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Breve discussão sobre as teorias da administração

A sociedade atual é composta de organizações, uma vez que todas as atividades voltadas para a produção de bens de consumo (produtos) ou para aprestação de serviços por meio de atividades especializadas são comumente planejadas, controladas, coordenadas e dirigidas dentro das organizações constituidas por recursos humanos (pessoas) e não humanos (materiais, financeiros, tecnológicos, entre outros). As organizações são extremamente heterogêneas e diversificadas (CHIAVENATO, 1997).

De acordo com este autor, a administração apresenta-se como a condução racional das atividades que se desenvolvem numa organização, seja ela de natureza lucrativa ou não. Pois, a administração trata especificamente do planejamento, da estruturação, da direção, bem como do controle de todas as atividades diferenciadas pela divisão do trabalho ocorridas dentro das organizações.

Segundo Chiavenato (1997) a administração é imprescindivel para a existência, sobrevivência e para o sucesso das organizações. Nos dias atuais, a administração revela-se como uma das áreas do conhecimento humano mais impregnadas de complexidades e de desafios. O profissional que se serve dela como meio de sobrevivência pode trabalhar nos mais variados níveis de uma organização, que vai do nível hierárquico de supervisão elementar até o nível de dirigente máximo. Pode trabalhar nas diversas especializações da administração: seja a administração da produção ou a administração financeira, de recursos humanos, ou ainda a administração geral. Em cada nível, em cada especialização da administração, as situações são altamente diversificadas, haja vista as organizações serem diferentes e diversificadas, cada uma com suas particularidades e especificidades, pois de acordo com o autor em questão, não há duas organizações iguais (CHIAVENATO, 1997).

Para ele, cada organização tem seus próprios objetivos, seu ramo de atividades, seus dirigentes e seu pessoal, seu mercado, seus problemas de ordem interna e externa, sua politica de funcionamento, e outros.

Pelo exposto, analisando a realidade da administração no contexto escolar pode-se afirmar que ela tem seus fundamentos gerais embasados na Teoria Geral da Administração como qualquer organização.

A administração escolar no cenário moderno tem apontado para uma perspectiva democrática. Neste sentido, Hora (2002) sustenta que ela se encontra estruturada pela sociedade capitalista que procura manter as relações de produção, refletindo as divisões sociais existentes tendendo a perpetuá-las e acentuá-las, e assim focar o poder emanado da classe dominante.

Segundo Hora (2002, p. 33):

Sob a influência da ideologia burguesa, realiza escolhas, estabelece criterios que desfavorecem aos já desfavorecidos, excluídos de seus limites a bagagem experiencial da criança, especialmente a criança do povo, utilizando-se do autoritarismo e das práticas centralizadoras.

Como bem dizia Snyders (1977) a escola não é o feudo da classe dominante, ela representa um terreno de lutas entre os que dominam e os que são dominados, explorados, é onde se defrontam as forças do progresso e as conservadoras. Haja vista o que nela se passa reflete ao mesmo tempo a exploração e as lutas contra ela.Percebe-se que apesar de a escola representar ainda um espaço facilitador da circulação de ideologias dominantes, que assegura a esta classe social a propagação de suas concepções, permite ao mesmo tempo que a ação das mentalidades intelectuais orgânicas se manifestem rumo ao desenvolvimento de práticas educativas que buscam a democratização desses espaços na promoção do saber e da instrução.

Neste sentido, Hora (2002, p 34) vê a escola como:

Uma instituição que deve procurar a socialização do saber, da ciencia, da técica e das artes produzidas socialmente, deve estar comprometida politicamente e ser capaz de interpretar as carências reveladas pela sociedade, direcionando essas necessidades em função de principios educativos capazes de responder às demandas sociais.

Este processo de democratização deve considerar o processo de construção do saber nas diferentes instâncias, e ainda, como ato político e social dar conta de interpretar as demandas sociais visando via educação responder a essas demandas.

Vale ressaltar que a democratização da escola tem sido fortemente avaliada sob três aspectos, considerando a percepção dos órgãos oficiais e dos educadores: O primeiro concentra-se na democratização como ampliação do acesso à instituição educacional, pois os órgãos oficiais entendem democratização do ensino como a facilidade de acesso à escola por meio das camadas mais pobres da sociedade. Para isso, desenvolvem programas objetivando o aumento de vagas nas escolas, ampliando salas de aula e escolas, e dessas forma garantem seu discurso de universalização do ensino público no país.

