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Breve contextualização do processo de coleta e sistematização dos dados da pesquisa

3 CARTOGRAFAR É PENSAR RELACIONALMENTE: UMA CARTOGRAFIA SOCIAL DAS ORGANIZAÇÕES DA SOCIEDADE CIVIL DE NATAL

3.1 Breve contextualização do processo de coleta e sistematização dos dados da pesquisa

Um dos primeiros passos de nossa pesquisa foi a construção de uma banco de dados, que ,no momento inicial, não se limitou àquelas organizações que tradicionalmente são reconhecidas como voltadas para o público jovem e adolescentes. Constatamos que muitas organizações atuam como distintos públicos e faixas etárias; sendo assim, também estariam a compor a oferta de serviços e atividades ao segmento em questão.

Foi, portanto, nossa intenção construir um modelo de análise que privilegiasse essa dimensão social e política desse segmento, ou seja, exercitar um outro olhar sobre essas organizações, através de um esforço de explicação e articulação dos elementos caracterizadores já mencionados e assim identificar novos desenhos e significados para a existência desses sujeitos – as organizações da sociedade civil.

No que diz respeito às organizações sociais examinadas, ao se realizar o primeiro levantamento exploratório no município, chegamos ao total de 306 organizações com atuação nas mais diversas temáticas e públicos. Ressaltamos, porém, que o universo que constitui o campo da sociedade civil em Natal é infinitamente maior, uma vez que as organizações encontradas são aquelas que freqüentam determinados espaços públicos, conforme poderá ser visualizado, mais adiante, quando listamos os locais de busca das referidas organizações.

O período de coleta e organização dos dados compreendeu os meses de setembro de 2005 a julho de 2006, sendo realizada ainda nos meses de setembro e outubro, uma revisão geral e complementação de alguns dados, para fechamento do universo de dados ora trabalhados. Vale

ressaltar que este período de coleta de dados acabou por ser bastante extenso, muito além do que foi inicialmente previsto no projeto de pesquisa. Dentre as razões que provocaram esse fato, destacamos o elevado número de entidades existentes, a dispersão de dados, que exigiu a busca em diversas fontes, bem como a diversidade de perfis encontrados, o que provocou alguma dificuldade na definição dos recortes a serem definidos.

A coleta em apreço constituiu-se num esforço concentrado na busca e sistematização de dados junto a diversas fontes de diferentes origens (governamentais e privadas), porém todas de caráter público35, buscados através de meios digitais (Internet) – sistemas de busca e sites das organizações –, documentos e materiais de divulgação institucional, relatório de eventos, visitas a algumas instituições e aplicação de questionários semi-estruturados.

Durante esse processo de composição do banco de dados, foram eliminadas algumas organizações, considerando como critério aquelas que estivessem fora do seguinte recorte: a) organizações que atuassem com adolescentes e jovens, exclusiva ou prioritariamente; b) que estivessem legalmente instituídas (ou seja, aquelas pertencentes a um universo de formalidade institucional); c) que atuassem de forma direta ou indireta nos bairros de Felipe Camarão, Cidade Nova, Bom Pastor e Guarapes; d) aquelas com um conjunto mínimo de informações levantadas e sistematizadas no período em pauta; e) as que possuem sede em um dos quatro bairros ou que atuam ou atuaram nos mesmos, direta e indiretamente, no período de 2002 a 2006; f) aquelas que expressassem a diversidade dos perfis de organização existentes no campo da sociedade civil, em termos de atuação e características singulares, uma vez que um dos nossos propósitos é identificar a heterogeneidade desse vasto campo.

Após a aplicação desses critérios, saímos das 306 organizações, inicialmente encontradas, e configuramos um universo de 70 organizações da sociedade civil, objeto da presente análise 36..

