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Boas Práticas Legislativas

No documento Ana Maria de Resende Chagas (páginas 44-47)

3 A norma e a moral na conformação de uma sociedade inclusiva

3.4 A evolução do ordenamento legal

3.4.2 Ordenamento legal na esfera nacional

3.4.2.1 Boas Práticas Legislativas

Com a finalidade de informação e como exemplo de boas práticas pode-se mencionar algumas ações nos três níveis federados e na iniciativa privada que demonstram como pode ser promovida a inclusão e melhoria da qualidade de vida das pessoas com deficiência.

No estado de São Paulo é possível fazer-se busca eletrônica da norma legislativa referente às questões relacionadas à deficiência por meio da palavra-chave “deficiência”, o que permite a obtenção de ampla legislação e demonstra especial atenção à área6. A Constituição Estadual estabelece a responsabilidade do Estado em relação aos vários aspectos da vida das pessoas com deficiência, abrangendo a prevenção de saúde, a proteção no trabalho, a reabilitação, a educação especializada e a educação inclusiva e com recursos adaptados, o esporte e o lazer, incentivos tributários a empresas e creditícios a empresas e pessoas para aquisição de ajudas técnicas, o acesso aos logradouros públicos e ao transporte. Além disto, a legislação estadual contempla muitos aspectos, dos quais destacamos aqueles que nos pareceram mais interessantes por atender a legislação federal ou por representar inovações.

Em anos recentes passaram a constar da previsão normativa a instalação de assentos para idosos, gestantes e portadores de deficiência nos terminais de transportes coletivos rodoviários intermunicipais, do Metrô e estações de trens7; a celebração de convênios com instituições sem fins lucrativos, com atuação em educação especial, para promover o atendimento de educandos portadores de necessidades especiais8; a comercialização pelo Estado de imóveis populares, reservando percentagem para portadores de deficiência ou famílias de portadores de deficiência9; o ingresso e permanência de cães-guia em locais públicos e privados10; a obrigatoriedade de os "shopping centers" e

6 http://www.legislacao.sp.gov.br/legislacao/index.htm. 7 Lei 11.877, de 18/01/2005. 8 Decreto 48.060, de 01/09/2003. 9 Lei 10.844, de 05/07/2001. 10 Lei 10.784, de 13/04/2001.

estabelecimentos similares, em todo o Estado, fornecerem cadeiras de rodas para pessoas portadoras de deficiência e para idosos11.

No Distrito Federal, no ano de 2005, também houve avanços com a aprovação de várias leis em favor da questão da deficiência. Estas leis versaram sobre a prevenção, reabilitação e adaptação do ambiente. A realização de exames de triagem neonatal que compõem o denominado “Teste do Pezinho” para diagnóstico precoce da Fenilcetonúria, do Hipotireoidismo Congênito e Deficiência de Biotinidase tornou-se obrigatória em todos os hospitais e maternidades da Rede Pública do Distrito Federal12. Além disto, previu-se a continuidade do diagnóstico por meio de fornecimento de atendimento médico e de medicação, no caso de constatação das referidas deficiências.

Foi criado o Programa Mão na Roda, destinado a transportar pessoas com mobilidade reduzida, os cadeirantes, assim entendidas as pessoas com deficiência grave e os idosos sem condições de andar, por meio de veículos de baixo piso, ônibus e vans especiais dotadas de elevadores hidráulicos, disponibilizados pelo Governo do Distrito Federal13. Os veículos utilizados para o transporte devem contar, além do motorista, com dois ajudantes. Para operacionalizar o serviço, a Secretaria de Transportes elaborará um Plano Diretor, de forma que os ônibus operem em linhas troncais, interligando os terminais, e as vans façam a alimentação dos terminais ao destino, sendo o custo suprido com dotações orçamentárias do governo do Distrito Federal.

Também ficaram previstas ciclovias em todos os projetos rodoviários e nas estradas em fase de construção onde o relevo da região assim o permitir14. Apesar de não estar diretamente voltada à facilitação de deslocamento de cadeirantes, estas ciclovias certamente se prestam a esta destinação.

Os restaurantes e similares do Distrito Federal ficam obrigados a adequar seus cardápios à linguagem Braile15. A única exceção prevista diz respeito aos estabelecimentos que trabalham exclusivamente com o sistema de auto-serviço (self service).

Em obediência à Lei Orgânica do Distrito Federal, o Poder Público deve assegurar que o atendimento fisioterápico à população necessitada seja prestado em cada uma das Regiões Administrativas, por meio de, pelo menos, uma unidade do Sistema Único de Saúde (SUS/DF) apta a oferecer serviços básicos de fisioterapia16.

