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Michelle Claudino Pires1, Márcia Gonçalves Londero2 Temática abordada: Publicações de Mulheres no Acervo da Biblioteca

Setor(es) envolvido(s): Biblioteca Irmão José Bernardi

Identificação do Ano Escolar/Nível de Ensino: toda a comunidade educativa.

Contexto e objetivos da prática

A discussão acerca do lugar da mulher na sociedade está em pauta nos diversos campos. Ainda que in- cipientes, iniciativas institucionais têm intencionado ampliar os direitos femininos. A equiparação de igualdade com o homem está garantida na Constituição Federal brasileira, de 19883; a participação política das mulheres foi assegurada pela Lei Eleitoral, de 19974, que prevê, no mínimo 30% de candidatura feminina para cargos políticos; a proteção contra violência às mulheres foi estabelecida pela lei Maria da Penha, de 20065 e pela a lei do feminicídio, de 20156, para citar alguns exemplos.

No entanto, a condição de igualdade social entre homens e mulheres está bastante distante do ideal. A necessidade de criar esses mecanismos, por si só, já acusa essa situação. No campo editorial não é diferente. Um estudo da pesquisadora Regina Dalcastagnè (2012) sobre os romances brasileiros contemporâneos publicados por grandes selos editorias, como a Companhia das Letras, a Record e a Rocco, indicou que, não só as personagens femininas são pouco representadas – somente 28,9% são protagonistas –, como também o número de escritoras publicadas tem estatística ínfima semelhante: apenas 28,3% das obras selecionadas no corpus foram escritas por mulheres.

Levando em conta que instituições como academias, clubes literários e o sistema educacional etc., legiti- mam o cânone (BOURDIEU, 2015) – que, não por acaso, é representado por homens, brancos, da elite – a Biblio- teca Irmão José Bernardi fez mea-culpa e realizou uma ação alusivo ao Dia Internacional da Mulher, que teve três objetivos: a) provocar a reflexão da comunidade educativa acerca do status da produção de mulheres no mercado editorial; b) identificar a representatividade dessas mulheres no acervo da Biblioteca Irmão José Bernardi, dos Co- légios Maristas Assunção e Vettorello; e, c) convidar os leitores a indicarem livros escritos por mulheres.

A situação da falta de representatividade feminina no acervo de biblioteca estava tão naturalizada que a própria equipe foi surpreendida ao verificar a presença massiva de escritores e pesquisadores masculinos no catá- logo, em detrimento das mulheres. Com um olhar mais atento ao documento que norteia o desenvolvimento de coleções do acervo da Rede Marista, há indicação de “[...] definir a qualidade do material a partir da reputação do autor, editora ou patrocinador.” (COLÉGIOS..., 2017, p. 42). No entanto, como podemos perceber nos dados acima,

1 Bacharela em Biblioteconomia (UFRGS). Especialista em Teoria e Prática da Formação do Leitor (UERGS). Mestranda em Letras (UniRitter). Técnica em Biblioteconomia (IFRS). E-mail: michelle.pires@maristas.org.br

2 Licenciatura em Estudos Sociais (PUCRS). Técnica em Biblioteconomia (IFRS). Especialista em Teoria e Prática da Formação do Leitor (UERGS). E-mail: marcia.londero@maristas.org.br

3 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 4 BRASIL. Lei nº 9.504, de 30 de setembro de 1997.

5 BRASIL. Lei nº 11.340, de 7 de agosto de 2006. 6 BRASIL. Lei nº 13.104, de 9 de março de 2015.

editoras de renome reforçam a ausência feminina no mercado editorial. Esse mesmo documento recomenda a for- mação de um acervo com a literatura mundial e, para tanto, sugere consulta ao Guia de Leitura da L&PM (GUIA..., 2007, p. 25). Ele traz um elenco de 100 autores “clássicos” (canônicos) que “você precisa ler”, dos quais, apenas 6 são mulheres. Sem perceber, vamos institucionalizando a desigualdade7.