35 Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais (ABONG); Banco de Dados da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Norte e da Câmara Municipal de Natal/RN; Centro de Estudos do Terceiro Setor (CETS) da Fundação Getúlio Vargas (através do banco de dados denominado Mapa do Terceiro Setor); Conselho Municipal da Criança e Adolescente de Natal (COMDICA); Conselho Municipal de Assistência Social; Conselho Nacional de Assistência Social (CMAS); Instituto Brasileiro do Terceiro Setor (Cadastro Nacional de ONGs); Lista de Participantes da 1ª. Conferência Estadual de Juventude de 2005; Banco de dados das organizações participantes nas Atividades de mobilização social da Agenda 21 de Natal (anos de 2005 e 2006); Ministério da Fazenda (Cadastro Nacional de Pessoa Jurídica); Ministério da Justiça (Lista das Organizações com Certificação de OSCIP, Lista das Organizações com Titulo de Utilidade Pública Federal e Cadastro de Instituições Executoras de Medidas Sócio-educativas); Ministério do Trabalho e Emprego (Lista das organizações participantes do Consócio Social da Juventude); Rede Estadual de Diretos Humanos do Rio Grande do Norte; Redes de Informações para o Terceiro Setor (RITS); SEBRAE (Catálogo de Expositores da Feira do Empreendedor – itens: Empreendedorismo Cultural e Social, 2004); Secretaria de Tributação do Governo do Estado do Rio Grande do Norte (Campanha Cidadão Nota 10); Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Urbanismo de Natal/RN (Anuário de Natal 2005), TELEMAR (Serviços de Auxílio à Lista – 102 On Line), visita a algumas instituições e aplicação de questionários.

36 O banco de dados construído para a catalogação das organizações contempla as seguintes informações: a) CNPJ; b) Ano de Criação Formal; c) Natureza Jurídica; d) Atividade Econômica Registrada junto ao Cadastro Nacional de Pessoas Jurídicas; e) Certificação como OSCIP; f) Titulação como Entidade de Interesse Público Municipal; g) Titulação como

Ressaltamos que, sendo o universo da sociedade civil em Natal infinitamente maior, a amostra trabalhada nesta pesquisa não tem a pretensão de se constituir em uma amostra estatisticamente significativa.

Os bairros de Felipe Camarão, Cidade Nova, Bom Pastor e Guarapes – todos localizados na região administrativa Oeste da Natal –, constituíram o nosso recorte geográfico, região que merece destaque no cenário municipal, por se tratar de uma área territorial com alto índice demográfico e de população adolescente e jovem (18.685 habitantes na faixa etária de 15 a 24 anos – IBGE, Censo 2000), elemento este associado a uma característica socioeconômica de população de baixa renda e exposta às diversas formas de exclusão social, conforme pode ser observada na caracterização circunstanciada que apresentamos anteriormente.

Os bairros, em pauta, fazem parte de nossa atuação profissional e social, nos últimos dez anos, através de diversos projetos e programas sociais, desenvolvidos, inclusive pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte, através do Projeto UNI-Natal, Projeto Saúde no Ar e do Fórum Engenho de Sonhos, ambos projetos estruturantes de articulação de extensão universitária, ensino e pesquisa, bem como através da Disciplina Saúde e Cidadania (Dep. de Saúde Coletiva / Centro de Ciências da Saúde), na qual atuamos na qualidade de tutora por meio de estágio/docência (1999 a 2004).

Todas estas experiências têm em comum o fato de se desenvolverem nos bairros de Cidade da Esperança, Cidade Nova, Felipe Camarão, Bom Pastor e Guarapes, envolverem a Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), através da Pró-Reitoria de Extensão Universitária e de contarem com o apoio financeiro da Fundação W. K. Kellogg.

O Projeto UNI-Natal, “Uma Nova Iniciativa de Educação de profissionais de Saúde”, foi um projeto interinstitucional, desenvolvido pela UFRN, em parceria com as Secretarias de Saúde do Estado do Rio Grande do Norte e do Município de Natal e algumas organizações comunitárias e ONGs. A partir da articulação, em rede, entre os segmentos universidade, serviços de saúde e comunidade, o UNI desenvolveu um conjunto de onze subprojetos de inovação social e tecnológica no campo da educação, saúde e cidadania.

