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Um bom conhecimento anatómico é tão importante quanto a experiência do operador, para que a informação correcta possa ser recolhida, contribuindo para um diagnóstico assertivo e consequentemente recomendando o tratamento mais adequado (Minshall, 2010).

As articulações podem ser classificadas de acordo com a sua amplitude de movimento e, dessa forma, existem sinartroses (articulações imóveis), anfiartroses (articulações com ligeira amplitude de movimento) e diartroses (articulações móveis) (McIlwraith, 2002).

As articulações presentes no crânio são sinartroses, em que as diferentes peças ósseas estão firmemente ligadas por elementos fibrosos ou cartilaginosos. As anfiartroses tendem a manter-se por toda a vida do animal e permitem movimentos mais apreciáveis, sendo caracterizadas pela presença de discos fibrocartilagíneos que conectam as superfícies articulares – articulações intervertebrais (Getty, 1986; McIlwraith, 2002).

Nas diartroses existe uma cavidade articular a separar as peças esqueléticas, e a mobilidade existe mas difere de articulação para articulação (Getty, 1986; McIlwraith, 2002).

Legenda: a – Membrana fibrosa; b – Membrana sinovial; c – Cápsula articular; d – Cartilagem articular; e – Ligamento colateral; f – Líquido sinovial; g – Osso subcondral.

Tendo em conta um outro tipo de classificação, baseado nas formas de tecido de ligação presente, existem sidesmoses (tecido de ligação fibroso) e sincondroses (tecido de ligação cartilaginoso) nas articulações imóveis ou ligeiramente móveis respectivamente. Nas articulações móveis – diartroses, existe uma cavidade articular delimitada por uma

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membrana sinovial e preenchida por LS, sendo classificadas como articulações sinoviais. As articulações sinoviais possuem duas funções principais: permitir o movimento e gerir a carga (McIlwraith, 2002).

A OA é uma doença que afecta predominantemente as articulações sinoviais/diartroses (McIlwraith, 2009). As articulações sinoviais são estruturas complexas, que podem ser simples se formadas por duas superfícies articulares, ou compostas se formadas por várias superfícies articulares (Getty, 1986). Estas articulações possuem vários constituintes, como é possível verificar na Figura 5. Existem as superfícies articulares ósseas onde se visualiza o osso subcondral, que são revestidas pela cartilagem articular e ligadas por uma cápsula articular (que é por sua vez constituída pela membrana fibrosa e pela membrana sinovial) e por ligamentos (ligamento colateral) e uma cavidade articular entre estas estruturas que contém o LS (Getty, 1986).

A cápsula articular é composta pela membrana fibrosa que se encontra mais externamente, e pela membrana sinovial, mais internamente. Uma importante propriedade da cápsula articular é o grau de mobilidade que esta permite (McIlwraith, 2002). A membrana fibrosa, também denominada ligamento capsular, possui uma espessura variável e em certos pontos chega a estar ausente (Getty, 1986).

A membrana sinovial, por sua vez, reveste a cavidade articular, excepto sobre as cartilagens articulares, sendo uma delgada membrada de rica inervação nervosa e sanguínea (Getty, 1986), histologicamente constituída por importantes células – os sinoviócitos. Os sinoviócitos de tipo A assemelham-se a macrófagos, os de tipo B a fibroblastos (McIlwraith, 2002) e os de tipo C parecem constituir uma forma intermédia entre os anteriores (Caron, 2011). Como tal, as principais funções da membrana sinovial são a fagocitose, a regulação dos constituintes do LS e a regeneração (McIlwraith, 2002), sendo que as células B sintetizam várias macromoléculas importantes, entre estas o ácido hialurónico (AH) e o colagénio (Caron, 2011). A viscoelasticidade do LS é devida à sua constituição rica em AH, e esta molécula é o principal lubrificante dos tecidos moles sinovais (Caron, 2003). Frequentemente, esta membrana forma pregas e vilosidades (vilosidades sinoviais) que se projectam para dentro da cavidade articular e estas apresentam, em muitos pontos, massas adiposas que preenchem vários interstícios articulares (Getty, 1986), que podem proliferar devido a traumatismos ou outros insultos (McIlwraith, 2002). É relevante notar que os sinoviócitos produzem também uma grande variedade de mediadores implicados na patogénese da OA, tais como citoquinas (IL-1 por exemplo), prostaglandinas e proteinases (Caron, 2011).

