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Parte II: Cascais enquanto destino turístico

3. Breve retrato na actualidade

Depois de aprofundar as raízes do turismo cascalense e de enquadrar o período áureo do sector na década de 1930, faz sentido dedicar alguns parágrafos à actualidade, não obstante as dificuldades que acarreta uma reflexão sobre o presente em constante mutação. De modo a traçar um retrato possível de Cascais no que ao turismo diz respeito, a opção metodológica recaiu no recurso ao seguinte trio de fontes de informação: guias turísticos com o termo «Cascais» no título publicados nos últimos cinco anos, passíveis de serem consultados na Biblioteca Nacional de Portugal; estatísticas, gráficos e indicadores municipais da PORDATA – Base de Dados do Portugal Contemporâneo, na categoria de turismo; entrevista realizada ao vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais, e responsável pela área do Turismo e Desenvolvimento Económico do município, Miguel Pinto Luz. Quanto a esta última fonte, foram enviadas perguntas por e-mail ao próprio, e dada a ausência de respostas, recorreu-se a uma entrevista concedida pelo vice-presidente à Publituris, publicação especializada em turismo, disponibilizada online a 1 de Outubro de 2019.

Começando por analisar as representações de Cascais nos principais guias turísticos, podemos verificar de imediato que não existem obras do género a debruçar-se exclusivamente sobre Cascais. A vila surge invariavelmente como um destino complementar nos guias sobre Lisboa, tal como Sintra, ou até Mafra. Em Best of Lisboa: Cascais, Sintra, Oeiras: apenas o melhor (2016), Cascais é descrito da seguinte forma: «os velhos guias resumem Cascais a uma vila de pescadores que em vez de peixe passou a pescar turistas. Mas o lugar que alto e bom som anuncia o oceano tem muito para dar a quem o visita e o maior dos prémios a quem decida lá viver. E tornou-se o isco de si própria» (Reis, 2016, p. 49). Já o guia Lisboa, Cascais, Estoril, Sintra: novo livro turístico (2016) considera Cascais «uma das mais bonitas e elegantes estâncias de férias de Portugal. Está rodeada por pequenas praias de sonho decoradas de palacetes aristocráticos, marinas de luxo, ruas e pequenas praças com algumas esplanadas e restaurantes, museus de grandes artistas quase tudo à volta da típica Praia dos Pescadores e da Cidadela de Cascais» (Silva, 2016, p. 90). Em

Lisboa wait for me: Mafra, Sintra, Cascais: guia turístico (2017), Cascais

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a ondulação da serra, pontuada por palacetes» (Fonseca, Rodrigues & Fonseca, 2017, p. 150). Entre os principais pontos de interesse indicados pelos guias turísticos consultados, identificam-se o Farol Museu de Santa Marta, a Casa das Histórias Paula Rego e a Boca do Inferno, sem esquecer as afamadas praias da região.

Ao consultar os dados mais recentes disponibilizados pela PORDATA, referentes ao ano de 2018, existe um parâmetro em que Cascais se destaca a nível nacional. O município surge na terceira posição, apenas superado por Lisboa e Monforte, nos proveitos de aposento por capacidade de alojamento (Figura 3), o que significa que Cascais consegue garantir um aproveitamento económico notável das infraestruturas de alojamento à sua disposição. Reúne um total de 82 alojamentos turísticos (12º a nível nacional), 3791 quartos (10º) e 8576 camas (10º), arrecadando 98 708 euros em receitas (7º). Vale a pena igualmente sublinhar que Cascais é o oitavo município português no que concerne ao volume de dormidas (1 564 139) e de hóspedes (553 723), também em 2018. Por outro lado, apresenta uma reduzida proporção de dormidas nos alojamentos turísticos entre os meses de Julho e Setembro (167º colocado em 293 municípios considerados), indicador que atesta uma menor dependência da sazonalidade por comparação com outros municípios.

De forma a acompanhar a tendência de crescimento verificada, a capacidade de alojamento encontra-se prestes a ser reforçada, segundo as palavras de Miguel Pinto Luz, vice-presidente da Câmara Municipal de Cascais, e responsável pela área do Turismo e Desenvolvimento Económico do município. Em entrevista à

Publituris, dá conta de um aumento na ordem das 1200/1300 camas nos

Figura 3 – Proveitos de aposento por capacidade de alojamento: total e por tipo de

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próximos dois a três anos, números substanciais que representam 15% da actual oferta disponível.

Sobre o actual momento do turismo no concelho, Miguel Pinto Luz explica o seguinte:

Cascais tem estado em linha com o país, com a diferença de que há uns anos o país caiu e Cascais não. Esteve sempre a crescer. Depois, quando o país recuperou, Cascais também continuou a sua tendência de crescimento. Este destino tem um crescimento que pode ser avaliado de duas formas: através do aumento de camas disponíveis. Nessa matéria, temos vindo a inaugurar hotéis sucessivamente e temos cinco hotéis em fase de licenciamento, todos cinco estrelas para os próximos anos. Ou seja, continuamos com esse posicionamento ‘premium’ de quatro e cinco estrelas, 85% da nossa oferta hoteleira está concentrada nessas classificações (Monteiro, 2019).

No entanto, qualquer crescimento no sector do turismo acarreta novos desafios no que diz respeito à sustentabilidade, desafios esses que estão a ser considerados pelas entidades municipais:

A nossa prioridade é fazer de Cascais o sítio ideal para viver. O Turismo é uma externalidade positiva. Um exemplo cabal em que o nosso posicionamento foi completamente diferente do de Lisboa foram os tuk tuks. Não se vê um tuk tuk em Cascais, porque proibimos. Lisboa não tem nada a ver com tuk tuks e penso que não adiciona nada à qualidade do destino. Não temos pressão nenhuma, temos é uma visão estratégica muito clara e não fugimos a essa visão estratégica. Essa visão consiste em manter o carácter genuíno desta terra e das nossas gentes e uma capacidade de saber receber bem acima da média. Depois, a estratégia é termos tudo bem cuidado, bem arranjado para saber receber, mas genuínos, não é com artificialismos que não são portugueses que iremos construir um potencial de crescimento de futuros visitantes. Os turistas procuram hoje a experiência e o carácter genuíno dos destinos. Lutamos todos os dias com os nossos hotéis e restaurantes, com os serviços da câmara e com os cascalenses para ter um carácter autêntico.

(Entrevista completa disponível em: https://www.publituris.pt/2019/10/01/e-tudo- barato-em-portugal-temos-de-deixar-de-ser-o-pais-do-baratinho-e-ser-o-pais- da-qualidade/ [Consultado a 18 Out. 2019]).

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