Na Proex se constituía como Programa Estruturante de Extensão que articulava também o Ensino e a Pesquisa. Fazia parte de uma rede de 19 UNIs, desenvolvidos em onze países da América

Entidade de Interesse Público Estadual; h) Titulação como Entidade de Interesse Público Federal; i) Forma de Constituição Civil; j) Registro no Conselho Nacional de Assistência Social; l) Inscrição no Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente; m) Inscrição no Conselho Municipal de Assistência Social; n) Finalidade Estatutária; o) Subgrupo de Atuação; p) Atividades ou Serviços Desenvolvidos; q) Tipo de Associativismo; r) Razão Social/Nome Fantasia; s) Endereço, Telefone, Fax, e-mail e Site na Internet; t) Zona Administrativa de atuação/localização da sede administrativa; u) Área de Abrangência; v) Local de Atuação; x) Público Alvo e z) Formas e fontes de Captação de Recursos za) participação em redes e fóruns locais, nacionais e globais; zb) participação nas redes públicas/governamentais de proteção social básica e especial.

Latina e Caribe. O UNI-Natal foi desenvolvido no período de 1993 a 2003, e foi partícipe importante das iniciativas inovadoras que desenvolveu ou incentivou e que foram absorvidas pelas instituições parceiras.

Dentre as iniciativas existentes, que foram desdobramentos do Projeto UNI-Natal, destacamos a Disciplina Saúde e Cidadania do Departamento de Saúde Coletiva da UFRN, uma Atividade Integrada de Educação Saúde e Cidadania, que faz parte de um programa que envolve, simultaneamente, ações de ensino, pesquisa e extensão e se coloca como iniciativa estruturante no espaço da flexibilização dos Projetos Políticos Pedagógicos dos Cursos da Área da Saúde da UFRN.

É desenvolvida prioritariamente nos espaços da comunidade e unidades de saúde, e visa oferecer ao aluno, nos primeiros anos dos cursos, um ambiente propício à reflexão sobre os problemas de saúde da população e as ações de atenção à saúde na comunidade. Vivenciando uma experiência de trabalho/aprendizado multiprofissional e interdisciplinar.

O Programa Saúde e Cidadania (SACI) está formalizado e integralizado nos currículos acadêmicos como uma disciplina optativa e complementar, ofertada semestralmente, aos alunos matriculados no primeiro ou segundo período dos cursos de Medicina, Enfermagem, Nutrição, Farmácia, Fisioterapia e Odontologia da UFRN.

O Fórum Engenho de Sonhos de Combate à Pobreza foi um consórcio que envolveu doze organizações não governamentais, projetos e a UFRN, cujo propósito era o desenvolvimento, a partir da constituição de uma rede local, de um projeto de desenvolvimento local direcionado para os jovens dos bairros de Cidade da Esperança, Cidade Nova, Felipe Camarão, Bom Pastor e Guarapes. Teve início em 2000 e foi finalizado no ano de 2004.

O Projeto Saúde no Ar foi uma iniciativa de educação para a saúde, cidadania e protagonismo juvenil, através do rádio, envolvendo adolescentes e jovens em situação de risco social. Foi um dos subprojetos concebidos pelo UNI-Natal e tinha como parceiro a ONG Movimento Nacional dos Meninos e Meninas de Rua de Natal (MNMMR). Foi desenvolvido no período de 1999 a 2003.

Na busca inicial dos dados uma ferramenta essencial foram os sistemas de busca via acesso à Internet (Google, Scielo, banco de dados virtuais de diversas organizações e órgãos públicos, etc.), que nos permitiram o acesso a dados de diversas ordens.

Para operacionalização do banco de dados, optamos pela planilha eletrônica Excel (Microsoft Office), que embora não possua os melhores recursos de programas de banco de dados especializados, nos possibilitou o manejo das informações coletadas e a elaboração das tabelas, quadros e gráficos que apóiam esta análise, com os conhecimentos de que dispúnhamos.

3.2 De um banco de dados a uma cartografia social e simbólica: nossa construção metodológica