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BREVE VISÃO HISTÓRICA DA FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA 31

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2   PATERNIDADE SOCIOAFETIVA 31

2.2 BREVE VISÃO HISTÓRICA DA FILIAÇÃO SOCIOAFETIVA 31

Ao contrário do que se pode pensar, a filiação socioafetiva já gozava de amparo legal, mesmo nos tempos mais remotos da história mundial, o que serve ao intuito de demonstrar que

                                                                                                                         

43 FUJITA, Jorge Shiguemitsu. Filiação. São Paulo: Editora Atlas, 2011, p. 79/80. 44 MAIA, Renato. Filiação Paternal e seus efeitos. São Paulo: SRS Editora, 2008, p. 107

o desejo do ser humano de obter a guarda de criança, com as quais não possui vinculo sanguíneo e cria-las como se fossem seus próprios filhos, é antigo e se faz presente desde os primórdios da humanidade.

De início, cabe fazer menção ao renomado Código de Hamurabi, vigente no período babilônico. Os artigos 185 e 195 do dispositivo legal, tratavam do tema, ao mesmo tempo em que impunham, através do viés formal, que se um indivíduo entendesse por bem atribuir seu nome a uma criança e a criasse como filha, a criança não poderia mais ser reclamada. 45

É intrigante o fato de que diversas culturas e religiões, ao longo da história da humanidade, compartilharam do anseio de manter sob guarda e domínio, crianças com as quais inexistia liame biológico ou sanguíneo, fazendo-se presente apenas o vínculo afetivo.

Como exemplo, no livro sagrado dos judeus, esbarra-se no caso do famoso Moisés, no qual relata-se que a filha do Faraó se deparou, coincidentemente, com descendente de hebreus, desprotegido, inserido no interior de um cesto, a navegar sobre um rio. A moça, então, movida por compaixão, teria se incumbido da criação do garoto por ela encontrado, acabando por cria- lo como se seu filho fosse. 46

Até mesmo na religião Cristã, em seu período histórico mais longínquo, a filiação socioafetiva manifestou-se ativa, dado que pelo Novo Testamento da Bíblia, livro sagrado dos cristãos, desprende-se que o filho de Deus, Jesus Cristo, fora concebido pelo Espirito Santo, tendo José recebido o recém-nascido, como se seu filho fosse. 47

É de bom grado, outrossim, mencionar a influência que a filiação socioafetiva exercia sobre a renomada civilização romana, a tal ponto que a doutrina enfatizava a posição dominante que, muitas vezes, o filho adotivo desfrutava em detrimento do filho consanguíneo. Nesta senda, a respeito do tema, elucida Jorge Shiguemitsu Fujita que:

Durante um longo período desde o antigo Direito Romano, o culto doméstico era transmitido, de geração a geração, sempre na linha masculina, do pater famílias a seu filho, assim considerado apenas aquele apresentado pelo pater famílias diante do altar destinado ao culto. Desse modo, a filiação não tinha como base a consanguinidade, haja visto a necessidade da cerimônia religiosa de apresentação ao altar do filho varão recém-nascido, pata torná-lo um agnado e seu sucessor no culto aos deuses do lar. Tanto é verdade que o filho

                                                                                                                         

45 LIMA, Henrique. Paternidade Socioafetiva: Direitos dos filhos de criação. 2. ed. Campo Grande: Editora

Life, 2014, p. 3, cap. 5.

46 Ibid. 47 Ibid.

adotivo, se apresentado, pelo pater familias ao culto doméstico, era considerado um verdadeiro filho. 48

Neste sentido, de forma a ilustrar a posição desprivilegiada pela qual era submetida a filiação consanguínea, em razão dos costumes religiosos que imperavam na sociedade romana à época, Caio Mário da Silva Pereira entende por bem esclarecer que:

A filiação não assentava na consanguinidade, uma vez que a generatio era insuficiente, desacompanhada do cerimonial religioso, para fazer do recém- nascido um agnado. Por outro lado, o filho adotivo, ainda que não compartilhasse do mesmo sangue, era verdadeiro filho, porque introduzido no culto ancestral. 49

No entanto, no que diz respeito a Idade Média, pouco se tem a dizer com relação à incidência da filiação socioafetiva. No tocante a este período histórico, o doutrinador Henrique Lima disserta que a prática da adoção consistia em prática pouco utilizada, dado que se fazia presente a preponderância da Igreja Católica à época e frente ao fato, desenvolveram-se questões impeditivas da disseminação do instituto da adoção. Dentre estas questões com natureza impeditiva, o autor cita a prevalência da família cristã tradicional, cujo intuito preponderante revela-se como sendo o de procriação, bem como faz observações a respeito, que acabam por concluir que a popularização da adoção só tenderia a diminuir as doações pós- morte feitas pelos ricos em favor da Igreja, uma vez que estes teriam descendentes afetivos para dispor de seu patrimônio após a morte. 50

Nota-se, pois, que a consolidação dos valores tradicionais cristãos no cerne de uma sociedade, atrelada ao fato de que práticas como a adoção se mostravam totalmente contrárias aos interesses econômicos da Instituição Católica, constituiu-se como fator determinante a obstar a ocorrência rotineira da adoção durante a Idade Média.

Por outro lado, pode-se afirmar que no que diz respeito aos dias atuais, “a pós modernidade traz a marca da maior sensibilidade e afetividade na relação paterno-materno- filial, a ponto de podermos, na atualidade, falar do afeto não mais como valor ético, mas também como valor ou princípio jurídico”. 51

                                                                                                                         

48 FUJITA, Jorge Shiguemitsu. Filiação. São Paulo: Editora Atlas, 2011, p. 13.    

49 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Reconhecimento de paternidade e seus efeitos. Revista, atualizada e ampliada

por Heloisa Helena Barboza e Lucia Maria Teixeira Ferreira. 7. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2015, p. 22.

50 LIMA, Henrique. Paternidade Socioafetiva: direitos dos filhos de criação. 2. ed. Campo Grande: Editora Life,

2014, p. 4 de 24, cap.5.

No documento DIANA TANCETTI...pdf (682.7Kb) (páginas 32-35)