Em Belo Horizonte foi sancionada a Política Municipal da Pessoa com Deficiência17, que consolida as normas que asseguram seus direitos individuais e coletivos. Segue os princípios gerais da legislação nacional e tem como instrumentos: a integração entre as instituições governamentais e não

11 Lei 10.779, de 09/03/2001. 12

Foi atualizada a Lei nº 326, de 6 de outubro de 1992, por meio da Lei nº 3.592, de 27 de abril de 2005. 13 Lei nº 3.599, de 9 de maio de 2005. 14 Lei nº 3.639, de 28 de julho de 2005. 15 Lei nº 3.634, de 28 de julho de 2005. 16 Lei nº 3.665, de 6 de setembro de 2005. 17 Lei nº 9.078, de19 de janeiro de 2005.

governamentais, inclusive as entidades representativas, visando garantir ações de prevenção e atendimento, bem como qualidade de serviços oferecidos; o investimento na formação e aprimoramento dos recursos humanos, no avanço e aperfeiçoamento técnico-científico e na aplicação das normas de acessibilidade; e a fiscalização do cumprimento de legislação pertinente às pessoas com deficiência.

Determina também, em seu artigo 23, que os edifícios privados com mais de um pavimento, em que não seja obrigatória a instalação de elevadores, destinados ao uso multifamiliar vertical com mais de 8 unidades residenciais, deverão apresentar unidades acessíveis às pessoas com deficiência e mobilidade reduzida, correspondentes a, pelo menos, 10% do total das unidades residenciais de todo o empreendimento, devendo os valores fracionários do número de unidades seguir regra específica.

Em nível federal, tramita na Câmara o Projeto de Lei nº 6.097/05 que cria incentivos fiscais para a fabricação de equipamentos que proporcionem maior autonomia e inclusão social às pessoas portadoras de necessidades especiais ou com mobilidade reduzida. A pesquisa tecnológica voltada para invenção ou aperfeiçoamento desses produtos também será beneficiada. O projeto isenta de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) os equipamentos, aparelhos e instrumentos destinados à inclusão e à acessibilidade de portadores de necessidades especiais e autistas. Entre esses produtos estão próteses, cadeiras de rodas motorizadas, leitos e macas. A isenção abrangerá as peças, partes e componentes, acessórios, matérias-primas e materiais de embalagem utilizados na industrialização dos equipamentos. O texto estabelece ainda que, se houver necessidade de importar esses insumos, neles não incidirá Imposto sobre a Importação. A proposta também isenta as empresas que investirem em pesquisa e inovação, ou tiverem suas atividades voltadas para produtos que supram ou amenizem as deficiências e as restrições locomotoras, dos tributos incidentes sobre essas atividades. Está incluída na isenção a contribuição previdenciária patronal que incide sobre a mão-de-obra.

Há também a proposta, em exame na Comissão de Direitos Humanos e Legislação Participativa (CDH), de inclusão dos hospitais no rol das instituições obrigadas a conferir atendimento prioritário às pessoas portadoras de deficiência, idosos, gestantes, lactantes ou que estejam acompanhadas por crianças de colo. A proposta (PLS 181/03) altera a Lei 10.048/00, que assegura o atendimento prioritário em repartições públicas, empresas concessionárias e instituições.

A Emenda Constitucional nº 47 prevê a possibilidade de redução do tempo de serviço para efeito de aposentadoria, em decorrência do desgaste funcional da pessoa com deficiência. Antes dessa emenda, esses profissionais não tinham direito ao benefício. Segundo a Coordenadoria para a Integração da Pessoa Portadora de Deficiência (Corde), o esforço contínuo pode agravar algumas deficiências ao longo dos anos tornando a aposentadoria necessária antes do tempo estabelecido em lei. Projeto de Lei Complementar será elaborado pelo Poder Executivo e encaminhado ao Congresso Nacional para disciplinar os critérios especiais de que trata a Emenda Constitucional 47 como, por exemplo, o laudo médico para comprovar o agravamento de determinadas deficiências para fins de aposentadoria.

Outra medida inovadora é a revisão do conceito de interdição judicial para a avaliação de capacidade para a concessão do Benefício de Prestação Continuada (BPC) a fim de evitar a perda da cidadania em troca de benefício no valor de um salário mínimo. Esta foi a principal conclusão da audiência promovida pela Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara em junho de 2005, que contou com o debate com juristas, psiquiatras, peritos e técnicos do Governo Federal. Anteriormente, já haviam ocorrido avanços na legislação, pois o novo Código Civil não considera mais o doente mental como sendo automaticamente incapaz. Em vez de considerar passíveis de interdição “os loucos de todo gênero”, como previa o código anterior, a tendência atual é considerar a interdição uma medida extrema, onde o paciente não deve ser visto como deficiente, mas como alguém que não consegue realizar plenamente suas atividades profissionais.

A Comissão de Seguridade Social e Família aprovou substitutivo ao Projeto de Lei nº 3.021/00 que determina a redução em 50% da contribuição previdenciária de responsabilidade das empresas que contratarem um percentual mínimo de 2% a 6% de pessoas com deficiência ou portadoras do vírus causador da Aids (HIV)18.

No documento Ana Maria de Resende Chagas (páginas 44-47)

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