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IV. Medidas Tecnológicas de Protecção

4. Botões de Denúncia

A faculdade de denunciar conteúdos prejudiciais por parte dos seus utilizadores está patente na grande maioria dos sites que permitem a partilha de informação. Esta ferramenta é a única medida de carácter tecnológico que sabemos estar disponível na plataforma Goodreads.211

Sempre que um utilizador se deparar com informação disseminada que considere ofensiva ou violadora de direitos, o mesmo poderá reportar tal actividade ao staff da plataforma, bastando para isso carregar no botão de “flag abuse”. Após alertados, os responsáveis do Goodreads irão, casuisticamente, determinar quais informações serão eliminadas da plataforma, como seja o caso de conteúdos extremamente ofensivos (propaganda Nazi, pornografia, et cetera) e opiniões críticas relacionadas com determinado livro que visem apenas originar tumultuo ou que consubstanciem um ataque ao autor ou aos restantes utilizadores, entre

209 São comummente conhecidos casos em que a rede social Facebook tem apagado conteúdos aí carregados pelos seus utilizadores, muitas vezes de caracter cultural, de informação ou até mesmo humorísticos, considerados nocivos pelos filtros neste implantados, sem que na verdade tenha sido esse o desígnio do utilizador que o disponibilizou.

210 COSTA, João Fachana, A responsabilidade civil pelos conteúdos ilícitos colocados e difundidos na Internet…, pág. 127.

211 O sistema de botões de denúncia fora implanto, curiosamente, após a aquisição do Goodreads por parte da Amazon. Antes desta actuação, desconhece-se de que modo os conteúdos nocivos aí lançados eram monitorizados, ou se o eram de todo.

outros.212 Este mecanismo é denominado de notice and take down, uma vez que assim que o

conteúdo pernicioso é encontrado, o cibernauta que com ele se depara reporta tal abuso de imediato. Logo, o rastreio é efectuado por humanos, e não por máquinas, por contraposição ao que acontece com os filtros de conteúdos. Na continuação, neste caso, pensamos, que as potenciais violações de direitos dos utilizadores, quer sejam de privacidade, expressão ou ao bom nome, serão potencialmente mínimas.

Mais uma vez, a netiqueta volta a ser importante e passível de utilização, potenciando o estabelecimento de “uma rede europeia [por exemplo] de centros de recepção de reclamações dos utilizadores que considerem ter identificado material ilícito, assim permitindo um maior controlo dos conteúdos que circulam na Internet”.213 Deste modo, a ideia não é que se proceda a

remoções automáticas dos conteúdos assinalados, mas antes dar apenas “o alerta”, cabendo ao receptor do aviso promover uma análise casuística, e/ou comunicar com o utilizador que cometeu a “infracção”, no sentido de remediar a situação por si provocada (editando ou eliminando o conteúdo nocivo, ou lesivo do Direito de Autor que o mesmo disseminou). Só posteriormente, caso o próprio utilizador responsável nada fizer, poderá o administrador da plataforma tomar alguma medida definitiva, sempre tendo em conta um balanço entre direitos.

Apesar de não comportar fonte de Direito214, a netiqueta é um conjunto de regras de

conduta adoptadas pelos utilizadores no uso e manutenção de determinadas plataformas que potenciam o contacto e a transacção de informação. Por vezes, esta forma de lidar com os conteúdos ilicitamente lançados na rede, ou que potenciem a publicitação de mensagem de carácter agressivo, é efectivamente mais eficaz a partir da própria comunidade.215 Ou seja, há

uma potenciação de prevenção216, porque todos nós, cibernautas, podemos denunciar casos

menos relevantes, que nunca chegariam à tutela por parte de um tribunal, contribuindo para uma utilização salubre da rede, que é, em boa verdade, de todos e para todos.

212 Goodreads – How do I flag abuse?, disponível para visionamento em https://www.goodreads.com/help/show/57-how-do-i-flag-abuse (último acesso em Agosto de 2014).