De acordo com Hora (2002) tal discurso, na prática, não atenta para as mínimas condições necessárias à efetivação desse processo “democrático”, pois

não se oferecem sálarios dignos e favoráveis condições de trabalho ao professor, ao ensino e portanto, a aprendizagem.

O segundo, aponta que os educadores percebem a democratização como o desenvolvimento dos processos pedagógicos que permitem a permanencia do alunono sistema escolar, por meio de uma série de oportunidades educacionais necessárias a sua formação integral.

Por fim, o terceiro aspecto para a democratização do ensino público perpassa pelas mudanças constantes nos processos administrativos, em âmbito escolar, vistas por meio da participação de pais, professores nas tomadas de decisões, nas eleições para dirigentes, assembléias e eliminação de qualquer via de burocratização que emperra o desenvolvimento e a qualidade do trabalho ali realizado.

Percebe-se que os fundamentos que alicerçam a gestão democrática são importantes na compreensão e conhecimento das características evidenciadas pela administração escolar no seu processo evolutivo.

Assim, retomando que historicamente a adminitração da escola fundamenta- se na teoria geral da administração, segundo Hora (2002), esta, no século XX, desenvolveu-se por meio de três escolas: a clássica, a psicossocial e a contemporânea. A escola clássica, surge com a consolidação da Revolução Industrial no início deste século, representada por meio de três movimentos: a administração científica de Taylor, a administração geral de Fayol e a administração burocrática originada de uma disfunção da racionalidade de Weber. Esses movimentos têm mantido seus princípios presentes nas práticas administrativas atuais em todos os setores da vida em sociedade.

Frederick W. Taylor, criou a administração científica, mostrando as intenções do capital ao se preocupar com o controle e a racionalização do trabalho. Além do mais, Taylor estabeleceu o controle do trabalho como essencial para a gerência, produzindo nova forma de organização em que havia a necessidade de se ter um trabalhador responsável pelo planejamento e controle das atividades: o

administrador, cuja ação passou a garantir ao capitalista um poder maior sobre os trabalhadores (HORA, 2002, p. 36).

Paro (1990 apud HORA, 2002, p. 37) explica:

Embora com matizes variadas, que servem para encobrir suas reais dimensões e visam atender às necessidades de justificação ideológica do momento, a gerência enquanto controle do trabalho alheio, através da apropriação do saber e do cerceamento da vontade do trabalhador, encontra-se permanentemente presente na teoria e na prática da administração em nossa sociedade, perpassando as diferentes, “escolas” e “correntes” da administração neste século.

Percebe-se que ainda persiste muito de uma administração clássica nas organizações de modo geral, no contexto atual, o que dificulta uma ação democrática e participativa no interior das mesmas.

Garcia (2006, p.62) elucida que:

A teoria clássica foi criticada por apresentar uma abordagem simplificada da organização formal, pela ausência de trabalhos experimentais na pretensa formulação da ciência da administração, pelo extremo racionalismo na concepção da administração, sendo denominada de teoria pragmática e/ou também de “teoria da máquina” pela divisão mecanicista do trabalho conforme propõe a organização da empresa, tendo se descuidado da organização informal.

Por sua vez, Fayol (apud HORA, 2002) difunde os princípios da divisão do trabalho, autoridade, disciplina, unidade de comando, unidade de direção, subordinação de interesses individuais aos interesses gerais, remuneração, centralização, hierarquia, ordem, equidade, estabilidade no quadro de pessoal, iniciativa, espírito de solidariedade e lealdade que constituem um dos modelos da estrutura capitalista.

A perspectiva de Fayol é perfeita para que:

A integração entre o saber técnico e a forma de organização do processo produtivo permita a combinação, no interior da empresa

capitalista, do processo de desvalorização do trabalhador, da automização dos produtos com a subordinação de seu produtor.

(HORA, 2002, p. 11),

Fica clara a intensionalidade de Fayol e sua perspectiva vem contribuindo ao longo do processo histórico para a manutenção das forças do poder e a desvalorização do trabalhador acrescida de um contexto a outro.

