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Sabe-se que a arbitragem já existe desde os tempos mais remotos onde as civilizações utilizavam-se deste meio de resolução de litígios para sanar os conflitos existentes entre as pessoas. O processo de expansão do uso da arbitragem ocorreu especiamente devido à ausência de um Estado com forte prerrogativa para a resolução de litígios entre seus governados.122

A arbitragem foi o primeiro meio quase jurisdicional de resolução de conflitos, com sua origem datando à antiguidade pré-cristã.123 Durante a idade média, era comum o Papa e o Imperador intervirem como mediadores, conciliadores e árbitros, recorrendo-se frequentemente à aplicação do direito canónico.124

119 ANDRADE, JOSÉ CARLOS VIEIRA DE…, op. cit., p. 409.

120 DIAS, NÉLIA DANIEL, A Estabilidade nos Contratos Petrolíferos Internacionais e Alguns dos Princípios Gerais de

Direitos Conexos: do Mito à Realidade, Revista Ordem dos Advogados, ano 71 – Vol. III – Jul/Set, 2011, disponível em: https://portal.oa.pt/comunicacao/publicacoes/revista/ano-2011/ano-71-voliii-jul-set-2011/doutrina/

121 Amnesty International UK, Human Rights on the Line: The Baku-Tbilisi to Ceyhan Pipeline Project (2003) (Human Rights

on the Line), online: Amnesty International, www.amnesty.org.uk/uploads/documents/doc_14538.pdf

122 CÂMARA, ALEXANDRE FREITAS, Arbitragem – Lei no 9.307/96, 5ª. ed., Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2009. p. 56. 123 MACHADO, JÓNATAS E. M., Direito Internacional: do paradigma clássico pós 11 de setembro, 4ª edição, Coimbra:

Coimbra Editora, 2013. p. 681.

Ao nascer dos Estados modernos a arbitragem foi abandonada, especialmente porque os novos Estados, preocupados com sua soberania, não aceitavam julgamentos delegados à terceiros. Foi a partir do século XVIII que a arbitragem renasceu no cenário internacional.125

Com o aumento relevante das relações internacionais, quer no âmbito público, quer no privado, a arbitragem passou por severa evolução. Em tempos modernos, o Tratado de Jay também conhecido como Tratado de Londres de 1794, é tido como um marco, já que reestabeleceu as relações políticas e económicas entre os Estados Unidos da América e a Grã-Bretanha por meio da arbitragem.126

A arbitragem viu o seu estatuto internacional reforçado a partir das Conferências de Paz de Haia de 1897 e 1907 quando foi criado o Tribunal Permanente de Arbitragem internacional. Houve ainda especial atenção a este mecanismo de solução de controvérsias no Protocolo de Genebra de 1924, nos Acordos de Locarno de 1925 e na Acta Geral sobre resolução Pacífica de Conflitos de 1928.127

Já em 1958 foi assinada a Convenção de Arbitragem de Nova Iorque que teve como principal objetivo tornar a arbitragem um modo eficaz de solução dos litígios internacionais nas intensas relações económicas pós Segunda Guerra Mundial, bem como apresentar-se como solução face às deficiências da Convenção de Genebra.128

Foi na segunda metade do Século XX que a arbitragem ganhou os principais contornos no segmento comercial com três áreas distintas de atuação: a resolução de litígios entre Estados soberanos, com disputas originadas por decisões de um Estado que afetam os interesses de outro Estado; a resolução de litígios entre um Estado soberano e uma empresa privada estrangeira investidora neste Estado, com disputas relacionadas ao abuso do poder político pelo Estado recetor com reflexos nas condições de execução do contrato; e a resolução de litígios entre empresas ou entidades privadas em geral ganhou notoriedade e se desenvolveu após a publicação de algumas leis de arbitragem na Europa Ocidental e nos Estados Unidos e a mundialização da economia, o que abriu novos e importantes campos de atuação da arbitragem.129

Nas atividades petrolíferas, alguns casos podem ser mencionados para indicar a evolução da arbitragem neste sector. Entre 1949 e 1963 vários Estados do Golfo Pérsico proclamaram unilateralmente sua jurisdição sob o leito do mar e o subsolo de sua plataforma continental, o que levou as concessionárias a revindicarem a extensão correspondente de seus direitos de concessão. Alguns casos tiveram especial repercussão, como o caso Petroleum Development Ltd

125 CINTRA, ANTONIO CARLOS DE ARAÚJO; GRUNOVER, ADA PELLEGRINI; DINAMARCO, CÂNDIDO

RANGEL, Teoria Geral do Processo, 27ª edição, São Paulo: Malheiros Editores, 2011. p. 79.

126 SHAW, MALCOLM, International Law, 4ª edição, Cambridge: Cambridge University Press, 1997. 127 MACHADO, JÓNATAS…, op. cit. p. 683.

128 Ibid., p. 684.

v Ruler of Qatar em 1950, Saudi Arabia v Arabian American Oil Company em 1958 e ainda Sapphire International Petroleum Ltd v National Iranian Oil Corporation no ano de 1963.130

Casos de nacionalização também marcaram a história das arbitragens no setor petrolífero. BP Exploration Company (Libya) Ltd v Government of the Libyan Arab Republic em 1973, Texaco Overseas Petroleum Company/California Asiatic Oil Company v Government of the Libyan Arab Republic e Libyan government to the Libyan American Oil Company (Liamco) v Government of the Libyan Arab Republic ambas no ano de 1977. Destaque para o facto que em nenhum desses casos, a Líbia participou do processo e os árbitros únicos foram nomeados pelo presidente da Corte Internacional de Justiça de acordo com os termos das concessões.131

Por fim, vale destacar os eventos revolucionários no Irão a partir do final da década de 1970 que levaram a uma série de medidas que afetaram os interesses das empresas petrolíferas estrangeiras. Estes eventos culminaram com a adoção de um Ato de Artigo Único sobre a nacionalização da indústria petrolífera do Irão de 8 de janeiro de 1980, segundo o qual todos os contratos de petróleo analisados por uma comissão especial nomeado pelo Ministro do Petróleo e considerados contrários a Lei da Indústria Petrolífera Iraniana de 5 de maio de 1951 seriam anulados e as reclamações resultantes da celebração e execução de tais acordos resolvidas por decisão da referida comissão. A medida autoritária do governo iraniano acarretou na criação do Tribunal Arbitral de Reivindicações dos Estados Unidos-Irão, sendo várias disputas apresentadas por investidores americanos.132

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