantagem que é imputada ao uso de equações alométricas. Este facto resulta de estas dependerem das condições locais dos povoamentos, idade, espécie, sendo necessária muita prudência aquando da seleção destas equações para aplicação generalizada.

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