Importante ainda ressaltar que, no terceiro movimento da escola clássica origina-se a chamada administração burocrática, como uma disfunção do princípio de racionalização elaborado por Max Weber que afirma que “[...] a estrutura burocrática pressupõe o surgimento paralelo da concentração dos meios materiais nas mãos dos chefes. “Isso se dá nas empresas capitalistas privadas que apresentam essa característica”. (WEBER, 1974, apud HORA, 2002, p. 37).

Diante dessas considerações, Motta e Pereira (2004 apud SANTOS, 2008, p. 6) destacam:

Max Weber, entretanto, não se preocupou em definir burocracia. Preferiu conceituá-la através da extensa enumeração de suas características. Uma definição sucinta de organização burocrática, porém, é sempre conveniente. Antes que a apresentemos, cumpre- nos dar dois esclarecimentos a respeito do termo “burocracia”. Em primeiro lugar, Max Weber, que o estudou amplamente, não considerou burocracia um tipo de sistema social, mas um tipo de poder ou de dominação. A burocracia seria um tipo de sistema social, mas um tipo de poder da mesma categoria que o patriarcalismo, o patrimonialismo, o feudalismo e o carismatismo, [...]

Nesse sentido, a burocracia classifica-se como dominação, como poder e negação da liberdade. Para Motta e Pereira (2004 apud SANTOS, 2008) entender a burocracia significa compreendê-la como organização racional, caracterizada pelo formalismo e pela despersonalização.

Tanto a organização do trabalho quanto do capital na estrutura burocrática reforça a separação entre planejamento e execução, trabalho manual e intelectual, o que tende a intensificar o processo de dominação do capital sobre o trabalho,

considerando a sua extensão a todos os níveis da atividade humana (SANTOS, 2008). Desse modo, percebe-se as relações de poder que circulam nos diferentes espaços e instâncias da sociedade, continuam freando, inibindo e condicionando o homem quanto a condição de submissão.

Hora (2002) explica que a eficiência é o critério administrativo desta “escola”, tendo como significado a real capacidade de produzir o máximo com o mínimo de recursos, energia e tempo, ou seja, a produtividade. Assim, considerando Sander (1982, p. 11) “[...] é eficiente aquele que produz o máximo com o mínimo de desperdício de custo e de esforço, ou seja, aquele que na sua atuação apresenta uma elevada relação produto/insumo”.

Em contraposição ao critério da eficiência econômica trazida pela escola clássica de administração, surge a escola psicossocial, na década de 1920, com base no movimento das relações humanas de Mayo, Roethliesberger e Dicksone e no comportamento administrativo de Barnard e Simon, muito evidentes na epoca (HORA, 2002).

Assim, Sander (1982 apud HORA, 2002) explica que:

Os protagonistas da escola psicossocial concebem a organização como um sistema orgânico e natural, em que a administração se preocupa com a integração funcional de seus elementos componentes à luz do critério de eficácia técnica aliado ao da eficiência técnica.

Barnard (apud HORA, 2002) concebe o administrador como o agente integrante procurando obter melhores resultados na produção institucional, através da eficiência, enquanto Simon (apud HORA, 2002) vê a organização como um sistema de decisões em cujo centro encontra-se o homem na administração com poder decisório, em contraponto ao homem econômico da escola clássica. Assim sendo, a administração tem a função de regular o processo de decisões à luz dos critérios de eficiência e eficácia.

Percebe-se que o administrador concentra o poder de decisão em todos os setores da organização e que a administração tem função primordial, ampla e

abrangente tendo em vista os critérios da eficiência e da eficácia, dois pilares da administração numa dada organização.

Segundo Hora (2002) a referida escola avança mais com relação ao que propõem Taylor e Fayol. No entanto, continua insistindo na ordem, no equilíbrio, na harmonia, na integração, e assim no consenso quanto aos objetivos organizacionais da sociedade.

Além disso, no sistema educacional, a eficácia da administração preocupa-se com a consecução dos objetivos vinculados aos aspectos pedagógicos propriamente ditos e a capacidade administrativa será medida pelo alcance dos objetivos educacionais propostos. Pelo exposto, a eficácia, por ser um critério intrínseco ao sistema educacional, sobrepõe-se ao critério da eficiência que lhe é extrínsico (HORA, 2002).

Assim, o critério de efetividade, a luz dos teóricos da escola contemporânea, consiste em mensurar da capacidade de produzir solução ou um resposta desejada, supondo dessa forma, um compromisso real frente aos objetivos sociais e as demandas políticas emanadas da comunidade (HORA, 2002).