213 GONÇALVES, Maria Eduarda, Direito da Informação…, pág. 120.

214 VICENTE, Dário Moura, Direito Internacional Privado – Problemática Internacional da Sociedade da Informação, pág. 136. 215 GONÇALVES, Maria Eduarda, Direito da Informação…, pág. 118.

5. “Marcas de Água”

Estes sistemas tecnológicos nada mais são do que informação colocada de forma invisível, tal como acontece nos sistemas de inibição de cópia supra enunciados, contudo, a sua função é somente identificar quais exemplares da obra foram licitamente adquiridas.

Assim, tal como acontece com as notas, cada exemplar original terá um “timbre” que distingue a obra original das cópias que a partir desta foram produzidas, sendo que a “marca de águas” poderá conter dados de diversa natureza, como a identificação do autor e da obra a ser utilizada.217 Neste sentido, estes mecanismos tecnológicos visam, pois, o controlo por parte dos

titulares de prestações literárias e artísticas do uso que utilizadores dão às suas obras.218

Todavia, estes sistemas de protecção não podem ser encarados de ânimo leve. Na verdade, é legítimo ao utilizador que adquiriu licitamente determinada prestação proceder à cópia privada desta, e nada o impede de o fazer mais do que uma vez. No caso de o utilizador ter vários dispositivos digitais que lhe permitam usufruir intelectualmente da referida prestação (um computador, o telemóvel e um e-reader 219, por exemplo), seria absurdo que este fosse

obrigado a fazer diversas aquisições distintas para ter um exemplar original em cada um desses dispositivos. Nem todas as cópias provenientes do ficheiro original são, por conseguinte, exemplares ilegais.

Pelo exposto, é certo que, as medidas tecnológicas de protecção, por si só, não constituem modo bastante de tutela dos direitos de autor ou conexos dos autores e titulares sobre as obras que fazem parte da sua esfera jurídica. A lei escrita e efectivada toma, ainda, um papel importante nessa protecção, uma vez que tais medidas tecnológicas encontram-se plasmadas nesses mesmos textos legais que alguns acreditam ter caducado de aplicação. Como se disse, ambas as técnicas tuteladoras das prestações lançadas no fluxo transaccional tremendamente rápido e qualitativo da rede são necessárias, e de relativa fácil articulação entre si. Defendemos, como supra de expos, a manutenção de um sistema híbrido de protecção, sem

217 AKESTER, Patrícia, O Direito de Autor e os Desafios da Tecnologia Digital, págs. 148-150.

218 TRABUCO, Cláudia, O Direito de Reprodução de Obras Literárias e Artísticas no Ambiente Digital, pág. 612.

219 Os e-readers são dispositivos que permitem a leitura de um livro em formato digital, podendo comportar na sua memória uma verdadeira biblioteca.

esquecer que, apesar de, por vezes, “a resposta para a máquina se encontrar na máquina”, esta, por si só, nunca será suficiente, uma vez que, da mesma forma que a técnica protege, a técnica também encontra sempre um modo de neutralizar tal tutela.

Finalmente, certo é que, podemos claramente depreender que estes mecanismos vieram também, digamos, emancipar os autores. Cada vez se torna mais fácil ao autor divulgar as suas obras através das possibilidades da rede, que se desmultiplicam diariamente. Mas mais que isso, este tipo de medidas tecnológicas permite uma outra oportunidade para os criadores: permite-lhes uma gestão individual dos seus direitos e das obras a eles respeitantes, não necessitando, assim, de intermediários para que tal ocorra. Obviamente que tal actividade poderá representará um risco, uma vez que sempre existirão aqueles que não respeitaram a vontade e os direitos dos autores, mas tal desígnio não é uma novidade da técnica, pelo que tal sempre ocorreu.220

Mas a isto se chama evolução.

220 VILLAREJO, Abel Martín, El Ejercicio de los Derechos de Propiedad Intelectual en el Ámbito de las Nuevas Tecnologías, in Nuevas Tecnologías y Propiedad Intelectual, Carlos Rogel Vide (Coordiandor), 2002 – Reimpressão, AISEG – Actores, Intérpretes, Sociedad de Gestión de España, 1999, págs. 170-171.

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