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CAPÍTULO II INTERVENÇÕES URBANAS E SUAS IMPLICAÇÕES EM BELO

2.1 Breve entendimento da ação política

A partir das considerações de Oliveira e Machado (2007) sobre a percepção ambiental, e de Ostrom e seus colegas (1993) a respeito do comportamento humano modelando situações de uso de recursos naturais, foram identificados diferentes elementos qualitativos que interferem

nas escolhas de um indivíduo, e, de modo mais amplo, de uma sociedade, na gestão e planejamento dos bens e serviços comuns. As escolhas de um indivíduo são feitas com base no conhecimento, que é adquirido de acordo com critérios preestabelecidos. Inicialmente, as escolhas habituais são feitas a partir de referenciais anteriores, que podem ser valores individuais, experiências prévias ou memórias. Em seguida, as escolhas refletidas ocorrem a partir da ponderação das informações, conforme determinado grau de escolaridade, ocupação, etnia, idade e sexo. Em terceiro lugar, a interpretação das informações é baseada nas preferências. É somente em situações excepcionais que as escolhas de um indivíduo ultrapassam a aprendizagem, a assimilação e a interpretação de informações permitidas por sua situação socioeconômica. Os desastres são bons exemplos disso, pois servem de espelho das ações e omissões humanas, para que o risco seja reavaliado, melhorando-se as estratégias que possam antecipá-lo.

Em situações complexas, nas quais há um número elevado de indivíduos, interesses e contradições, as informações são incompletas, visto que um conjunto de elementos quantitativos indissociáveis torna impossível a consideração, ao se fazer escolhas, de todas as opções, consequências, valores e fatos. Mesmo em uma sociedade influenciada pelo progresso científico e tecnológico acelerado, dominar a totalidade das informações é impossível, pois elas estão restritas a determinados grupos. E até quando as informações estão disponíveis para o público-alvo, a distância física entre o indivíduo e o local de publicação pode dificultar o acesso a essas informações. Por exemplo, uma publicação impressa ou transmissão oral muitas vezes é acessível apenas em um determinado espaço ou durante um tempo delimitado. Além disso, certas informações necessitam de instrumentos de análise específicos. Não basta o acesso às informações se o indivíduo não é capaz de ponderá-las e interpretá-las. Ao adquirir informações ao longo da vida, por meio da educação e da mídia, as várias possibilidades de recepção, tratamento e armazenamento fazem com que as incertezas e as significativas mudanças no seu conhecimento da realidade influenciem a capacidade de o indivíduo fazer escolhas mais esclarecidas. Para tanto, é necessário que ele estabeleça uma avaliação constante das informações adquiridas e as pondere em suas decisões.

Se o indivíduo não consegue avaliar todas as alternativas possíveis, não há uma escolha universalmente aceita sobre um determinado curso de ação, então esta é feita na obtenção de um benefício. Na lógica que preside a organização da sociedade e a produção do espaço, o benefício coletivo deveria prevalecer sobre o individual. Mas a gestão do território se faz em

meio a uma complexa rede de relações de poder econômicas, políticas e culturais, que envolve diferentes grupos sociais, cada qual com seus interesses particulares. Ainda que os moradores, os comerciantes, os empresários, os promotores imobiliários e o Estado se apropriem do território, apenas esse último age como agente regulador, com o objetivo de fazer valer os direitos de todos os grupos sociais. Com essa missão, os agentes estatais deveriam aprimorar a gestão do território, buscando a justiça social. Com a Constituição Federal de 1988, os municípios ganharam responsabilidades, como a de formular e implementar a política urbana. Desde então, incumbe às prefeituras municipais ordenar o desenvolvimento urbano, garantindo o bem-estar de seus cidadãos. No entanto, elas sozinhas não conseguem assumir a responsabilidade de gerir a cidade. O estabelecimento de parcerias entre as prefeituras municipais aumenta a capacidade de um consorcio intermunicipal solucionar e/ou amenizar os problemas como o crescimento urbano e o desenvolvimento industrial que submetem a bacia hidrográfica à intensa poluição, resultante dos efluentes domésticos e industriais nela despejados.

As intervenções urbanas no espaço público, como ações políticas em benefício de interesses coletivos ou particulares, engendram risco(s). O risco (do inglês, risk) ou ameaça subjetiva corresponde à percepção de um indivíduo ou sociedade acerca da predisposição de ocorrência de um processo potencialmente perigoso no tempo e no espaço. Não se deve confundi-lo com o perigo (do inglês, hazard) ou com ameaça objetiva, que, diferente da noção do risco, representa a efetividade de haver danos e consequências em virtude da ocorrência de um evento adverso. Na medida em que o(s) risco(s) de uma ação isolada ou de uma conjuntura sejam socialmente reconhecidos33, e que os perigos sejam levados em consideração, os gestores certamente deveriam buscar resolver o problema.

Souza (2001) diferencia o planejamento e a gestão, considerando-os processos distintos e complementares, por isso, indissociáveis. Gerir significa “administrar uma situação dentro dos marcos dos recursos presentemente disponíveis e tendo em vista as necessidades imediatas”, enquanto planejar é “tentar simular os desdobramentos de um processo, com o objetivo de melhor precaver-se contra prováveis problemas ou, inversamente, com o fito de melhor tirar partido de prováveis benefícios” (SOUZA, 2001, p.46). Assim, de acordo com o autor, planejar é preparar-se para uma gestão futura.

33 O reconhecimento do risco não quer dizer, no entanto, que todos os indivíduos de um mesmo grupo sejam

Em Belo Horizonte, a integração da participação popular e do planejamento para gerir o risco hidrometeorológico é recente e deve ser questionada. Ainda neste capítulo, será apresentada uma trajetória das soluções aplicadas em Belo Horizonte para resolver o problema das inundações e escorregamentos; nos capítulos seguintes, será feita uma análise das soluções atuais.