Ações desenvolvidas

Organizamos uma exposição alusiva ao Dia Internacional da Mulher (8 de março), com cartazes, exposição de livros escritos por mulheres e caixinha de sugestões. Após a exposição, a Biblioteca passou a formar o acervo com mais atenção à(s) representatividade(s) feminina(s), tanto da escrita de ficção, quanto de não-ficção.

Desafios

Constituir um acervo científico já é um desafio a parte, tendo em vista a necessidade de amplo conheci- mento nas diversas áreas do saber, a fim de identificar autores importantes ou cobertura temática. Então, iden- tificar pesquisadoras, mulheres, para compor as áreas foi uma dificuldade além. Sobretudo nas áreas que são tradicionalmente dominadas por homens, como é o caso da Física.

Conforme estudo da Elsevier, de 2017 (FIOCRUZ, 2017), quase metade dos pesquisadores brasileiros já são mulheres, e o impacto de seus estudos são semelhantes aos dos homens. Portanto, cabe à equipe da biblioteca e aos professores/educadores das áreas identificar e dar destaque ao trabalho dessas pesquisadoras.

No que respeita à literatura de ficção é mais fácil identificar obras escritas por mulheres. A publicação de best-seller tipo chick-lit, bem como as literaturas idealizadas para o público infantil é um segmento onde há espaço para as escritoras. Também, há iniciativas como o Projeto #leiamulheres, que enaltecem as escritas femininas.

Resultados alcançados

Considera-se como muito positivo o interesse e a participação de algum(s) usuário(s) da biblioteca com sugestões das obras abaixo elencadas:

a. Maísa; b. Tati Bernardi; c. Malala;

d. A mamãe é rock (Ana Cardoso);

e. Todos nós adorávamos caubóis (Carol Bensimon); f. Me diga quem eu sou (Helena Gayer);

g. A guerra não tem rosto de mulher (Svetlana Aleksiévitch).

Além dessas, a biblioteca adquiriu obras das seguintes escritoras/pesquisadoras: Ficção:

a. Conceição Evaristo; b. Angélica Freitas; c. Natália Borges Polesso; d. Ana Paula Maia;

e. Isabella Figueiredo (portuguesa); f. Maria Firmina dos Reis;

g. Angie Thomas (norte-americana) h. Ana Maria Gonçalves;

i. Helena Ferrante (italiana?);

7 E, mais uma vez, é necessário fazer mea-culpa, já que a bibliotecária do CM Assunção, também autora deste artigo, teve participação na elaboração do documento institucional, sem observar essa questão!!

Não-Ficção: a. Ingedore Koch;

b. Maria Terezinha Shmidt; c. Djamila Ribeiro;

d. Ana Beatriz Silva; e. Biografias de mulheres:

a. A vida Imortal de Henrietta Lacks b. Mulheres que revolucionaram o Brasil; c. Histórias de ninar garotas rebeldes (v. 1 e 2)

Apontamos como resultado uma mudança no olhar para as publicações que constituem o acervo, na neces- sária atenção à produção feminina para a constituição de uma biblioteca representativa. Inferimos também, que as pessoas que fizeram sugestões de livros, tiveram possibilidade de tomada de consciência sobre o que a exposição se propôs, e puderam contribuir para essa nova formação do acervo.

Referências

BOURDIEU, Pierre. A economia das trocas simbólicas. 8. ed. São Paulo: Perspectiva, 2015.

COLÉGIO E UNIDADES SOCIAIS DA REDE MARISTA. Política de desenvolvimento de coleções. 2. ed. Porto Alegre: CMC, 2017.

DALCASTAGNÈ, Regina. Literatura brasileira contemporânea: um território contestado. Vinhedo: Horizonte, 2012. FIOCRUZ. Mulheres já produzem metade da ciência do Brasil, segundo relatório da Elsevier. 09 mar. 2017. Dispo- nível em: < http://periodicos.fiocruz.br/pt-br/content/mulheres-j%C3%A1-produzem-metade-da-ci%C3%AAncia- -do-brasil-segundo-relat%C3%B3rio-da-elsevier>. Acesso em: 19 nov. 2018.

MaristaAssuncao

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