Os ligamentos fornecem estabilidade entre as peças ósseas, os denominados ligamentos colaterais estão situados nos lados de cada articulação. Em muitos pontos, os músculos, tendões e espessamento da fáscia funcionam como ligamentos e aumentam a segurança da

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articulação. Portanto os tecidos moles periarticulares incluem músculos, tendões, ligamentos e a cápsula articular (Getty, 1986; Caron, 2011).

Do ponto de vista de uma doença articular, o componente mais importante é a cartilagem articular ou hialina, composta por um arranjo organizado de proteoglicanos (PGs) e colagénio, permitindo simultaneamente o movimento e o suporte de peso. Mais especificamente, a cartilagem articular é composta por água, colagénio, PGs e condrócitos, nas proporções de, respectivamente, 65% a 80%, 10% a 30%, 5% a 10% e menos de 2% (Caron, 2011).

Legenda: a – Condrócitos; b – Fibras de colagénio em corte longitudinal; c – Fibras de colagénio em corte transversal; 1 – Camada superficial ou tangencial; 2 – Camada intermédia ou de transição; 3 – Camada profunda ou radial; 4 – Camada calcificada.

Histologicamente, a cartilagem articular é constituída por condrócitos dispostos de forma diferenciada em camadas e por uma matriz extracelular complexa de colagénio (essencialmente do tipo II), PGs, glicoproteínas e água (McIlwraith, 2002; Trumble, 2005). Os PGs consistem em proteínas centrais às quais se ligam moléculas de AH e moléculas de glicosaminoglicanos (GAGs), formando-se assim grandes cadeias de PGs entre as fibras de colagénio (Trumble, 2005).

Figura 6 - Esquema da cartilagem articular, evidenciando as várias camadas e constituintes (Adaptado de McIlwraith, 2002).

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Como é possível visualizar na Figura 6, a cartilagem articular possui 4 camadas distintas: a camada superficial ou tangencial, na qual os condrócitos são alongados e orientados paralelamente à superfície articular; a camada intermédia ou de transição, na qual os condrócitos são redondos e distribuídos aleatoriamente; a camada profunda ou radial, onde os condrócitos estão orientados perpendicularmente à superfície e a camada calcificada, onde os condrócitos se encontram em cristais de hidroxiapatite (Caron, 2011) .

Os GAGs são polissacáridos que consistem em dissacáridos alternados com ácido glucurónico e N-acetil-galactosamina (Hardingham, 1998; Hardingham & Fosang, 1992). O GAG mais abundante na cartilagem articular é a condroitina sulfatada (CS). A maioria dos resíduos de N-acetil-galactosamina são sulfatados, o que conduz à formação de um polianião. Esta carga negativa consegue atrair água, que, quando combinada com a rede de colagénio, confere à cartilagem articular a sua resistência à compressão para permitir a distribuição biomecânica igual, do peso, ao longo da articulação (Trumble, 2005).

O osso subcondral possui duas funções principais: a absorção do choque/stresse e a manutenção da estrutura articular, sendo mais abundante do que a cartilagem articular (Kawcak, McIlwraith & Park, 2001)

O osso subcondral é histologicamente e bioquimicamente semelhante aos ossos encontrados em qualquer outra localização, mas a organização da placa subcondral é diferente (Hvid, 1988). A placa subcondral é constituída por osso cortical que varia em espessura, dependendo da articulação. Com o exercício, occorre remodelamento e a quantidade de osso cortical denso pode aumentar, pelo menos a nível das articulações do carpo e do boleto, mas há grande variação em equinos (Kawcak, McIlwraith, Norrdin, Park & Steyn, 2000).

A organização do osso esponjoso subcondral varia entre as articulações, reflectindo as forças biomecânicas predominantes e a adaptação ao exercício (Simkin, Heston, Downey, Benedict & Choi, 1991).

A capacidade de deformação da camada cortical do osso subcondral e do osso trabecular epifisário é muito superior à do eixo diafisário cortical e tem uma importante função na atenuação das forças exercidas sobre a articulação. Assim, a esclerose que pode estar presente no processo de OA, contribui para a progressão da doença (Dequeker, Mokassa & Aerssens, 1995).

O LS é um componente vital para o estado hígido articular, possui funções muito importantes, actuando como um lubrificante entre superfícies cartilagíneas opostas e como agente condroprotector (Henson, Getgood, Caborn, McIlwraith & Rushton, 2012).

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