3.2 Qualidade e segurança de vinhos
3.2.1 BPF e HACCP
A qualidade hoje é uma vantagem competitiva que diferencia uma empresa de outra, no
contexto em que os consumidores estão cada vez mais exigentes em relação à sua expectativa no
momento de adquirir um determinado produto; sendo assim, as empresas que não estiverem
preocupadas com esta busca pela qualidade poderão ficar à margem do mercado consumidor.
Quando se fala em qualidade para a indústria de alimentos e bebidas, o aspecto segurança do
produto é sempre um fator determinante, pois qualquer problema pode comprometer a saúde do
consumidor. É de se esperar, desta forma, que as boas empresas que atuam nesse ramo de
atividade tenham algum sistema eficaz para exercer esse controle (FIGUEREDO & NETO,
2001).
A implantação do Sistema de Análise de Perigos e Pontos Críticos de Controle (HACCP)
e das Boas Práticas de Fabricação (BPF) não é obrigatória para o setor de vinhos. O MAPA
apenas sugere a implantação das BPF em vinícolas através da Instrução Normativa - IN n° 05 de
05 de abril de 2000, que estabelece os requisitos gerais (essenciais) de higiene e de BPF para a
fabricação de bebidas e vinagre, incluindo o vinho e derivados, elaborados/ industrializados para
o consumo humano (BRASIL, 2000).
O HACCP é fundamental no sistema moderno de gestão da qualidade nas indústrias de
alimentos e bebidas. Trata-se de um sistema preventivo, que vem sendo adotado em todo o
mundo, na busca pela garantia da inocuidade dos alimentos, e inclui aspectos que vão desde a
produção no campo até o consumidor final, passando pela industrialização e distribuição,
podendo ser implementado em qualquer tipo de empresa. Além de garantir a segurança, este
aumentar a lucratividade, já que otimiza processos industriais e minimiza perdas (SENAI, 2000).
Sete princípios foram adotados pelo Codex Alimentarius e pelo National Advisory Committee on
Microbiological Criteria for Foods – NACMCF para caracterizar a seqüência lógica na implantação e execução do HACCP, sendo aplicáveis em toda e qualquer atividade relacionada
com alimentos e bebidas. (VENTURINI FILHO, 2005).
Perigos podem ser definidos como contaminantes ou constituinte da matéria-prima, dos
produtos semi-acabados ou do produto final, de natureza biológica, química ou física, em
condições potenciais para que possam causar agravo à saúde e/ou à integridade do consumidor.
Para cada perigo uma medida preventiva deverá ser adotada de acordo com a realidade da
indústria (SENAI, 2000; VENTURINI FILHO, 2005).
Pontos de Controle (PC’s) podem ser definidos como os pontos ou as etapas do processo
de fabricação que afetam a segurança e/ ou qualidade do produto final, e que podem ser
controlados(as) por programas e procedimentos de pré-requisitos do Sistema HACCP - BPF,
Procedimentos Operacionais Padronizados (POP’s), Controle Integrado de Pragas, entre outros.
Por sua vez, Pontos Críticos de Controle (PCC’s) podem ser definidos como pontos, etapas ou
procedimentos que afetam a segurança e/ou qualidade do produto, mas que não podem ser
controlados pelos programas de pré-requisitos do Sistema HACCP. Neste caso, medidas de
controle (preventivas) devem ser aplicadas para manter um perigo significativo controlado,
eliminando-o, prevenindo-o ou reduzindo-o a níveis aceitáveis, de forma que ele não implique em
riscos à saúde do consumidor (SENAI, 2000). Limites críticos devem ser estabelecidos para cada
medida de controle monitorada dos PCC’s.
Limite crítico pode ser definido como um valor máximo ou mínimo de parâmetros
medidas, como temperatura, tempo, atividade de água, pH, acidez titulável, resíduos de
antibióticos entre outras (VENTURINI FILHO, 2005).
Entende-se como BPF o conjunto de princípios e regras para o correto manuseio de
alimentos e bebidas, abrangendo desde a matéria-prima até o produto final, de forma a garantir a
segurança e a integridade do consumidor. As regras de BPF são agrupadas em categorias,
denominadas de requisitos, sendo eles: higiene ambiental, higiene pessoal, higiene operacional,
limpeza e desinfecção, e Controle Integrado de Pragas (CIP) (LOPES, 2005; VENTURINI
FILHO, 2005).
POP é um procedimento escrito de forma objetiva, que estabelece instruções seqüenciais
para a realização das operações rotineiras e específicas na produção, armazenamento e transporte
de alimentos e bebidas. Do ponto de vista das empresas os POP’s são complementares as BPF
(BRASIL 2002; LOPES, 2004). Já para a vigilância sanitária, os POP’s, acompanhados de seus
respectivos registros de execução, são elementos necessários da fiscalização sanitária para
verificar se o estabelecimento cumpre as BPF (BRASIL, 2002).
As BPF e os POP’s constituindo-se em programas de pré-requisitos (PPR’s) fundamentais
para a adequada implantação e execução do Sistema HACCP. Ao contrário do HACCP, falhas no
cumprimento das BPF ou dos POP’s não resultam em ação direta sobre o produto, sendo, por
isso, uma diferença essencial entre os mesmos. Entretanto, se um PPR não é conduzido
adequadamente, a análise de perigos pode estar equivocada e o plano HACCP inadequado, já que
Pontos Críticos de Controle (PCC’s) serão adicionados, resultando em um aumento da
complexidade desse sistema (PERBER et al.,1998; VENTURINI FILHO, 2005).
O Sistema HACCP em conjunto com os POP’s e as BPF constituem-se no Sistema de
Segurança de Alimentos (food safety). Esse Sistema tem sido amplamente divulgado e é cada vez
também exigido, no âmbito do comércio internacional, por norma do Codex Alimentarius
(LOPES, 2004).
Christaki e Tzia (2002) realizaram estudo na Grécia objetivando garantir a qualidade e a
segurança dos vinhos. Para tal, levantaram perigos e identificaram os PC’s e PCC’s, desde o
cultivo da uva até a distribuição do produto final engarrafado, baseando-se nos princípios do
Sistema HACCP. O estudo identificou como PCC’s os estágios de cultivo da uva, colheita,
fermentação, maturação (ou estabilização), envelhecimento e engarrafamento (enchimento das
garrafas, colocação da rolha e rotulagem). Como PC’s, que afetam a qualidade do vinho, foram
indicadas as etapas de cultivo da uva, colheita, desengace, separação do suco (para vinhos
brancos), armazenamento do mosto (para vinhos brancos), fermentação, corte (mistura dos
4. MATERIAL E MÉTODOS
A presente pesquisa foi aprovada pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da UNICAMP,
sob o protocolo CEP/UNICAMP no 393/2007, em atendimento à RESOLUÇÃO nº 196, de 10 de
outubro de 1996 do Conselho Nacional de Saúde, DF, Brasília, Brasil.