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3 REFLEXÕES CONCEITUAIS PARA SE PENSAR A INFORMAÇÃO MUSICAL

4 NAVEGANDO NA WEB E APORTANDO NOS BLOGS: A PRODUÇÃO E O CONSUMO DA INFORMAÇÃO NO CIBERESPAÇO

4.1 OS BLOGS COMO FONTES DE INFORMAÇÃO

O termo blog é originário da expressão weblog, surgida no ano de 1997 e que, em uma adaptação para o português, poderia significar algo como registro cotidiano de atividade (ARAÚJO, 2006). Alicerçando sua base teórica com base em trabalhos de pesquisadores do campo da comunicação, Araújo (2006) enumera quatro definições mais usadas para blogs, a saber: 1) coleção de links com comentários; 2) diário online; 3) home page pessoal na internet; e 4) página na internet com texto ou arquivos dispostos em ordem cronológica.

Para Amaral, Recuero e Montardo (2009), os diferentes conceitos de blog podem ser classificados em três tipos: a visão estrutural, em que os blogs seriam definidos como uma ferramenta de publicação com formato muito particular; a visão

funcional, que considera os blogs como uma mídia, diferente das demais em seu

caráter social, pois vai além de uma simples ferramenta de publicação, já que é um meio de comunicação, que publica informações para uma audiência; e uma terceira visão, que apregoa o entendimento dos blogs como artefatos culturais, ou seja, um repositório de significados compartilhados por uma comunidade (AMARAL; RECUERO; MONTARDO, 2009).

13 Entendemos aqui capital cultura segundo a visão de Bourdieu discutida por Ortiz (1983),

como a utilização da cultura como uma moeda de troca em uma sociedade dividida em classes.

Como artefatos culturais, eles são apropriados pelos usuários e constituídos através de marcações e motivações. Além disso, perceber os blogs como artefatos indica também a sua percepção como virtual settlement [ciber-lugar], uma vez que são eles o repositório das marcações culturais de determinados grupos e populações no ciberespaço, nos quais é possível, também, recuperar seus traçados culturais (AMARAL; RECUERO; MONTARDO, 2009, p. 32).

Os blogs são “verdadeiros sistemas de micro-conteúdo, postados por um grupo de pessoas e que são atualizados sistematicamente” (MONTARDO; PASSERINO 2006, p. 2). Também podem ser vistos como fontes de informação, uma vez que disponibilizam textos, vídeos, fotos, músicas, entre outros. É válido salientar que os blogs são ferramentas da web que vêm se tornando cada vez mais acessíveis. Segundo Montardo e Passerino (2006), o número de blogs existentes dobra a cada seis meses e meio. Portanto, hoje existem blogs sobre os mais variados assuntos. Complementando esse pensamento, Santos e Cypriano (2011) afirmam que os blogs são uma “espécie de desagregadores que distribuem a interação entre as pessoas que estão espalhadas no espaço e não necessariamente se encontram congregadas no mesmo momento” (SANTOS; CYPRIANO, 2011, p. 14). Entendemos, a partir dessa afirmação, que devemos ter cuidado ao trabalhar com os blogs, pois, por mais que eles reúnam (ciber)sujeitos em torno de informações específicas, podem configurar-se, ao mesmo tempo, como lugar e não lugar.

Olhando um pouco para o histórico dos blogs, vemos que, em seu primeiro momento, eles não diferiam muito dos sites comuns da web, fato que ainda hoje dificulta sua definição (AMARAL; RECUERO; MONTARDO, 2009). O propulsor da popularização dos blogs foi o surgimento das ferramentas de publicação, iniciando pela Pitas, em 1999, que foi o primeiro dispositivo de manutenção de sites via web, seguida, no mesmo ano, pela Pyra, que lançou o Blogger. Essa ferramenta de publicação facilitou a publicação e a manutenção dos sites e dispensa o conhecimento da linguagem HTML para a criação dos blogs. Outro fator que favoreceu a popularização dos blogs foi a agregação da ferramenta de comentários, além da compra do Blogger pelo Google, em 2004, visto por alguns pesquisadores como a consagração dos blogs na época (AMARAL; RECUERO; MONTARDO, 2009).

Ao observar a blogosfera14, verificamos que, atualmente, os blogs extrapolam a função de simples diários online. Eles não são mais usados apenas com fins de entreter, já que informam e educam. Embora as informações disseminadas por vários setores ainda não possam ser consideradas científicas, constatamos que existem blogs alimentados por grandes empresas, bibliotecas, professores e pesquisadores.

Estamos vivendo em uma era onde as pessoas estão cada vez mais interligadas e conectadas ao mundo tecnológico, passando a usufruir de todas as novidades que estão sendo criadas e disponibilizadas na rede, onde buscam interagir, opinar, participar, divulgar seja uma marca ou um trabalho. Diante disso, um novo meio de divulgação na internet vem sendo utilizado por muitos: os blogs o qual se trata de uma ferramenta onde as informações são disponibilizadas e podem ser acessada de qualquer local de maneira simples, sem deixar de mencionar o quanto é fácil de criar essa ferramenta de divulgação e que cada vez vem se formando e crescendo uma rede de blogueiros desenvolvendo assim uma cadeia de blogs interligados que podemos chamar de blogosfera (OLIVEIRA; SANTOS, 2011).

