5. A ADOÇÃO NO DIREITO BRASILEIRO: UMA PERSPECTIVA CIVIL-
5.1. Noções introdutórias
5.1.1. Breve relato histórico da adoção na legislação brasileira: Código Civil de
Anteriormente ao ECA, e, depois do Código Civil de 1916, três foram as leis
que cuidaram da adoção, a Lei 3.133 de 1957
169, a Lei 4.655 de 1965
170e a Lei
6.697 de 1979
171, o Código de Menores.
Ressalte-se, que deverá ser entendido como adotante aquele que pretende
adotar uma criança ou adolescente, e, adotando aquela criança ou adolescente que
está em condições de ser adotado.
Foi com o Código Civil de 1916 que houve a sistematização da adoção no
Brasil. Entretanto, vale observar, conforme bem ensina José Antônio Peres GEDIEL:
“[...] o conteúdo original do Código Civil, em matéria de adoção, revela-se limitante,
parcial, despido de qualquer interesse pela integração do adotante à família que o
acolhe.”
172O que se poderá depreender a partir dos requisitos e efeitos da adoção
que serão aqui mencionados.
Em sua redação original, o Código estabelecia que apenas os maiores de 50
anos, sem prole legítima ou legitimada, poderiam adotar.
A diferença de idade entre adotando e adotante exigida era de dezoito anos.
O Código Civil de 1916, primando pela família matrimonializada, admitia a
adoção conjunta apenas aos cônjuges, pessoas casadas, sendo que ambos
deveriam contar com 50 anos de idade e, além disso, exigia que tivessem decorrido
5 anos após o casamento.
O tutor e o curador poderiam adotar o pupilo ou curatelado se saldassem os
débitos de sua administração. Veja-se que a preocupação com a proteção do
patrimônio da criança e do adolescente estava presente, e, como se verá
168
VIANA, M. A. S. Ob. cit., p.290.
169
CAVALLIERI, Alyrio. Direito do Menor. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 1976, p. 329.
170
CAVALLIERI, A. Direito do Menor, p. 327.
171
Disponível em: http://www.risolidaria.org.br/vivalei/outrasleis/cod_menor1979.jsp#_Toc61675092. Acesso
em: 20/07/2007.
172
GEDIEL, José Antônio Peres. A Adoção na Legislação Brasileira. 107 f. Dissertação (Mestrado em Direito) -
Setor de Ciências Jurídicas, Universidade Federal do Paraná, Curitiba, 1989, p.33.
posteriormente, embora essa regra permaneça no sistema atual da adoção, vem
sendo mitigada em função do melhor interesse da criança.
A adoção era revogável, o menor ou interdito poderia dissolver o vínculo da
adoção quando atingisse a maioridade ou cessasse a interdição, também, quando
houvesse deserdação, ou, quando as duas partes concordassem.
O vínculo era constituído por escritura pública. O parentesco se limitava ao
adotante e adotando, exceto quanto aos impedimentos matrimoniais. Se o adotante
possuísse filhos legítimos, legitimados ou reconhecidos, o adotando não teria
direitos sucessórios, e da mesma forma, o adotante só seria herdeiro se não
houvesse pai natural. Assim, o adotando poderia ser herdeiro tanto do adotante, se
este não possuísse filhos, quanto do pai natural. Isso porque os direitos e deveres
oriundos do parentesco natural não eram extintos com a adoção, apenas o pátrio
poder era transferido ao pai adotivo.
Posteriormente ao Código Civil de 1916, surgiu a Lei 3133 de 1957.
Conforme elucida José Antônio Peres GEDIEL “No âmbito legislativo, a adoção do
Código Civil brasileiro mantém suas características inalteradas, mesmo com o
advento da Lei 3133 de 8 maio de 1957[...].”
173. A nova lei modificou apenas os
artigos 368, 374 e 377 da codificação civil, alterando alguns de seus requisitos e
efeitos.
A Lei 3133 reduziu a idade mínima exigida ao adotante para 30 anos. Além
disso, foi autorizada a adoção por casais que contassem com mais de 5 anos de
casamento. A diferença de idade entre adotante e dotando passou a ser de 16 anos.
Foi eliminada a exigência segundo a qual os adotantes não podiam ter filhos
legítimos ou legitimados, porém, se o casal adotante tivesse filhos legítimos,
legitimados, ou reconhecidos excluíam-se os direitos sucessórios do adotado.
Excluiu-se a regra que proibia efeitos sucessórios ao adotado caso o filho do
casal fosse concebido no momento da adoção.
Agora o adotado poderia acrescentar ao seu nome o nome do adotante, ou
então retirar o nome de seus pais naturais e utilizar apenas o nome do adotante.
O consentimento do adotando maior de dezoito anos, e, do representante
legal do menor, passou a ser exigido explicitamente.
Era a chamada adoção simples ou restrita. De acordo com Liborni
SIQUEIRA:
Com esta lei operou-se modificação profunda, eis que antes preponderava o
interesse do adotante que desejava ter um filho e, agora, o objetivo-fim é a
assistência ao adotado no sentido de melhorar a sua condição
sócio-família.
174A Lei 4.655/1965, denominada Lei da “Legitimação Adotiva”, não revogou a
Lei 3.133 de 1957, e, criou ao lado da adoção simples a legitimação adotiva.
Segundo José A. Peres GEDIEL essa lei “representa a primeira alteração
significativa nessa matéria, desde 1916”
175.
Conforme o autor, a Lei 4.655 apresenta uma contradição interna, porque
“[...] ora se propõe a integrar, totalmente, o ‘legitimado’ à família do ‘legitimante’ e
ora o discrimina, guardando alguns resquícios da visão do Código Civil, como é o
caso da exigência de inexistência de filhos do casal legitimante (art. 2º da lei
4.655).”
176Veja-se então seus requisitos e efeitos.
Na legitimação adotiva o adotando deveria contar com no máximo sete anos
de idade, e, além disso, deveria preencher um desses requisitos: ser abandonado ou
órfão, desde que não reclamado por parentes por mais de um ano; possuir pais
destituídos do poder familiar; ter sido reconhecido só pela mãe, sendo esta incapaz
de lhe prover o sustento.
Havia a possibilidade de legitimação adotiva de maior de sete anos caso
este, quando completados os sete anos, já estivesse sob a guarda dos adotantes.
Era necessário que o menor ficasse sob a guarda dos adotantes por três
anos para que a legitimação pudesse ser deferida.
A idade mínima de 30 anos exigida aos adotantes foi mantida, mas se o
casamento já contasse com mais de 5 anos, esta idade poderia ser reduzida, se
comprovadas a esterilidade e estabilidade conjugal. Havia a exigência de que o
casal não possuísse filhos legítimos, legitimados ou naturais reconhecidos.
O viúvo ou a viúva, que possuíssem mais de trinta e cinco anos de idade, e,
estivessem com o menor em seu lar por mais de 5 anos , poderiam pleitear a
legitimação adotiva.
174
SIQUEIRA, Liborni. Adoção no tempo e no espaço. Doutrina e jurisprudência. Rio de Janeiro: Forense,
1993, p. 19.
175