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4. CONTEXTO – MUNICÍPIO DE CASCAIS

4.1 BREVE HISTÓRIA DO MUNICÍPIO DE CASCAIS

A história de Cascais é rica praticamente desde a sua constituição como vila pela sua importância estratégica, quer na era dos descobrimentos – recorde-se que foi na baía de Cascais que desembarcou Nicolau Coelho, o primeiro capitão da armada de Vasco da Gama acabado de chegar da Índia – quer depois da Restauração de Portugal, quando se construiu uma série de fortificações destinadas à defesa da barra do Tejo – a porta de acesso à cidade de Lisboa.

Todavia, na segunda metade do século XII, Cascais era uma pequena aldeia de pescadores e lavradores. O território que atualmente acolhe o município23 era sobretudo habitado no interior,

acusando a preponderância das atividades agrícolas e o receio dos ataques dos piratas mouros e normandos da época.

Administrativamente Cascais estava dependente da vila de Sintra porém, em consequência da sua posição geográfica privilegiada e da sua baía que se transformou num porto de pesca concorrido, a 7 de Junho de 1364 “os homens bons de Cascais” obtiveram de D. Pedro I a elevação da aldeia a vila. O rei D. Pedro I, apelidado “O Justo”, assinou no Paço da Alcáçova de Santarém a carta que desvinculou Cascais do município de Sintra. Nesse mesmo documento, o rei refere Cascais como “guarda da minha terra”. Com a atribuição deste estatuto – o lugar era promovido a vila – o que consistia, na prática, equiparar o estatuto de Cascais ao de Sintra, e assim legitimar a atribuição de uma autonomia política, jurídica e administrativa. A atribuição de um território a Cascais, por D. Fernando I, foi concedida por Carta Régia apenas seis anos depois, a 8 de Abril de 1370, tendo Gomes Lourenço de Avelar sido designado como primeiro donatário. O castelo de Cascais deverá ter sido construído depois desta data, visto que em 1370, ano em que se formou o termo de Cascais24, D. Fernando pôde doar o castelo e o lugar de Cascais a

Gomes Lourenço de Avelar. Entretanto, apesar da conquista e saque do castelo pelos castelhanos, em 1373, e do bloqueio do porto, em 1382 e 1384, assistiu-se ao crescimento de Cascais no exterior das muralhas do castelo no final do século XIV.

A 15 de Novembro de 1514, D. Manuel I atribuiu o foral de vila a Cascais, o primeiro texto regulador da vida municipal, uma vez que ainda perdurava a utilização do foral de Sintra.

Após a Restauração da Independência, em 1640, procedeu-se à edificação de uma vasta linha defensiva no litoral municipal, com a extensão e restauro das fortificações existentes. Construiu- se também mais de uma dezena de cidadelas, com o objetivo da defesa da costa e controlo do movimento de navios na entrada da barra do Tejo. De entre as estruturas então levantadas

23 O Município de Cascais é limitado a norte pelo concelho de Sintra, a sul e a oeste pelo Oceano Atlântico e a este pelo Município de Oeiras.

24 O topónimo Cascais parece derivar do plural de cascal (monte de cascas) o que deve relacionar-se com a abundância de bivalves marinhos aí existentes.

importa destacar a Cidadela de Cascais que, construída junto à Fortaleza de Nossa Senhora da Luz, reforça consideravelmente a defesa deste ponto estratégico da costa.

De sublinhar o facto de, aquando do terramoto e maremoto de 1 de Novembro de 1755, a vila ficou quase totalmente destruída. Como comprova o depoimento, à época, do Reitor Manuel Marçal da Silveira: “ (…) a villa ficou arruinada athé ao chão. Não há caza que ou não cahise em terra, ou não ficasse abalada, ameaçando ruína. Os templos, a Ponte, a Cidadela, e seus quartéis, tudo está demolido, e feito em pó” (in Carvalho, 2005).

A decadência da povoação acentuou-se, em 1834, com a extinção das ordens religiosas instaladas no município e com a retirada do Regimento de Infantaria 19.

A partir de 1859, com o início da construção da estrada marginal ligando a vila a Oeiras e, depois, da estrada até Sintra, Cascais liberta-se de uma certa inércia. Em 1868 ergue-se o conhecido Teatro Gil Vicente, cuja construção foi financiada por Manuel Rodrigues Lima, que entregou a sua direção à sociedade dramática existente em Cascais.

Em 1870, Cascais assiste a uma viragem decisiva na sua história, quando o Rei D. Luís, e mais tarde o seu filho Carlos, sob o nome de Carlos I de Portugal, escolhem a vila como a sua residência oficial de Verão (Ramalho, 2010; Cunha, 2011).

Esta decisão, estando diretamente ligada à melhoria das vias de comunicação, relacionou-se também com a localização privilegiada da vila em relação a Lisboa e a Sintra, para além, claro, da sua beleza natural entre o mar e a serra. Ao eleger Cascais para local de férias, D. Luís arrastou consigo a corte e a alta burguesia que veio ativar a dinâmica balnear e turística da Costa do Sol. Como consequência surgem ao longo da faixa litoral do município pequenos chalets e moradias de recreio (Ramalho, 2010).

Toda a orla costeira municipal beneficiou de um rápido desenvolvimento, aliada à inauguração do primeiro troço de caminho-de-ferro, com o comboio a vapor, entre Cascais e Pedrouços, em 30 de Setembro de 1889.

Sob a visão do empresário Fausto de Figueiredo, que tinha o sonho de tornar o Estoril numa estância turística de nível internacional, é inaugurado a 30 de Agosto de 1930 o Hotel Palácio, que então era o mais importante hotel do país, e a 16 de Agosto de 1931 o Casino Estoril25, que

ainda é um dos mais célebres da Europa (Ramalho, 2010).

A proximidade em relação a Espanha, que vivia uma Guerra Civil, e a opção pela “neutralidade” na Segunda Grande Guerra, tornou Portugal, e sobretudo o Estoril e Cascais, num território seguro e apreciado para milhares de refugiados e exilados. O município assumiu-se então, como centro turístico de primeira ordem, um dos mais cosmopolitas do mundo, à época, recebendo um elevadíssimo número de pessoas ilustres, entre os quais se destacam os Condes de

25 Apesar de a inauguração ter acontecido apenas em 1931, a ideia do Casino já estava cimentada desde o início desse mesmo século. A primeira pedra foi lançada em 1916.

Barcelona, o Rei Humberto II de Itália, Carol II da Roménia, entre outros. Pela costa do Estoril passaram também personalidades de diferentes áreas, como o economista John Keynes, o realizador Orson Welles, ou os escritores Ian Fleming e Maurice Maeterlinc.

Ainda hoje Cascais continua a manter esta vocação de espaço de acolhimento, pauteando a sua atividade turística, cultural e desportiva pelos critérios de qualidade exigidos pelos seus frequentadores.

De sublinhar que Cascais assinalou no dia 7 de junho de 2014, os seus 650 anos26 sobre a data

em que D. Pedro I, encontrando-se em Santarém, cede a Carta de Vila a Cascais. Também neste ano, precisamente a 14 de Novembro, passam 500 anos sobre a atribuição do Foral de Cascais por D. Manuel I, no âmbito da denominada reforma dos forais realizada à escala nacional no século XVI. No próximo dia 8 de abril de 2015, será realizada a celebração dos 645 anos do Município.

4.2 ECONOMIA, INVESTIMENTO ESTRANGEIRO E REDE DE RELAÇÕES