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Breves apontamentos acerca do Design de Superfície

A expressão design de superfície foi inicialmente utilizada apenas para denotar o segmento têxtil. A compreensão atual do termo, num âmbito geral, é referente a uma ação projetual direcionada à criação de texturas, ilustrações, grafismos e inúmeras composições visuais para a aplicação em diferentes tipos de superfícies, tanto bidimensionais quanto tridimensionais. No entanto, o design de superfície vai além, podendo ter a função de tratamento, revestimentos e construção do próprio objeto (PEREIRA, RUTHSCHILLING, SILVA, 2010). Ainda, atribui características perceptivas expressivas às superfícies dos objetos por meio de texturas visuais, táteis e relevos, com o objetivo de reforçar ou minimizar as interações sensório-cognitivas entre o objeto e o sujeito (SCHWARTZ, 2008).

Este caráter cognitivo da relação usuário-produto, ou melhor, superfície-sujeito, por meio de sua troca de significados, configura o design de superfície em um elemento de comunicação do objeto. Nesse sentido, é importante ressaltar que os significados simbólicos denotados aos objetos dependem da identificação, por parte do designer, do contexto sociocultural, das necessidades, requisitos e oportunidades de mercado, para a elaboração de um artefato que estimule a percepção da superfície dos objetos pelo sujeito, instigando o desejo e identificação com o produto.

No desenho de superfícies, a percepção geral do objeto, significados e requisitos são expressos principalmente por propriedades óticas e táteis. Óticas referindo-se a representação de formas bidimensionais, conferindo ao produto um forte apelo estético e simbólico, e táteis às configurações tridimensionais, a qual conferem ao usuário uma sensação ao interagir com o produto.

A configuração da superfície tornou-se [...] muito relevante. Já que a aparência é percebida por meio das características diretamente observáveis pelos sentidos e interpretáveis a nível pessoal, é crucial enfatizarmos tanto os aspectos sensitivos inerentes quanto os cognitivos possíveis – além dos psicológicos e antropológicos existentes – na interação do sujeito com o objeto através da sua superfície. Tais aspectos podem condicionar a percepção do sujeito sobre um produto bem como as questões emocionais inerentes, influindo na mais valia e na aquisição ou não do mesmo [...], pois os elementos percebidos pelos sentidos, além de agregarem valor estético, definem e qualificam um artefato [...] (SCHWARTZ, 2008, p. 36).

Deste modo, o design de superfície tem como função tratar, explorar e ressaltar a interface comunicativa dos objetos, unindo características funcionais e estéticas que se apresentam também em outras especialidades, como defende Freitas (2011). A partir de uma abordagem processual, a exploração da superfície como fonte comunicacional do produto, dá- se de maneira metodológica. Assim como qualquer outro projeto de design, percorre diversos caminhos e estudos até a concepção final do objeto, valendo-se de várias técnicas de elaboração de módulos além da percepção e conhecimento acerca dos materiais a serem trabalhados.

Trabalhar a superfície dos produtos é um meio de diferenciação, essencial para o design nos dias de hoje. Assim, planejar, desenhar e projetar uma superfície, de um móvel, por exemplo, é provocar os sentidos e a interação superfície-sujeito, agregando valor aos produtos do setor moveleiro, por meio de um recurso comumente utilizado no segmento têxtil. Contudo, desenvolver o design de uma superfície requer um pensamento projetivo, valendo- se de técnicas de expressão. Assim, para melhor entendimento acerca da etapa de criação de uma superfície, no tópico a seguir serão abordadas algumas especificidades como técnicas de elaboração de desenhos de superfícies e o design de superfície na composição do mobiliário.

Técnicas de expressão de superfícies e sua composição no mobiliário

O design de superfícies pode ser elaborado e representado das mais diversas formas, em diferentes materiais e em qualquer tipo de produto. No entanto, para que haja uma boa solução projetual, que atenda as exigências do cliente/usuário, é necessária uma concepção criativa dos elementos visuais e arranjo sobre o fundo. De maneira geral, a característica principal da composição visual do design de superfície é a “propagação do módulo, ou

equivalente, conferindo qualidades por toda amplitude as superfície, dentro dos princípios de ritmo e de unidade e de variedade” (RÜTHSCHILLING, 2008, p.61).

