• Nenhum resultado encontrado

Capítulo 3 – Avaliação em larga escala ao final do 1º ciclo de alfabetização e suas relações

3.2 Breve retrospecto sobre as avaliações externas no Brasil

As primeiras tentativas de aferir dados sobre a educação têm assentamentos no início do século XX por meio do Anuário Estatístico do Brasil (AEB). Neste documento apresentavam- se informações sobre níveis de ensino, número de escolas, trabalhadores docentes, levantamento de matrículas e repetências. As informações eram coletadas na capital do Brasil que na época era o Rio de Janeiro, pela Diretoria Geral de Estatística do Ministério da Agricultura, Indústria e Comércio. Foram publicados três volumes de 1908 a 1912.

Após um longo tempo de interrupção, as informações voltaram a ser divulgadas em 1936 pelo Instituo Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) que passou a apresentar de forma mais ampla, informações de natureza estatística (demográfica, social e econômica), geográfica, cartográfica, geodésica e ambiental (AEB; IBGE, 2015, p. 8). Nota-se a multidimensão de áreas que foram incorporadas neste instrumento de coleta de dados, não sendo mais somente para fins educacionais na atualidade.

Retornando aos anos de 1930, percebe-se no contexto político, econômico e social do Brasil, durante o regime de governo do então presidente Getúlio Vargas, o investimento do Estado no ensino secundarista. Esta modalidade, voltada às camadas populares da sociedade, deveria servir como formação de mão de obra para as indústrias que se estabeleciam no país. Porém, no Brasil não havia instituições educacionais nem políticas de orientações curriculares para a formação desses profissionais. Somente em 1926 a grade curricular do curso técnico- comercial ampliou-se para mais um ano de estudos e acrescentou em sua estrutura quatro anos de duração. (Werle, 2011: 2). Para corroborar com a autora citada, apontamos o Programa de Expansão da Educação Profissional, elaborado pelo Ministério da Educação, que menciona no capítulo três a trajetória histórica da educação profissional no Brasil, dando ênfase à Reforma Francisco Campos e aos Decretos Federais n.º 19.890/1931 e 21.241/1932 que:

(...) regulamentaram a organização do ensino secundário, bem como o Decreto Federal nº 20.158/31, que organizou o ensino profissional comercial e regulamentou a profissão de contador. A importância deste último deve-se ao fato de ser o primeiro instrumento legal a estruturar cursos já incluindo a ideia de itinerários de profissionalização. (Brasil, 2001).

O ensino superior ainda estava muito distante da massa social que movimentava a economia brasileira. E para as necessidades da época valia mais uma formação secundária em

54

nível técnico do que uma formação em nível superior. Ressalta-se ainda que, no período político da era Vargas, denominado Estado Novo houve uma desvinculação de competências ministeriais que aglutinavam em uma mesma pasta, saúde pública e educação. Foi nesta vigência que ocorreu a consolidação do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP) que de acordo com o Decreto nº 580 de 30 de julho de 1938 determinava as seguintes atribuições ao INEP:

Art. 2º - a) Organizar documentação relativa à história e ao estudo atual das doutrinas e das técnicas pedagógicas, bem como das diferentes espécies de instituições educativas; b) manter intercâmbio, em matéria de pedagogia, com as instituições educacionais do país e do estrangeiro; c) promover inquéritos e pesquisas sobre todos os problemas atinentes à organização do ensino, bem como sobre os vários métodos e processos pedagógicos; d) promover investigações no terreno da psicologia aplicada à educação, bem como relativamente ao problema da orientação e seleção profissional; e) prestar assistência técnica aos serviços estaduais, municipais e particulares de educação, ministrando-os, mediante consulta ou, independentemente dessa, esclarecimentos e soluções sobre os problemas pedagógicos; f) divulgar, pelos diferentes processos de difusão, os conhecimentos relativos à teoria e à prática pedagógicas. (INEP, 1938)

O artigo supracitado reunia as competências atribuídas ao Instituto recém-criado. Mas a incorporação das necessidades de pesquisas sobre os problemas de ensino em seus diferentes aspectos somente foi consolidada pelo Decreto 71.407 de 20 de novembro de 1972. Note-se que na organização legal das atribuições havia ainda a forte influência da área da saúde conforme explicitado na alínea “d” voltadas à psicologia escolar. De acordo com Castro (1999), Horta Neto (2007) e Saviani (2012), o Instituto teve trabalhos de pesquisas envolvendo o corpo escolar, desde a atenção ao educando até a seleção e orientação profissional, por nível de governo.

O INEP fomentava, organizava e disseminava as informações obtidas pelas pesquisas educacionais nos âmbitos da saúde e organização documental técnica. Consideramos relevante neste momento apresentar de modo sucinto algumas mudanças ocorridas nesta instituição que ao longo de seu trajeto deixou de ser um “órgão de realização e fomento à pesquisa educacional, de organização da documentação sobre educação e de disseminação das informações educacionais (...) para se converter num órgão de avaliação da educação brasileira em todos os seus níveis e modalidades” (Saviani, 2012: 297). Os resultados por ele obtidos são referências

55

para estudos e pesquisas educacionais que contribuem para elaboração e aplicação de políticas públicas voltadas para a melhoria da qualidade educativa no país.

Quadro 3 – Marco legal de criação e evolução do INEP

Ano Marco legal Atribuições

1937 Lei nº 378

Surge o Instituto Nacional de Pedagogia como órgão de pesquisa, cumulativo com funções administrativas da Diretoria Nacional de Educação.

1938 Decreto-Lei nº 580

Criação do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (Inep), com ênfase em pesquisas sobre os problemas do ensino, nos seus diferentes aspectos.

1972 Decreto nº 71.407

Alteração de nomenclatura para Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais. Mantem-se a sigla Inep.

1996

Emenda Constitucional nº 14

e LDB 9.394

Novo papel a ser desempenhado pelo Inep, como órgão responsável pelo desenvolvimento de sistemas nacionais de avaliação e da produção das estatísticas e subsídio de políticas educacionais.

1997 Lei nº 9.448

Conversão do Inep em autarquia federal ligado ao Ministério da Educação e do Desporto e redefinição de suas finalidades.

Fonte: Saviani, (2012, adaptação própria)

O destaque dado ao INEP neste momento deve-se à sua grande importância como “centro especializado em avaliação e informação educacional, de modo a subsidiar a formulação das políticas educacionais e apoiar o desenvolvimento da educação nacional”. (Castro, 1999: 3). A partir da Lei 9.488/97, fica claro o perfil e as funções desta autarquia em prol da educação devendo ter nas informações colhidas, elementos para melhorar a qualidade de ensino nas esferas federal, estaduais e municipais. Nota-se que o Instituto em tela caminhou ao longo dos tempos buscando dar suporte às demandas políticas, econômicas e sociais preocupando-se com pesquisas sobre a qualidade da educação brasileira em seus diversos níveis e esferas.