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Capítulo 2 A Televisão e o aparecimento da Webtelevisão

2.1 Breve história da televisão em Portugal

Portugal viu nascer a televisão no ano de 1957, com as emissões regulares do canal do Estado, a Rádio e Televisão de Portugal (RTP). Nesta época, Portugal vivia sob a ditadura de Salazar pelo que a televisão e os demais meios de comunicação social existentes na altura eram fortemente controlados pela Censura prévia. Após o 25 de Abril assistiu-se a uma maior liberdade por parte dos meios de comunicação para divulgarem a informação.

A televisão pode ser vista como uma instituição de produção cultural ou simbólica, uma vez que “nos devolve um retrato reconstruído da sociedade sob a forma de uma representação simbólica daquilo que é publicamente relevante para determinado público” (Lopes, 2008, p. 47). Transmitir imagens em movimento à distância, com a possibilidade de serem vistas precisamente no momento em que são captadas, é uma das muitas vantagens da televisão. Na década de 90, durante o Governo de Cavaco Silva, Portugal vê surgir as estações de televisão privadas, a Sociedade Independente de Comunicação (SIC) de Francisco Pinto Balsemão, e a Televisão Independente (TVI), dirigida pelo ex-ministro da Educação, Roberto Carneiro, e fortemente ligada à igreja católica.

Portugal teve os seus pioneiros, Abílio Nunes dos Santos e Álvaro Oliveira, no processo de criação de uma estação de televisão e os anos 30 ficaram marcados pelas primeiras experiências televisivas. A apresentação de um estudo sobre televisão feito por Francisco Bordalo Machado, no ano de 1946, foi o responsável pelo início da história da televisão em

Portugal. Em 1953, Salazar deu autorização para se iniciarem os projectos que levariam à implementação da televisão em Portugal e para isso foi criado o Grupo de Estudos de Televisão (GET). O GET foi criado com o objectivo de colocar em prática os projectos de criação de uma estação de televisão em Portugal, projectos que foram sempre controlados pelo Governo. O forte controlo do Governo aliado às dificuldades técnicas e económicas e às poucas condições de trabalho levou ao adiamento do nascimento da televisão em Portugal (Cádima, 1996 a).

Em 1954, surgiu a União Europeia da Radiodifusão enquanto em Portugal continuavam os estudos para se proceder á instalação do serviço público de televisão. Não estava fácil introduzir o serviço de televisão em Portugal, uma vez que “a orientação governamental continuava a pautar-se pela expectativa e também pelo receio em avançar para um empreendimento de que desconhecia em boa parte os segredos e as práticas” (Cádima, 1996 a, p. 26). O GET prosseguia os seus estudos e, nesse ano, finalizava o relatório sobre a introdução da televisão em Portugal. Em 1955, a Emissora Nacional teve luz verde do Governo para a instalação definitiva de uma rede nacional de televisão.

Marcello Caetano, ministro da presidência, foi o grande impulsionador da televisão em Portugal e consegue a autorização para a instalação e exploração do serviço público de televisão.

Na sua estadia pelo estrangeiro, Marcello observou o que lá se fazia em termos de televisão e notou que Portugal estava bastante atrasado na implementação do serviço público de televisão, em relação à Europa, por culpa do salazarismo. Salazar,

“temia os feitiços da caixa de Pandora e, na sua mentalidade de pequeno merceeiro de província, decidiu que o país não podia suportar mais do que um canal de televisão, ferreamente controlado pela Censura e pelos seus homens de confiança” (Correia, 1998, p. 35).

A Censura prévia foi um factor fortemente presente na televisão em Portugal até ao dia 25 de Abril de 1974. A Censura levou à perda de autonomia da televisão, uma vez que, tanto o tema como as condições da comunicação eram impostas pelo Governo e estavam sujeitos às suas limitações e sanções. O discurso televisivo não era excepção, pelo que também ele estava limitado às condições impostas por um governo que era avesso a este novo meio de comunicação, a televisão (Bourdieu, 1997).

Em 1956 têm início as emissões experimentais da RTP realizadas nas antigas instalações da Feira Popular de Lisboa, e, um ano depois, em 1957, iniciam-se as emissões regulares, nos antigos estúdios da Cinelândia no Lumiar. A partir desse ano não houve qualquer tipo de interrupção nas emissões. Em 1959, teve lugar a primeira emissão do Telejornal, condicionada pelas limitações impostas pelo Governo (Cádima, 1996 b).

Segundo Carlos Correia, a evolução da televisão em Portugal “caracterizou-se sempre por um desabrochar serôdio e tudo, ou quase tudo, lhe aconteceu fora de tempo e com um sabor a bolo velho” (Correia, 1998, p. 36). O aparecimento dos canais privados foi igualmente tardio. Na década de 70 nasce um novo canal de televisão, a RTP 2, condicionado pelas mesmas regras do primeiro canal, e, portanto, controlado pelo estado. Mais tarde, assiste-se a uma grande revolução tecnológica na televisão nacional, o aparecimento da cor. As emissões regulares a cores surgem em Portugal no ano de 1980, com a RTP a transmitir a cores o Festival RTP da Canção.

A RTP manteve o monopólio do serviço público de televisão em Portugal, até à década de 90. A 6 de Outubro de 1992, nasce a SIC, a primeira televisão privada a surgir em Portugal. A TVI surgiu um ano depois, em 8 de Janeiro de 1993, como canal ligado à Igreja Católica, e nos primeiros anos de vida teve dificuldade em encontrar um rumo próprio.

Nem tudo foi pacífico quando surgiram as televisões privadas em Portugal. A SIC e a TVI, não concordavam com o apoio que o Governo dava ao canal público por considerarem ser concorrência desleal. A origem da discórdia assenta no facto de a RTP receber dinheiro do Governo para manter o serviço público de televisão e continuar a manter a publicidade, enquanto as televisões privadas vivem apenas das receitas obtidas com a publicidade (Cádima, 1996 b).

Todo o apoio dado à RTP resulta da assinatura do contrato de concessão do serviço público de televisão assinado em 1993 entre a RTP e o Governo do primeiro-ministro Cavaco Silva, segundo o qual

“através deste documento, a RTP fica obrigada a cumprir as atribuições específicas do serviço público de televisão, aliás já previstas na Lei da Televisão, datada de Setembro de 1990, nomeadamente no que diz respeito ao pagamento de indemnizações compensatórias retiradas do Orçamento de Estado português, e atribuídas à RTP pela sua actividade específica enquanto concessionária do serviço público de televisão” (Cádima, 1996 b, p. 157).

Com este contrato, a televisão pública tem que cumprir determinados requisitos e a programação tem que respeitar o interesse do público e favorecer a formação e participação cívica e política dos cidadãos.

Actualmente o panorama televisivo em Portugal conta com quatro canais de televisão com sinal aberto e gratuitos, dois canais de estado, a RTP1 e a RTP2, e dois canais privados, a SIC e a TVI, e com os canais por cabo.