De acordo com Montardo e Passerino (2006), o conteúdo dos blogs pode ser compreendido na perspectiva de explicitação dos próprios dilemas e reajustes dos processos. “Assm, o uso de blogs pode ser eficaz na tomada de consciência desses dilemas e na busca concreta de soluções, seja, pelo compartilhamento, seja pela autorreflexão daí decorrente” (MONTARDO; PASSERINO, 2006, p. 3). Portanto, o blog seria, sob o ponto de vista midiático, a personalização do seu autor, que fortalece a expressão do indivíduo em público. A expressão da individualidade é tomada como uma qualidade da apropriação, logo, os “blogs são formas de publicação diferenciadas porque tornam uma forma de apropriação do ciberespaço como modo de expressar a identidade de seus autores” (AMARAL; RECUERO; MONTARDO, 2009, p. 34).

A liberdade de expressão e a expressão da individualidade também podem apresentar aspectos negativos, como o conflito entre os blogueiros e a audiência, uma vez que o autor do blog assume uma posição de visibilidade, que também pode ser de vulnerabilidade. Nessas comunidades virtuais, ocorrem novos fenômenos

como os trolls15, os cyberstaklers16 e os haters17, em práticas de xingamento e de

flamming18, com o objetivo de legitimar sua participação nos debates online

(AMARAL; RECUERO; MONTARDO, 2009). Os blogs também propagam outro fenômeno, os memes, que é uma substituição do popular boca a boca pelo blog a blog (AMARAL; RECUERO; MONTARDO, 2009), que constitui uma rede invisível de informação com repercussão imediata e mundial, que está em permanente atualização.

Em relação ao acesso, os blogs dividem-se em três tipos: 1) de acesso público, porque qualquer pessoa com acesso à internet pode visitá-los; 2) de acesso restrito a um grupo específico, em que apenas pessoas que recebem um convite podem visitá-los; 3) e de acesso restrito ao (s) seu (s) criador (es). Para postar comentários nos blogs, a divisão é a mesma da referida antes, e os donos dos blogs têm o poder de exercer moderação sobre todos os comentários.

Podemos conceber os blogs como fontes de informação. Nesse sentido, Tomael et. al.(2001) afirmam que um dos principais aspectos a serem observados nas fontes de informações é a acessibilidade do usuário na busca e na recuperação das informações, visando, como sugere Figueiredo (1999), atender aos indivíduos com necessidades informacionais únicas e com características educacionais, psicológicas e sociais também únicas.

Ao refletir sobre as considerações de Tomael et. al. (2001) e Figueiredo (1999), verificamos que os blogs atendem aos critérios citados e tanto podem ser uma ferramenta da web, cuja acessibilidade é facilitada por estarem online durante 24 horas, quanto acessados de qualquer lugar do mundo através da internet. Os blogs também atendem ao critério de organização da informação, porque seus posts ficam disponibilizados, em ordem cronológica decrescente, e seus donos ainda podem criar índices, a partir de palavras-chave inseridas nos posts, e/ou criar nuvens de tags19.

15 (Ciber)sujeito que causa distúrbios às relações sociais (AMARAL; RECUERO;

MONTARDO, 2009)., persona responsável por criar polêmicas, com maior ênfase no ambiente web.

16 (Ciber)sujeito que usa as ferramentas da web para perseguir ou ameaçar outras pessoas. 17 “Odiadores” são (ciber)sujeitos que se dedicam a atacar outros (ciber)sujeitos e

personalidades famosas na web.

18 Mensagens hostis e insultos.

Na blogosfera, existem blogs sobre os mais variados assuntos e que podem tratar de temas diversos ou se deter em outros específicos. Por exemplo, encontramos blogs sobre cultura pop, música, gêneros musicais específicos, moda, culinária etc. Aqui, lembramos as leis de Ranganathan, especificamente a segunda e a terceira, que dizem: todo leitor, o seu livro, e todo livro, o seu leitor (FIGUEIREDO, 1992). Moldando essas leis para a nossa realidade, podemos lê-las da seguinte forma: Todo blog, o seu leitor, e todo leitor, o seu blog. Os blogs são fontes de informação que podem atingir um alto grau de especificidade e satisfazer às necessidades de informação dos mais diversos usuários/(ciber)sujeitos.

Para entender bem mais a produção da informação nos blogs, traçamos um paralelo com o pensamento de Ortiz (1983), que reflete sobre os escritos de Bourdieu, que refere:

O jovem que se inicia no campo científico, e que volta fervorosamente para os estudos, não está simplesmente produzindo conhecimento, mas sobretudo investindo num capital cultural, que irá posteriormente assegurar-lhe uma posição dominante no campo dos pesquisadores científicos (ORTIZ, 1983, p. 22).

Então, da mesma forma que fizemos com as leis de Ranganathan, recontextualizamos o pensamento sobre o capital cultural. Dessa maneira, vemos um(a) blogueiro(a) como um indivíduo que se insere em um contexto específico, que investe em um capital cultural, para ser reconhecido/a e/ou aceito/a por uma comunidade específica.

Com essas reflexões, inferimos que os blogs, tanto do ponto de vista estrutural, quanto funcional ou como um artefato cultural, constituem-se, hoje, como um meio de comunicação, um espaço de interação social, formador de uma rede social que possibilita a troca dos mais diversos tipos de informação. Dessa forma, os blogs operacionalizam-se como dispositivos que fortalecem a construção de identidades, seja essa ou não a intenção do blogueiro. É possível identificar informações que podem ser lidas como de cunho político, que impele o (ciber)sujeito a fazer um posicionamento. E é nesse espaço onde a informação étnico-racial e a musical são possíveis nesse tipo de apropriação.