Para tanto a efetividade, na tentativa de superar as limitações da eficiência associada à produtividade interna das organizações e da eficiência comprometida com a consecução dos objetivos educacionais faz referências a objetivos mais amplos de eqüidade e desenvolvimento econômico social. (MOTTA, 1972)

Segundo Hora (2002), a efetividade concebida como critério de desempenho que mede a capacidade de encontrar a solução ou a resposta desejada pelos participantes da comunidade tem preocupação com a promoção do desenvolvimento socioeconômico e a melhoria das condições da vida humana.

Com a abordagem das relações humanas, criada e desenvolvida por Elton Mayo, uma nova linguagem passa a dominar o repertório administrativo: motivação, liderança, comunicação, organização informal, dinâmica de grupo, passaram a fazer de parte do dia-a-dia da organização. Surge assim, uma nova concepção sobre a natureza do homem, onde os trabalhadores são vistos como seres de sentimentos, de desejos e de temores, e são motivados para a necessidade de alcançar

satisfações primárias por meio dos grupos com os quais interagem. Conceitos antigos clássicos de autoridade, hierarquia, racionalização do trabalho, departamentalização e os princípios gerais da administração passam a ser duramente contestados, onde o engenheiro e o técnico cedem lugar ao psicólogo e ao sociólogo, e o método e a máquina perdem a primazia em favor da dinâmica de grupo (MACIEL, 2008).

Santos (2008) explica que a Teoria Humanística diferente das Teorias Científicas e Clássicas que compreendiam o homem como um ser exclusivamente econômico, o entende como um ser de relações. No entanto, no ponto de vista social e prático o que é comum a todas as teorias é o usufruto do lucro, do domínio e do poder das classes dominantes sobre as classes dominadas, o que representa um processo histórico e cultural.

Percebe-se que o grande objetivo das empresas concentra-se no aumento da produtividade, que por sua vez gera lucro, o que segundo Maciel (2008), é uma das considerações emanadas, quando se discute a possibilidade de aplicar estratégias da administração científica, à administração escolar.

Diante dessas considerações, Maciel (2008, p. 50) deixa claro que:

Acredita-se ou pelo menos se tem procurado crer, que os resultados da utilização dos princípios da administração geral na organização são benéficos, ou seja, tem traduzido um índice significativo de bens, ainda que de forma antagônica, haja vista, que a apropriação desses bens direciona-se somente para a cúpula hierárquica, enquanto que à classe que presta serviços, sobram conflitos pessoais e ilusão de melhorias e/ou ascensão profissional. A fim de explicar o insucesso da organização ou os resultados ineficazes da racionalização do trabalho, da especialização da tarefa, do planejamento estratégico e da eficiência, dissemina-se que isto ocorre, tendo em vista a utilização inadequada de tais princípios.

Por outro lado, o Japão assombrou o mundo nos anos 80 com produtos de excepcional qualidade a custos de comercialização baixíssimos. Segundo Campos (1990), a Japanese Union of Scientists and Engineers - JUSE desenvolveu um modelo de gestão denominado Total Quality Control – TQC. Tal modelo, criado a partir de idéias americanas introduzidas no Japão ao final da segunda guerra, “[...] é

baseado na participação de todos os empregados no estudo e condução do controle da qualidade” (CAMPOS, 1990, p.28).

[O TQC] é baseado em elementos de várias fontes: emprega o método Cartesiano, aproveita muito do trabalho de Taylor, utiliza o controle estatístico de processos cujos fundamentos foram lançados por Shewhart, adota os conceitos sobre o comportamento humano lançados por Maslow e aproveita todo o conhecimento ocidental sobre qualidade, principalmente o trabalho de Juran. (CAMPOS, 1990, p.28).

Campos (1990) complementa que a implantação do TQC começa pela disseminação de seus conceitos por toda a empresa. Portanto, num verdadeiro mix das teorias de administração, foram lançadas as bases da gestão participativa. Tal modelo desembarcou no Brasil, no final dos anos 80 e “contaminou” toda a prática gerencial, inclusive na escola.

Por seu turno, deve-se compreender a escola como uma empresa diferenciada por estar fundamentalmente voltada à formação de cidadãos. Em razão disso, há especificidades na sua administração que precisam ser destacadas.