Logo, as superfícies podem ser compostas por figuras ou motivos, elementos de preenchimento e elementos de ritmo. Os primeiros referem-se ao conjunto de formas não interrompidas invocando tensão e alternância visual entre figura e fundo, sendo o tema apresentado na composição repetido muitas vezes, com variações de tamanho, posição e até pequenas alterações formais, por exemplo uma estampa floral. Já os elementos de preenchimento, remetem as texturas, ou seja, que preenchem planos e/ou camadas, responsáveis pela ligação visual e tátil dos elementos. E por fim, elementos de ritmo, a qual a estrutura formal é composta pela repetição de seus elementos de ritmo gerando uma ligação gráfico-visual. A harmonia da composição causada por meio da combinação da cor e posição dos elementos no espaço, conferem à superfície um sentido de continuidade (RÜTHSCHILLING, 2008).

Para o desenvolvimento criativo de superfícies, toma-se como recursos construtivos as noções de módulo e repetição, encaixes e sistemas de repetição. Segundo Freitas apud Schwartz (2008), o módulo detém em sua constituição genuína a carga informacional mínima do conteúdo expressivo (motivos) e também detém em si os limites geométricos, a dimensão, a organização e a estrutura em relação à superfície.

A construção da composição de elementos do módulo dá-se em duas etapas: a primeira onde é feita a composição visual dos motivos trabalhados dentro do módulo, na qual geralmente é retangular ou quadrado, e segunda na qual depende da “articulação entre os módulos, gerando o padrão, de acordo com a estrutura preestabelecida de repetição, ou

Rapport” (RÜTHSCHILLING, 2008, p.64). Atualmente, para o desenvolvimento e criação de

superfícies, é necessário o auxílio de programas/softwares, devido ao tempo gasto para a execução, bem como pela possiblidade de executar funções rapidamente, podendo-se visualizar as ideias no ato, além de facilitar o processo de modulação e repetição comumente usados no processo criativo.

O uso dessas técnicas de expressão das superfícies requer também estudo acerca do conceito, da função e, principalmente, do material a ser trabalhado, seja tecido, cerâmica, plástico, madeira, dentre outros, pois a combinação material e constituição formal do desenho da superfície, influem diretamente na estética do produto. O design de superfície no âmbito do setor mobiliário é explorado a partir das texturas presentes nos revestimentos melamínicos e laminados de madeira, como também no uso de estampas dos acabamentos têxteis de sofás, poltronas e cadeiras, por exemplo.

Pode-se perceber essa retomada do uso do design de superfície em móveis no Salone

Internazionale del Mobile 2012, em Milão, onde a crise europeia levou as empresas

investirem na reedição de produtos, mas com novos acabamentos. Desta forma, o uso de texturas, prints, o efeito matelassê, o design minimalista e o uso aparente dos veios da madeira, nos quais o relevo e o brilho acentuam a textura, tornou-se corrente. Em âmbito nacional, a aplicação do design de superfície no mobiliário, podemos destacar diversos produtos como exemplos: na área têxtil, aplicada em móveis, os tecidos que revestem as cadeiras assinadas pelo conceituado arquiteto Paulo Mendes da Rocha, em que uma única estrutura pode ser coberta por diferentes estampas.

Já em outro segmento, o tratamento de superfície de móveis dá-se a partir do uso da tecnologia de gravação a laser e a impressão em vidro, na qual permite aplicar desenhos e texturas em padrões variados sendo aplicados em frentes do mobiliário ou em painéis de parede e divisórias. A gravação é baseada na remoção da superfície do material através do

contato com o feixe de laser entalhando a figura na peça de forma definitiva, tendo variações de tons devido à intensidade aplicada.

Ante o exposto, pode-se notar que o design de móveis brasileiro explora o uso de cores, formas, materiais e texturas de maneira criativa, sendo imensamente valorizado no mercado tanto interno, quanto externo. Logo, o desenvolvimento de superfícies para aplicação em móveis, é um meio na qual pode-se agregar valor e conceito ao produto. Aliar a pesquisa de tendências, com as novas tecnologias e o estudo de técnicas do passado, como a marchetaria, torna-se um recurso a ser explorado como elemento compositivo e de diferenciação do mobiliário no mercado.