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A investigação em ciências sociais faz uso de um vasto conjunto de métodos de recolha e tratamento de dados, quer de cariz qualitativo quer quantitativo. Depois de identificar uma questão e de decidir sobre os objetivos da investigação, há necessidade de selecionar os métodos e técnicas apropriados para levar a cabo a investigação - as técnicas de recolha de dados (como a entrevista ou a observação e questionário) e de análise (como a análise de conteúdo ou a análise quantitativa da informação). Yin (1994) refere que quando o conhecimento do problema em análise se encontra numa fase inicial e as questões são colocadas em termos de “como” e “porquê”, a abordagem metodológica a seguir deverá ser mais exploratória e explanatória do que descritiva, e por isso, mais qualitativa do que quantitativa. Cavalli (1996), citado por Serapioni (2000, pp.190), defende que uma análise quantitativa necessita, por vezes, de novas análises qualitativas: “a contraposição entre qualitativo e quantitativo torna-se matizada e a integração inevitável, sendo os métodos qualitativos tão rigorosos quanto os quantitativos”. Qualquer método requer um conjunto de regras e procedimentos, que permitem controlar os componentes subjetivos da interpretação.

Do ponto de vista epistemológico, nenhuma das duas abordagens, qualitativa e quantitativa, é mais científica do que a outra. Trata-se de duas abordagens com características distintas e ambas dentro do método científico (Minayo e Sanches, 1993). O enquadramento teórico efetuado na análise do microsseguro e da sua implementação mostrou que este serviço inovador de microfinança ainda está numa fase embrionária e que os dados associados ainda são reduzidos, especialmente nos países desenvolvidos. Os diferentes estudos de caso analisados e a metodologia utilizada em cada um deles estão sintetizados na Tabela 2, que revela o uso de diferentes modelos de análise quantitativa.

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Tabela 2 – Metodologia – case studies estudados

Autor País Tipo de análise Objetivo e/ou dimensões em análise Amostra questionário Tipo de análise adotado Modelo de Resultados e principais conclusões

Mosley (2001) Bolívia Quantitativa (questionário); Qualitativa (focus group; entrevistas).

Objetivo: estudar o impacto das microfinanças no rendimento das famílias.

Dimensões: rendimento; recursos; vulnerabilidade e as correlações entre elas.

Clientes de 4 instituições de microfinanças na Bolívia: Banco sol=45 ProMujer= 20 Prodem= 40 Sartawi= 15. Questionário diferente para cada instituição. Focus Group e entrevistas para confirmação dos dados obtidos. Análise fatorial. Em todas as instituições verificou-se um impacto positivo sobre o rendimento dos pobres, mas o sinal era negativo nas famílias consideradas em extrema pobreza.

Para reduzir a pobreza: maior esforço na mobilização da poupança rural, remoção dos limites inferiores do empréstimo e a introdução de mecanismos de seguro apropriado – microsseguro. Torkestani e Ahadi (2008) Irão Quantitativa (questionário).

Objetivos: estudar a procura e a oferta de microsseguro no Irão (formal e IFM) e as respetivas contribuições.

Dimensões: capacidade e competência da empresa; confirmação da existência de mercado; informação sobre potenciais concorrentes; aspeto legal; acesso aos dados.

Um grupo de 30 pessoas, gestores de topo em 15 instituições de microfinanças (bancos, finanças, instituições de crédito e de seguros).

24 Empresas: 20 Seguradores;2 Corretoras de seguro e resseguro; 2 Resseguradores. Modelo composto por 34 questões, escala de Likert de 5 pontos. Modelo Cronbach; Modelo Qarzol- Hasane; Análise de regressão.

Os seguradores devem entrar neste campo de negócios de forma incremental e investir neste domínio particular. Além do resultado obtido, a pontuação de prontidão de cada IMF no Irão é calculada separadamente com base nos dados disponíveis.

Coydon e Molitor

(2010) Global

Quantitativa (questionário).

Objetivos: os incentivos de longo prazo; perspetivas do

envolvimento no mercado de baixo rendimento; compartilhar lições aprendidas; promover boas práticas.

Dimensões: esquemas de microsseguro existentes; volume de atividades de microsseguro; informações sobre os tipos de produto; parecer dos participantes; desafios

enfrentados neste novo mercado.

24 Empresas: 20 Seguradores. Inquérito constituído por 34 questões. Estatística descritiva.

As companhias de seguros estão comprometidas com esse novo mercado e reconhecem os benefícios tangíveis assim como intangíveis. Através do envolvimento crescente presume-se que os serviços de microsseguro se tornarão mais competitivos e acessíveis.

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Elaboração própria

Autor País Tipo de análise Objetivo e/ou dimensões em análise Amostra questionário Tipo de análise adotado Modelo de Resultados e principais conclusões

Akotey e

Gemegah (2011) Ghana

Quantitativa (questionário).

Objetivos: encontrar os fatores mais determinantes da procura do microsseguro.

100 Participantes, divididos por grupos, selecionados

aleatoriamente a partir de quatro grandes centros comerciais de Acra, capital de Gana. Estes centros foram o Legon, Madina, Makola e o Kantamato e foram escolhidos por causa do acesso aos dados e surtos recentes de incêndio nesses mercados.

Maioria das perguntas foi pré codificada com valores numéricos, medidos numa escala de Likert de cinco pontos. Modelo probit (probabilístico). Importantes determinantes da procura incluem: Confiança em que as indemnizações são pagas; Campanha educacional apropriada sobre a importância do microsseguro;

O rendimento.

A procura potencial para os produtos de microsseguro é muito alta.

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A pesquisa efetuada sobre o microsseguro, tanto nos estudos dos países em desenvolvimento como nos países desenvolvidos, sintetizada na Tabela 2, permite-nos comparar as metodologias utilizadas pelos diferentes autores, tanto na recolha dos dados como nos modelos estatísticos aplicados nas suas investigações. Apesar dos objetivos a atingir serem diferentes, desde estudar o microsseguro pelo lado da oferta, em Torkestani e Ahadi (2008), procurar os fatores mais determinantes da procura do microsseguro, em Akotey e Gemegah (2011), analisar o seu impacto nas famílias, Mosley (2001), ou ainda estudar os incentivos de longo prazo e as perspetivas do envolvimento no mercado de baixo rendimento em Coydon e Molitor (2010), todos fizeram uma análise quantitativa com base numa recolha primária de dados através de questionários. Estes questionários, dirigidos a públicos de natureza e dimensões diferentes, eram constituídos por questões medidas em escalas de Likert de 5 pontos. Já os modelos estatísticos utilizados foram diferentes. Enquanto Torkestani e Ahadi (2008) utilizaram o modelo de regressão – Qarzol-Hasane, composto por cinco variáveis principais, consideradas como as determinantes no sucesso do projeto e também as mais importantes a considerar pelas empresas no desenvolvimento de uma oferta de microsseguro, (capacidade, competência, existência de mercado de microsseguro, dados disponíveis e aspetos legais), Akotey e Gemegah (2011) utilizaram um modelo probit na análise estatística dos dados.

A pesquisa de Mosley (2001) foi feita com base num modelo de análise fatorial. Para a confirmação dos dados obtido nos questionários, o autor recorreu a Focus Group e entrevistas.

Coydon e Molitor (2010) adotaram o método de estatística descritiva para procurar entender os incentivos e as perspetivas de longo prazo na participação da rede de microsseguro no mercado de baixo rendimento. As questões abordavam, por exemplo, o volume de atividades de microsseguro, informações sobre tipos de produtos, a visão dos participantes e os desafios enfrentados neste novo mercado.

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